Imigração: deportar os criminosos sim, mas não ao preço de acabar com comunidades locais - Editorial

Por Gazeta News

foto #findaustinandperry

Quando parece que os Estados Unidos irão andar para frente com a questão da imigração, começa a dar passos para trás. Esta semana, um Congresso que não se movia no tema há meses, aprovou um projeto de lei contra as chamadas “cidades santuário”.

No dia 23, a Câmara passou o projeto de lei que pune essas cidades, que não cooperam com as agências de imigração. Outro projeto de lei parecido também foi apresentado ao Senado, apelidada de “Kate’s Law”, que a Casa Branca já prometeu vetar. A lei visa penalizar cidades e criar uma sentença mínima em violadores das leis de imigração. Jim Steinle, pai de Kate Steinle, a jovem de 32 anos que foi morta por um imigrante indocumentado em São Francisco, diz que tal lei irá salvar vidas, enquanto outros argumentam que isso é uma reação excessiva à tragédia. O projeto de lei penalizando as cidades santuário divide opiniões, mas o debate sobre a causa da morte de Steinle não. Todos concordam que o imigrante indocumentado do México, Juan Francisco Lopez-Sanchez, que atirou em Steinle (ele admitiu o crime, mas não se declarou culpado, alegando se tratar de um acidente) não deveria estar solto. Se Juan tivesse sido preso pelo Immigration and Customs Enforcement em vez de ter sido solto pela polícia local, Steinle poderia estar viva hoje. Criminoso recorrente, com cinco deportações no passado, Juan é exatamente o tipo de imigrante que deveria ser deportado sob a política da Casa Branca. Ou seja, nisso a Casa Branca concorda com os conservadores.

A questão é que as cidades santuário são assim chamadas porque na verdade elas optaram por não ajudar autoridades federais justamente para aumentar a segurança e a confiança da população imigrante.

O Department of Homeland Security tem aproximadamente 5 mil pessoas responsáveis pela remoção de imigrantes indocumentados no país. Oficiais dependem da ajuda de 750 mil oficiais de polícia para realizar este trabalho. O problema é que autoridades locais estão cada vez relutando mais em cooperar com o DHS.

Por outro lado, as autoridades locais dependem da ajuda da população local para desvendar crimes, o que inclui imigrantes. O trabalho do oficial de polícia é manter a ordem e os residentes seguros, e não determinar quem deve ou não estar no país legalmente. Além disso, essa relação é baseada na confiança e comunidades imigrantes que têm medo que um policial esteja procurando deportar um pai, uma filha ou um primo pode cooperar menos, denunciando crimes e ajudando investigadores, o que tornaria a cidade menos segura.

As leis de imigração tem um histórico de várias tentativas de aumentar a segurança para poder justificar algum tipo de reforma. Em 2006, a administração Bush concentrou esforços em aumentar a segurança da imigração. Até que, em 2008, o DHS lançou o Secure Communities, uma iniciativa que envolvia a polícia local no compartilhamento de impressões digitais de todas as pessoas presas com o FBI, para checar antecedentes criminais. Na administração Obama, o Secure Communities seguiu ainda mais, coincidindo com a remoção de 188 mil imigrantes indocumentados em 2011. Foi bem aí que as agências de polícia local começaram a reclamar que esse programa estava deteriorando a relação entre a polícia e imigrantes.

De acordo com o Immigrant Legal Resource Center, mais de 360 jurisdições – incluindo 326 condados, 32 cidades e quatro estados inteiros – agora limitam os pedidos de enviar dados para a imigração. Essas cidades abrigam mais da metade dos imigrantes indocumentados no país. Parece que os legisladores ficam presos em círculos quando se trata da imigração, fazendo tentativas ultrapassadas de contornar uma reforma ampla que resolverá grande parte dos problemas. Deportar os criminosos é, sem dúvida, uma medida que todos concordam, mas não de forma a sacrificar os que não têm antecedentes criminais e a segurança local.

Com informações do "Wall Street Journal".