Imigração: Band-Aid não vai resolver

Por Gazeta Admininstrator

O jogo de pressões em Washington, em torno da reforma nas leis de imigração, está cada vez mais quente. Mas ainda longe do ponto de fervura que fatalmente irá ocorrer. Muito mais do que a Guerra do Iraque, será a questão imigratória o “pêndulo” a definir os rumos das eleições parlamentares de 2006 e presidenciais de 2007. E a matemática de Republicanos e Democratas coincide quase totalmente nesse aspecto.

Os atuais “donos do poder” em Washington, o Partido Republicano, que tem maioria tanto no Senado quando na Câmara de Representantes (Deputados Federais), por conseguinte, no Congresso (que reúne as duas casas) sabem que o voto dos latinos será fator crucial no resultado das eleições, tanto este ano quanto no próximo. Assumem que se o voto latino pender radicalmente para um lado, esse lado será o vencedor.

A minoria Democrata está não só convencida desta mesma tese como se agarra a ela com unhas e dentes para recuperar o poder perdido em 1999.Onde eles divergem é no peso que a questão imigratória tem na definição deste mesmo voto hispânico.

Na arena, as propostas imigratórias dos republicanos são ruins, muito ruins ou péssimas. O Senador Bill Frist patrocinou uma proposta de lei acusada de “nazista” pelos oponentes e lideranças pelos direitos civis, propondo deportação imediata de milhões de imigrantes indocumentados e acabando com os vistos de trabalho temporários, pelo menos a partir da entrada em vigor da Lei. Bush, sabiamente, já anunciou que vetará essa lei.

Bush quer a aprovação de seu acalentado projeto de vistos de trabalho por 3 a 9 anos, ao fim dos quais os imigrantes retornariam a seus países. Parece uma proposta “conciliatória” e “meio termo”, mas é tão irrealística quanto a outra.

Até se imagina que uma parcela (ainda assim pequena) de imigrantes de países mais desenvolvidos, como Brasil, Argentina ou Venezuela, retrornaria ao país de uma forma “cordata”. Muitos até já o fazem regularmente por não se adaptarem ou não gostarem mesmo de viver o “american way of life”.

Mas é uma tremenda ingenuidade – ou “faz de conta” – imaginar que imigrantes ilegais oriundos de países como Guatemala, Honduras, regiões paupérrimas do México, El Salvador, Nicarágua ou mesmo de países africanos e asiáticos em crônico estado de pobreza, aceitaria cordatos um retorno à seus países, depois de sentirem o “gosto” do “sonho americano” e de ter filhos nascidos aqui, etc.

A proposta de Bush é um Band-Aid daqueles comprados nas lojas de 1 dólar, que não resistem à primeira lavada de mãos em água morna. Não vai colar. É uma ilusão que serve a propósitos políticos imediatos – angariar simpatia e votos dos hispânicos – e de certa forma não despertar a fúria bombástica de grande parcela da população norte-americana que, certa ou não, acredita que a imigração ilegal é um dos maiores males que afligem o país neste momento.
Está bem considerar a proposta de Bush um “mal menor”, mas nunca uma solução.

Solução mesmo seria a Anistia, legalizar todo mundo que está aqui e criar mecanismos de fato para que a imigração ilegal não seja um poderoso atrativo.

Em reportagem publicada na semana passada pelo New York Times, empresários do setor agrícola dos Estados Unidos reagiam com o maior cinismo (e pragmatismo) às propostas imigratórias em discussão em Washington:
“Continuaremos a empregar ilegais se as leis não forem realistas. Nada vai parar isso, nem tanques de guerra. É uma questão econômica. A agricultura e outros setores da economia dos Estados Unidos não funcionam mais sem o trabalho dos imigrantes, legais ou ilegais”, afirmava um desses agricultores, que depois de alguns anos tentando empregar apenas imigrantes através do programas de vistos H-2A. Hoje em dia esse mesmo empresário praticamente só emprega ilegais.
A ex-primeira dama e atual senadora por NY, Hillary Clinton, já entrou de sola no tema e colocou espertamente Jesus Cristo na questão, polarizando ainda mais o tema e escancarando a defesa, por parte dos Democratas, de uma reforma que facilite a legalização definitiva da esmagadora maioria dos atuais 12 milhões de ilegais que o próprio governo estima que estejam no país.

De que lado nós brasileiros devemos ficar ? Bem, em primeiro lugar essa é uma decisão de cada um, individualmente. Mas se me perguntam em que lado eu fico? É do lado do imigrante indocumentado que está aqui, suando muitas vezes mais do que qualquer “cidadão” ou “residente legal”, pagando taxas e preços que ninguém paga. Como por exemplo a “taxa do medo”, a “taxa da insegurança”, a “taxa da ansiedade” e a “taxa da culpa sem proveito”. Essas são taxas emocionais de uma multidão que quer apenas trabalhar, viver decentemente e buscar seu quinhão do sonho de ser feliz, seja esse sonho “americano”, “brasicano”, “brasileiro” ou “japonês”.

Devemos nos posicionar por uma solução o menos transitória possível porque a História não poupa quem tenta “empurrá-la com a barriga”. Um ato histórico seria encarar de frente e resolver essa questão de uma forma humana, social, econômica, e que simplesmente honraria a longa história da nação norte-americana, essa nação que também amamos e admiramos, e que foi, é e será sempre feita por imigrantes.