Polêmica do homework: pais brasileiros opinam

Por Arlaine Castro

Os métodos de ensino escolar envolvem diversas questões e dividem opiniões de profissionais, pais, responsáveis e até das próprias crianças.

Na semana passada, a professora de matemática e ciências de uma escola do Texas, Brandy Young, iniciou o ano letivo decidida a não dar o homework para seus alunos do segundo ano do ensino fundamental e logo o fato levantou a polêmica entre pais e profissionais.

Segundo o comunicado enviado aos pais no primeiro dia de aula, a professora justifica sua atitude explicando que a tarefa escolar pode ser deixada de lado para que coisas mais relevantes entrem na rotina da criança, como aproveitar o tempo para estar em família. A mãe de uma de suas alunas postou no facebook elogiando a decisão da professora e o fato viralizou, colocando o tema em discussão.

Brandy recebeu apoio da maioria dos pais que concordou com a ideia dos flhos terem mais tempo para o lazer em casa, tendo em vista que nas escolas americanas as crianças passam boa parte do dia na escola, geralmente das 8h às 15h, mas também foi alvo de críticas por não incentivar que a criança estude em casa.

O Gazeta News discutiu o assunto com alguns profissionais e pais de crianças atualmente matriculadas em escolas da Flórida, que divergem quanto à política do dever de casa, mas concordam que deve haver moderação na quantidade geralmente enviada do “para casa”.

Vera Schäfer, blogger, nos Estados Unidos há 27 anos, mora em Coral Springs, e segundo ela, as duas filhas não tinham muito homework na época que estavam na escola, mas acredita que só faz sentido o homework para crianças na fase escolar elementary ou middle school quando não terminam alguma tarefa em sala de aula e precisam terminá-la em casa. “Crianças que têm outras atividades após a escola, pais que trabalham fora e têm que lidar com as tarefas da casa e ainda supervisionar ou ajudar nas tarefas impostas pela escola, tudo isso só faz com que essa pressão por estudar tire das crianças o prazer de aprender”, diz.

Angeliza Pontes, engenheira civil, está há 16 anos nos Estados Unidos e explica que na escola do seu filho, que cursa o décimo ano do ensino fundamental na Westlake Preparatory School em Cooper City, a turma tem só 14 alunos e não é dado homework. “O fato da turma ser pequena ajuda no rendimento das criancas. Acho que por essa razão não é necessário o absurdo de homework que grande parte das escolas mandam”, pondera.

Gisele Castro, dona de casa, há 17 anos nos Estados Unidos, mora em Jacksonville e tem 2 filhas na escola. Jade, 8 anos, cursa a terceira série na escola Clay Charter Academy e Alice, 15 anos, cursa a High School. Para ela, o homework das filhas não é um problema a ponto de atrapalhar a vida em família.

Ela percebeu a diferença de quantidade de homework da escola pública para a particular no ano passado, quando a filha mais velha cursou uma. “Na escola particular a quantidade de homework era bem maior do que agora, na escola pública. Ela vivia apertada com trabalhos e deveres”. Acredito que o dever de casa é benéfico sim, desde que seja moderado, dando tempo para as outras atividades que as crianças têm”, salienta.

Connie Rocha, jornalista, há 16 anos nos Estados Unidos, mora em Coral Gables, e ressalta que é preciso  equilíbrio. “As crianças aqui ficam a maior parte do tempo na escola, principalmente as que precisam ficar no AfterCare. A criança, após passar uma média de 6 a 8 horas na escola estudando e com um turbilhão de novas informações, não pode desfrutar do jantar em família, da convivência com os pais e irmãos porque tem tarefas de diversas matérias para entregar no dia seguinte. E obviamente, os pais que ajudam as crianças acabam perdendo também esses momentos do final do dia que deveriam ser de prazer e relaxamento com os filhos para encarar a jornada trabalhoescola do dia seguinte.

Anete Arslanian, professora na Miami Beach Senior High School, há vinte anos trabalha em escola pública e tem um criança em idade escolar. “Claro que temos que cumprir com um currículo e preparar os alunos para exames estaduais, mas nada disso justifica a quantidade absurda que muitos alunos recebem de tarefas. Dever de casa sim, mas com moderação”, defende. Para ela, o foco do homework deve ser “revisar o que foi aprendido em classe e verificar a capacidade da criança de poder completar tal tarefa. A criança jamais deveria ter que depender dos pais para fazer uma tarefa escolar”, argumenta.

Para o jornalista brasileiro, César Augusto, que está há 13 anos nos Estados Unidos e mora em Weston, as crianças precisam ter tempo para aprenderem outras atividades, praticarem esportes e se socializarem. Seus dois filhos, Cora, de 5 anos, no Kindergarten e Arthur, 9 anos, no quarto ano do ensino fundamental, ambos na escola Gator Run Elementary, não têm muita lição de casa porque a direção da escola acredita que o conteúdo deve ser dado durante o tempo das aulas.

“O diretor da escola dos meus filhos é contra lição de casa e eu concordo com ele”, diz. Concordo porque ele explicou  que o tempo que os alunos passam na escola é mais do que suficiente para aprenderem. “Se a criança não aprende em 6 horas, o professor está falhando em alguma coisa. E não dá para avaliar uma lição de casa porque alguns pais fazem a lição para os filhos, outros ajudam, algumas crianças fazem tudo sozinhas. Então, quem merece a melhor nota? A lição bonita que o pai fez ou a quase certa’ que a criança fez sozinha?”, questiona.