Batsball: o esporte que nasceu de um sonho brasileiro

A história de Marcos Cesar Soares, o imigrante que transformou uma promessa, feita à mãe, em um novo esporte criado

Por Lara Barth

O objetivo é levar o Batsball para escolas, parques, comunidades, criar ligas oficiais, e até torneios internacionais no futuro

Em um campo simples de Delray Beach, na Flórida, algo diferente começa a acontecer. Não há arquibancadas lotadas nem grandes patrocinadores. Há, no entanto, risos, famílias reunidas, crianças correndo, adultos descobrindo algo novo — e um esporte que ainda está dando seus primeiros passos, mas já carrega uma história poderosa. O nome dele é Batsball.

Criado por Marcos Cesar Soares, brasileiro de Americana, interior de São Paulo, o Batsball é mais do que um jogo. É o resultado de uma vida marcada pela imigração, pelo trabalho duro, pela perda, pela persistência e por uma crença profunda de que o esporte tem o poder de unir pessoas.

Aos 54 anos, morando em Palm Springs, na Flórida, Marcos trabalha como pintor de casas. Mas fora do expediente, ele carrega um sonho que atravessou décadas, fronteiras e dificuldades: deixar um legado por meio de algo que nasceu na infância, ganhou forma na dor e hoje começa a se transformar em futuro.

Uma ideia que começou na infância e atravessou o tempo

Muito antes de existir o nome Batsball, existia uma criança brincando nas ruas do Brasil. Um taco improvisado, uma bola, duas latas de óleo servindo de alvo e a imaginação correndo solta. Era o tradicional jogo de taco — simples, popular, criativo — e foi ali que Marcos começou a sonhar com estádios, times e um esporte que ainda não existia.

A vida seguiu seu curso. Marcos imigrou para os Estados Unidos há 22 anos, trabalhou duro, construiu família e enfrentou os desafios comuns de quem recomeça em outro país: idioma, adaptação cultural, burocracia e a sensação de ser um estranho em uma terra nova. O sonho do esporte ficou guardado, mas nunca esquecido.

Em 2017, a vida deu uma reviravolta profunda. Sua mãe foi diagnosticada com demência. À distância, por telefone, Marcos buscava assuntos que a confortassem. E, repetidas vezes, lembrava a ela daquele menino que sonhava em criar um esporte. Em um desses momentos, fez uma promessa: um dia, criaria esse esporte.

Em 2019, sua mãe faleceu. A dor foi imensa. Mas a promessa permaneceu viva. E Marcos decidiu que não deixaria aquele sonho morrer.

Criar do zero, sem apoio e sem garantias

Inventar um esporte não é algo comum. Marcos sabia disso. Não havia manual, não havia investimento, não havia estrutura. Havia apenas fé, persistência e um taco nas mãos. O nome surgiu da forma mais simbólica possível: bat (taco), ball (bola) e o " S" de Soares. Assim nasceu o Batsball, antes mesmo de as regras estarem totalmente definidas.

Ele mesmo desenhou as primeiras ideias, marcou linhas no chão, testou em quintais e terrenos improvisados. Convidou amigos, vizinhos e desconhecidos para experimentar algo novo. Muitos riram da ideia. Outros simplesmente não acreditaram.

Mas Marcos seguia com uma convicção silenciosa: todos os grandes esportes começaram pequenos. O basquete nasceu com uma cesta de pêssegos. O vôlei, com uma rede improvisada. O pickleball levou décadas para se popularizar. O Batsball também precisaria de tempo.

Fracasso, perdas e uma reviravolta inesperada

Um dos momentos mais duros de sua trajetória veio com o primeiro grande projeto do Batsball. Marcos conseguiu um espaço de três acres para desenvolver o esporte em troca da manutenção do local. Foram dois anos cortando grama, limpando um terreno abandonado e investindo tudo o que tinha, sem contrato, sem garantias.

Vieram os alagamentos, os cancelamentos, os campos vazios, as divulgações sem retorno. Muitas vezes, ninguém aparecia — mesmo com o jogo sendo gratuito. O desgaste emocional foi enorme. Endividado, cansado e desanimado, Marcos precisou parar.

No último dia, apenas uma pessoa apareceu para jogar: Jeferson Souza, que havia acompanhado o projeto até ali. Os dois fizeram uma despedida silenciosa. Marcos desmontou tudo o que havia construído e saiu daquele terreno com a sensação de fracasso.

Mas foi justamente ali que algo mudou.

Naquela madrugada, sem dormir, Marcos escreveu a versão 2 do Batsball, adaptada para campos de baseball já existentes. Uma porta se fechava para que outra pudesse se abrir. O sonho não havia acabado — ele apenas estava se transformando.

Um esporte criado para todos

Hoje, o Batsball começa a ganhar forma novamente. E o que mais chama atenção não são apenas as regras simples ou a dinâmica rápida do jogo, mas quem está jogando.

Em campo, já estiveram juntos jogadores dos Estados Unidos, Brasil, Colômbia, Venezuela, Honduras, Peru, Bolívia, Porto Rico, México e Guiana. Pais jogando com filhos. Adultos sem experiência descobrindo confiança. Imigrantes encontrando pertencimento.

O Batsball acolhe. Ele aproxima. Ele cria comunidade.

Mais do que pontos ou placar, o jogo entrega algo raro: conexão humana.

Olhar para o futuro sem esquecer a origem

Desde o início, o Batsball foi pensado para o futuro. Marcos trabalha no desenvolvimento do Gol Inteligente, com sensores, tela de LED e pontuação automática em tempo real — um passo ousado para um esporte que ainda está nascendo, mas que já carrega inovação em seu DNA.

O objetivo é claro: levar o Batsball para escolas, parques, comunidades, criar ligas oficiais, torneios internacionais e permitir que, no futuro, outras pessoas também possam viver do esporte.

Mais do que sucesso financeiro, Marcos fala em legado.

Quando sucesso deixa de ser ganhar e passa a transformar

Para Marcos Cesar Soares, sucesso hoje é simples e profundo: transformar vidas com aquilo que se cria. Inspirar pessoas. Saber que fez sua parte para deixar o mundo um pouco melhor do que encontrou.

Ele sabe que talvez não veja até onde o Batsball pode chegar. Mas também sabe que todos os esportes, um dia, começaram com alguém acreditando sozinho.

E é essa crença que o mantém em pé.

"Sonhos não envelhecem. Eles apenas esperam você ter coragem de realizá-los."

O Batsball ainda está no começo. Mas a história que o criou já é, por si só, uma vitória.