Gravidez e parto ?Made in USA?

Por Gazeta Admininstrator

De acordo com dados do Instituto Nacional de Latinas para a Saúde Reprodutiva, sediado em Washington DC, uma em cada quatro mulheres latinas não recebe cuidado pré-natal durante o primeiro trimestre de gravidez. Um dos principais motivos, de acordo com a entidade, está relacionado à falta de acesso à rede de saúde, seja ela pública ou privada. Os números do instituto indicam que 42% das mulheres latinas não têm seguro-saúde.Para aquelas que conseguem ter acesso a atendimento médico, a dificuldade é outra. De acordo com estudo realizado pelo mesmo Instituto, boa parte das latinas que receberam atendimento especializado nos Estados Unidos mostrou-se insatisfeita com o atendimento. Somente 47,4%, de acordo com a pesquisa, disseram que a equipe médica “fez esforços para atender às suas necessidades”.Para as mulheres brasileiras, em particular, uma das maiores reclamações está ligada à falta de calor humano dos médicos, e à falta de tempo dos profissionais de saúde em geral, para oferecer as orientações necessárias e tirar dúvidas. Essa é uma das principais diferenças “culturais” enfrentadas pelas brasileiras que engravidam aqui nos Estados Unidos.

Mães brasileiras vivem experiência de ter filhos nos EUA

Andréia Simonson tem 34 anos e está grávida do segundo filho. Quando Amanda nasceu, Andréia estava nos EUA havia cinco anos. Embora já bastante familiarizada com os hábitos locais, ela conta ter ficado surpresa com a forma de atendimento por aqui. “Médico americano é muito diferente do brasileiro, brasileiro gasta tempo com você. Aqui o tempo é dinheiro. Cinco minutos é o máximo que se leva no consultório, e tchau”, ilustra a futura mamãe de Nicholas, que deve nascer em 15 de março.
Ela reconhece que o “jeito americano” de fazer medicina não lhe causou nenhum problema, mas diz que sentiu-se carente emocionalmente. “pelo o que a gente sabe como é no Brasil, a gente sente carência de um atendimento mais humano. Aqui, na hora que se ganha neném a enfermeira dá todo apoio que precisamos, mas o médico só chega na hora que criança está nascendo, quando cabeça está saindo”, relata Andréia.
Maria da Conceição Rocha conta que sempre teve muito receio de engravidar nos Estados Unidos. Engravidou em novembro de 2004. Foi quando começou a maratona para encontrar um médico que a acompanhasse durante o pré-natal e o parto. “Uma coisa é certa. Para quem está acostumado aos médicos brasileiros , que conversam, explicam, e se tornam às vezes seu grande amigo, é bem difícil lidar com os médicos americanos”, comenta Maria da Conceição.
Mas uma das grandes preocupações da mamãe de Giovanna, agora com cinco meses, era o momento do parto. “Sempre deixei claro que não queria sofrer e se precisasse de uma cesariana, que gostaria de ter a certeza de que ele faria”, explica. Apesar disso, Maria da Conceição acabou tendo que esperar muito até que a cesariana fosse decidida. “Acabei tendo problemas de pressão alta no último mês.
Por esse motivo, ele antecipou o meu parto com indução através de medicamentos. Conversando com o meu médico brasileiro, tomei conhecimento de que detectada a pressão alta o parto cesárea é logo indicado. Mas aqui, o meu médico ainda tentou o parto natural com a inducão, mas depois de algumas horas , optou pela cesariana o que me deixou mais segura”, conta.Estudo recente divulgado pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) indica que as cesarianas praticadas por planos de saúde no Brasil correspondem a 79,7% do total de partos. Já no Sistema Único de Saúde (SUS), que gerencia os hospitais públicos, a média de cesáreas é de 40%.
Nos Estados Unidos, os números mais recentes são de 2002 e apontam para uma taxa recorde de 26,1% de cesáreas. O obstetra e ginecologista Mark Scheinberg diz que a resistência dos médicos americanos em fazer cesáreas está relacionada à etica profissional.
“É uma questão de ética. Cirurgias são perigosas, pessoas morrem durante cirurgias, e eticamente não se assume riscos desnecessários”, explica Scheinberg acrescentando, em geral, só optar por cesáreas em casos de risco para o bebê durante o parto ou gravidez, como por exemplo, no caso de bebês muito grandes, que inviabilizem ou tornem arriscado o parto natural.
Grávida de primeira viagem, Aline Raydan Ribeiro concorda que falta calor humano aos médicos nos Estados Unidos, mas diz ter tido muita sorte na escolha do profissional que a está acompanhando na gravidez que agora está no sétimo mês.” Acho que a gente coloca essa dificulade, mas na prática não faz diferença. O importante é ele tirar as suas dúvidas, esclarecer você, porque a grávida em si é uma chata. Oh coisa complicada a mulher grávida”, brinca.
A sensibilidade emocional no período de gravidez, a que se refere Aline é mais do que natural, explica Scheinberg. Medos e inseguranças são típicos do período de gravidez, explica, e a mulher deve encarar isso com normalidade. “A mulher precisa pensar: - O que estou fazendo? Estou reagindo normalmente aos meus medos. Toda mulher sente-se insegura, pergunta-se se será ou não uma boa mãe”, esclarece.Casado com a enfermeira brasileira Eunice Sins Scheinberg, ele tem boa parte de sua clientela formada por mulheres brasileiras e diz jamais ter visto uma brasileira que não seja boa mãe.”Brasileiras são naturalmente mães, mas o fato é que se a mulher quer ser boa mãe, ela será”, diz Scheinberg, que atribui tal característica das mães brasileiras a um fator cultural, relacionado ao tipo de formação familiar e aos fortes laços de estrutura familiar típicos do Brasil.

