Grupo de brasileiros se une a voluntários levando ajuda às vítimas de Sandy

Por Marisa Arruda Barbosa

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A proporção da supertempestade Sandy foi inesperada para residentes de Nova York, New Jersey e pelo menos oito outros estados na costa leste americana, que além de não terem o mesmo preparo, não pensaram que seria tão grave. Foi assim que a brasileira Flávia Cardoso, que vive em Rockway Beach, NY, pensou. Mas ela passou por uma experiência que não quer passar nunca mais.

Passada a tempestade, a lição mais surpreendente que vítimas estão tendo é o espírito solidário de voluntários, enquanto a ajuda do governo ainda encontra obstáculos para chegar às pessoas.

“Eu fui a um centro de voluntários formado pedindo ajuda para limpar o porão de minha casa que inundou”, contou Flávia. “Depois disso, chegaram quatro meninas, que fizeram um trabalho de ‘peão’ por horas. Elas terminaram tudo, me deram um abraço e disseram simplesmente: ‘boa sorte’, e que iam fazer o mesmo em outras casas no dia seguinte”. Fazendo parte dos grupos de voluntários está Sandra Mendes, que vive em Massachusetts. Ela se uniu a um grupo de 46 voluntários do Adventist Community Services (ACS), ligado à Igreja Adventista de Língua Portuguesa de Lancaster, em Massachusetts, e fez um mutirão, no dia 11, limpando casas e ruas na mesma região em que vive Flávia.

“É muito trabalho. Limpamos quatro casas e uma avenida em um dia. É tanta destruição que não dá para se ter ideia do sofrimento das pessoas somente pela TV”, relata Sandra. “Tinha gente cozinhando para quem não tem energia, nós limpamos casas e chegamos com um monte de material de limpeza para tentar acabar com o cheiro de maresia”. O grupo do ACS consegue os materiais através de doações e planejam repetir a dose no final de semana do dia 17.

Cenário de destruição Há mais de duas semanas, quando aconteceu, no dia 29 de outubro, a tempestade Sandy deixou um rastro de destruição que, no seu auge, manteve 8.5 milhões sem energia elétrica em dez estados. No último final de semana, quase 60 mil casas permaneciam sem eletricidade em Nova York e New Jersey, a maioria na região de Long Island. Segundo o governador de Nova York, a perda econômica já está calculada em $30 bilhões de dólares, valor que solicitou ao governo federal.

“Parece que você chega a outro mundo, um cenário de guerra, com soldados do exército de um lado, policiais do outro, comércio fechado”, relata Sandra.

A brasileira conta que os residentes da região ficam surpresos com os grupos de voluntários que chegam, como o grupo de brasileiros do ACS, que viajou quatro horas, para um dia inteiro de trabalho e depois voltou de madrugada para casa. “Eles ficam chocados, pois estão esperando do governo algo que os voluntários estão fazendo primeiro”. Isso porque, segundo Sandra, os órgãos governamentais ainda enfrentam dificuldades em chegar às pessoas que, por sua vez, estão sem locomoção, uma vez que pelo menos 300 mil perderam seus carros, que continuam empilhados.

New Jersey pediu a ajuda de um time emergencial da Flórida, através do Emergency Management Assistance Compact (EMAC). A Flórida está enviando um time de 27 oficiais que irão trabalhar junto a autoridades locais em situação emergencial.

Uma noite de pesadelo Diante das previsões de Sandy na noite do dia 29, Flávia Cardoso e seu marido resolveram não sair da região de Rockway Beach, assim como a maioria de seus vizinhos, já que no ano passado, quando um furacão passou pela mesma região, não provocou muita destruição. Eles resolveram ir para a casa de uns vizinhos, tomar cerveja e cozinhar um jantar. Além disso, por ser uma casa de dois andares, parecia mais segura caso precisassem. E eles precisaram.

Flávia foi até sua casa para buscar alguns ingredientes. “Quando entrei, a rua estava seca. Em minutos, começou a encher de água”, conta a brasileira de 35 anos. “Parecia que alguém tinha aberto a torneira de uma banheira. Em cinco minutos, a inundação chegou à altura de um pé na minha casa”.

Uma noite que começou em clima de festa, terminou em terror para o grupo de oito pessoas, dois cachorros e quatro gatos. “Nós não sabíamos o que estava acontecendo, pois não tínhamos acesso aos noticiários. Apenas um celular de um amigo tinha um pouco de sinal e sua irmã nos passava os updates do que acontecia”, conta Flávia, que via pela janela incêndios e helicópteros passando. “Mas foi justamente quando ela disse que o pior já havia passado que nos apavoramos mais, pois depois disso, pensávamos que a água iria começar a baixar. Mas foi o contrário: só subia mais. Meu amigo tinha pranchas de surfe em sua casa e nosso plano era colocar coletes salva-vidas e nos agarrarmos nas pranchas”.

A casa de Flávia, para a qual ela só voltou no dia seguinte, foi inundada por uma mistura de água da baía, do mar e esgoto, a uma altura que chegou a até sete pés. Ela perdeu roupas, equipamentos eletrônicos, móveis e os dois carros do casal.

Ela logo sentiu a solidariedade, ao receber doações do seu trabalho. “Recebi mais roupas do que já tinha”, conta ela, que acabou doando algumas para o Rockway Beach Surf Club, que foi transformado em um centro de doações e voluntários.

O centro, segundo Flávia, atraiu mais e mais voluntários, a ponto de ter uma média de 500 pessoas por dia limpando as casas e ruas. Uma empresa trabalhou de graça, bombeando a água das casas, pessoas e igrejas se uniram, ajudando em especial aos idosos.

Depois de duas semanas sem trabalhar, a vida de Flávia começa a voltar ao normal, pouco a pouco. A guarda nacional tem trabalhado continuamente para limpar a cidade, mas o lixo ainda é acumulado a cada dia. “Ainda tem muito lixo”, avalia Flávia. “Mas com certeza a comunidade fez a diferença”.

Doações A cidade de Deerfield Beach iniciou uma campanha de uma semana, que vai até o dia 19, para arrecadar produtos de higiene e lanternas para serem enviados às vítimas de Sandy. A “Operation Shoebox” não irá aceitar roupas, por exemplo, mas produtos como pasta de dente, shampoo, sabonete, além de lanternas e baterias, que devem ser entregues em postos de bombeiros, escritórios do Broward Sheriff’s Office ou na prefeitura de Deerfield Beach.