Andréia Mattos, se reinventando após os cinquenta

Aos 54 anos, brasileira de Volta Redonda transformou o momento mais difícil da vida em força para recomeçar

Por Lara Barth

Andréia se reinventou profissionalmente ao chegar nos EUA e outra vez aos 52 anos

Quando Andréia Soares Mattos desembarcou nos Estados Unidos em 1999, não poderia imaginar que, décadas depois, construiria uma nova vida — e uma nova profissão — bem longe da advocacia que exercia no Brasil. Aos 54 anos, residente de Deerfield Beach, na Flórida, ela é hoje stylist no prestigiado Dorjon Aveda Salon, no Towncenter Mall de Boca Raton, onde trabalha há 24 anos. Sua trajetória, porém, é marcada por recomeços, quedas, superações e uma fé inabalável em seu próprio potencial, mesmo quando esse potencial parecia invisível até para ela.

Um início tímido e um empurrão decisivo

Andréia começou sua vida profissional nos EUA como assistente no salão — função que desempenhou durante surpreendentes 22 anos. "Meu maior desafio foi acreditar que eu também podia", lembra. E foi justamente essa crença que faltava nela, que a amiga de trabalho, Jasmim, enxerga­va de longe. Um dia, cansada de ouvi-la duvidar de si mesma, Jasmim tomou uma atitude definitiva: matriculou Andréia na Boca Beauty Academy e disse apenas:

"Amanhã você vai lá."

Esse gesto mudou tudo. A então assistente retomou os estudos, encarou provas, longas horas de dedicação e um processo lento, exigente e repleto de inseguranças — especialmente para quem precisava trabalhar com um público de alto padrão em uma língua que não era a sua.

O fundo do poço que virou ponto de virada

Os anos de 2022 e 2023 foram os mais difíceis da vida de Andréia. O divórcio após 22 anos de casamento a obrigou a começar do zero enquanto equilibrava escola, trabalho, filhos e um turbilhão emocional. "Pensei: e agora? Cheguei ao fundo do poço", relembra.

Foi nesse momento que ela escolheu acreditar.

"Tudo na vida passa. Para tudo tem solução quando temos família", diz.

Inspirada pelos pais e pela filha Amanda, que repetia incansavelmente "Mãe, você é muito boa! Não desiste!", Andréia seguiu.

Houve momentos de quase desistência — como quando reprovou múltiplas vezes nas provas para tirar a licença de cabeleireira. Mas cada queda a empurrava para cima. Ela descobriu, na prática, que o extraordinário só nasce da constância.

Mais difícil do que Direito

Formada em Direito no Brasil, Andréia afirma que se tornar cabeleireira foi mais difícil do que ser advogada. Não pelas técnicas — mas por construir carreira em outro idioma, outra cultura e outro universo profissional. "Para trabalhar com pessoas de alto padrão, em outro país, você tem que ser bom. E você tem que acreditar que é bom."

Hoje, ela celebra não apenas o título de stylist, mas cada cliente conquistado, cada transformação feita em silêncio ou acompanhada de confidências, cada dia em que consegue provar para si mesma que ela sempre pôde — só não sabia.

Valores, fé e a certeza de que nunca é tarde

Perguntada sobre o que a sustenta, Andréia responde sem hesitar: seus filhos, seus pais e Deus. São eles que alimentam sua coragem diária.

Sua mensagem para quem está chegando agora aos EUA é direta, quase um mantra:

"Não tenham medo. Façam! Não esperem os 52 anos para começar."

A mulher que um dia duvidou de si mesma hoje inspira outras a não desistirem. Sua história prova que recomeçar não tem idade, não tem limite e, acima de tudo, não tem medo.