O preço da gravidez

Custear o acompanhamento pré-natal e o parto nos Estados Unidos não é muito simples, e torna-se quase impossível para quem não domina o idioma nem tem um plano de saúde.
No caso do parto, a prática nos hospitais públicos é de, em caso de urgência, prestar o atendimento à paciente e depois cobrar pelos gastos.
Na maioria das vezes, no entanto, os valores são exorbitantes, embora possam ser parcelados, de acordo com as condições financeiras da paciente. Deixar para calcular o valor da conta depois do parto, no entanto, pode ser um péssimo negócio.
No West Boca Hospital, por exemplo, caso a paciente efetue o pagamento antes de receber alta, o valor cobrado é de $1.850.
Depois da alta, se a paciente quiser parcelar o pagamento, o valor sobe para $ 7 mil. No North West Medical Center o valor cobrado por um parto normal, com pagamento antecipado é $3,5 mil. Depois do parto sobe também para $ 7 mil.
A experiência mostra que, a diferença de valores deve-se, entre outros fatores, ao temor das administrações dos hospitais de que, particularmente estrangeiras, possam literalmente voltar para a casa (seu país de origem) com o bebê e nunca mais pagar a conta.

Surpresa e planejamento

Grávida de 3 meses do primeiro filho, a advogada brasileira Patrícia Brown está nos EUA há quatro meses. A gravidez não foi planejada e ela e o marido, que é paralegal e trabalha como autônomo, levaram um susto ao receber a notícia. Susto maior levaram ao saber quanto teriam que gastar para cobrir os custos de acompanhamento pré-natal e parto. “Entramos em pânico tentando encontrar atendimento particular. Um médico nos cobrou $3,2 mil para o pré-natal e parto. Ligamos para hospitais para saber o custo da internação e nos cobraram entre $2,5 mil e $3 mil, sem contar exames laboratoriais”, lembra Patrícia.
A primeira consulta, quando foi realizado o ultrasom, conta Patrícia, custou $450. Depois disso, mais uma surpresa. “Eles começaram a falar inglês, a enfermeira veio tirar o meu sangue e eu não sabia se eles iam analisar o sangue lá ou mandar para o consultório. Paguei a consulta e fui embora. Na segunda consulta, eu já tinha o cartão do meu plano, mas o médico disse que eu teria que pagar o exame de sangue e que o laboratório mandaria a conta para minha casa, e que deveria ficar em $2 mil”, conta Patrícia assustada, ainda aguardando a conta do laboratório.
Andréia Simonson, que já estava planejando a gravidez e tem plano de saúde há três anos, dá um conselho a quem pensa em ser mãe nos EUA. “Faça um plano, se sacrifique um pouco. A gente gasta muito dinheiro à toa. Junte, porque a melhor coisa que tem é ter um plano para ser acompanhada pelo mesmo médico do iníco ao final. A gente se sente mais segura”, diz Adréia.
Gilda Martins, também mãe pela primeira vez, aos 39 anos considera ter tido sorte. No sétimo mês e meio de gravidez ela gastou até agora apenas $70 com a primeira consulta particular. Orientada por amigas, ela procurou o Pompano Prenatal Care Center, em Pompano Beach, uma unidade do Imperial Point Medical Center. Lá, confirmada a gravidez, Gilda foi entrevistada por uma assistente social e, diante da informação de que é legalmente solteira e recebe mensalmente entre $700 e $800 por mês como faxineira, recebeu imediatamente documento assegurando 45 dias de Medicaid, programa público para pessoas que não têm condições financeiras para custear assistência médica. “Já saí dali podendo marcar o médico que quisesse, além de frascos com 90 cápsulas de vitaminas para o pré-natal e livros de orientação sobre gravidez”, conta.
Além disso, Gilda foi orientada a inscrever-se em um plano de assistência alimentícia que dá direito a três cupons mensais que podem ser trocados por 5,5 litros de leite, queijo, ovos, sucos, manteiga de amendoim e cereais, equivalentes a algo em torno de $40 por cupon. “Quando o bebê nascer passo a receber no lugar disso cupons para alimentação do bebê”, explica a brasileira.
Segundo Gilda, o único comprovante solicitado a ela foi uma carta da empregadora confirmando que ela trabalha como faxineira e informando sua remuneração. Antes de encerrados os 45 dias de Medicaid ela recebeu uma ligação da assistência social do hospital orientando que se inscrevesse no Financial Support, plano de saúde financiado com recursos públicos que assegura a continuidade do pré-natal e a realização do parto. “Recebi assistência 100% que cobre desde consultas e exames durante o pré-natal até o parto”, conta Gilda, que considera a qualidade do atendimento excelente. “Até o sétimo mês fui atendida pela mesma médica, com uma consulta mensal. Agora fui encaminhada para outro médico”.
Por ter 39 anos e sofrer de endometriose, a gravidez de Gilda é considerada de risco. Ela foi encaminhada a um médico especializado em genética e orientada a fazer uma bateria de exames para assegurar que não haveria riscos para ela e o bebê.
A unidade de Pompano Beach dispõe de equipe de profissionais que falam espanhol e é uma das mais procuradas pelas brasileiras. “Eles oferecem até aulas sobre amamentação e uma das enfermeiras que dá as palestras é brasileira”, conta.
Gilda diz não ter encontrado nenhuma dificuldade pelo fato de ser imigrante. “Não é porque sou imigrante que não posso ser atendida. Sim, posso porque o meu filho será um cidadão americano e negar assistência à mãe seria deixar de dar assistência a um futuro cidadão americano”, conclui a brasileira.