Gugu e a importância de falar em vida sobre pós-morte

Por Arlaine Castro

Ícone da TV brasileira nos anos 90, Gugu Liberato, 60 anos, teve a morte anunciada na sexta-feira, 22 depois de dois dias internado em um hospital em Orlando. Gugu sofreu uma violenta e inesperada queda de quatro metros dentro de sua casa em Windermere (FL) e teve morte encefálica. Por que mortes assim parecem chocar ainda mais? Um dos motivos é a surpresa. Algo que não se espera de alguém que está saudável e de repente, no minuto seguinte, já não está mais entre nós. Acerca disso, por que não deixar expresso os desejos pós-morte? Não falar sobre o assunto também pode ser um problema. Gugu deixou expressa sua vontade de doar seus órgãos. Com certeza, já havia falado abertamente isso para a família. Seus órgãos foram doados e, segundo a equipe médica, vai ajudar em torno de 50 pessoas. Agora, imaginem se ele nada tivesse falado e a decisão de doar ou não ficasse com a família? Não saberiam se ele gostaria que fossem transplantados em alguém ou se ele simplesmente se negava a esse tipo de atitude. Um estudo de setembro de 2018 mapeou a percepção de brasileiros sobre assuntos que vão da realização de cerimônias fúnebres à liberdade que uma pessoa deve ter ou não para decidir sobre o fim da própria vida. Publicado pela BBC na matéria "Solidão no luto: pesquisa inédita mostra dificuldades dos brasileiros para lidar com a morte", o estudo foi apresentado na Semana InspirAÇÕES sobre Vida e Morte, em São Paulo. A pesquisa, baseada em uma amostragem de mil pessoas representativa da população brasileira, mostrou que, quanto mais se envelhece, mais o tema da morte é presente no cotidiano. Este tipo de conversa está presente para 21% dos jovens entre 18 e 24 anos; para aqueles com mais de 55 anos, o percentual salta para 33%. Entre os principais resultados, está a baixa presença do tema no dia-a-dia: 74% afirmam não falar sobre a morte no cotidiano. Os brasileiros associam também a morte a sentimentos difíceis, como tristeza (63%), dor (55%), saudade (55%), sofrimento (51%), medo (44%). Somente uma pequena parcela faz associação a sentimentos que não estão no campo da angústia, como aceitação (26%) e libertação (19%). Na maioria das vezes, a morte é associada a sentimentos ruins. O sentimento de perda prevalece. Desejos sobre o momento pós-morte, como a decisão entre a cremação ou o sepultamento, ou ainda a doação de órgãos, são também pouco compartilhados por mais da metade dos entrevistados: 54% não falaram para pessoas próximas sobre seus desejos na hora da partida, contra 46% que já abordaram esses assuntos. Essa dificuldade diante do assunto, porém, é reconhecida entre os entrevistados: em uma escala de 1 a 5 (em que 1 indica estar "nada preparado" e 5 "muito preparado"), a nota foi de 2,6 para a avaliação sobre se o brasileiro está pronto para lidar com a morte; em relação à própria morte, a média cai para 2,1. O desconforto diante de certos rituais decorrentes da morte chegou a quase metade dos entrevistados: 45% disseram não se sentirem sempre à vontade para ir a um enterro ou velório. Foram 40 anos dedicados à TV. Gugu começou como assistente de produção de Silvio Santos no SBT quando ainda era adolescente. Viveu seu auge no programa "Domingo Legal", com o qual disputava a audiência palmo a palmo com o "Domingão do Faustão" da Rede Globo. Seu legado já ficou para a história. Agora mais do que nunca ele também permanece vivo com seus órgãos batendo em outros corpos. Falar sobre a própria morte ou os desejos pós-morte ajuda a amenizar o sofrimento de quem fica. É meio que um conforto lembrar que a pessoa queria que fosse de tal maneira porque ela já havia mencionado isso.