Contratação temporária via F-1 ultrapassa números de H-1B para estudantes nos EUA

Estudantes estrangeiros geralmente usam autorização temporária de trabalho por meio do visto de estudante (F-1) até serem transferidos para um H-1B

Por Arlaine Castro

O mineiro João Paulo Miranda (segundo atrás à esquerda) entre outros estrangeiros numa empresa no Vale do Silício, Califórnia.

Os Estados Unidos figuram no topo da lista dos países mais procurados por estudantes universitários estrangeiros com mais de um milhão deles espalhados pelo país. Com programas que aliam estudo a um posterior trabalho e futura residência legal, milhares se candidatam todos os anos, mas mudanças nas regras vêm diminuindo o número de concessão do visto de trabalho H-1B e aumentando em programas que permitem trabalhar legalmente sob visto de estudante, como o Optional Practical Training (OPT).

Estudantes da Índia, China e Coreia do Sul representam 57% de todos os participantes do programa Optional Practical Training (OPT) entre 2004 e 2016, segundo o Pew Research Center. Junto com o STEM (cursos voltados para a área da ciência, tecnologia, engenharia e matemática), esses programas são considerados um bom trampolim para um H-1B (visto de trabalho para emprego em uma ocupação especializada) ou 'green card' (residência permanente).

Imigrante qualificado

Entre 2004 e 2016, quase 1,5 milhão de graduados estrangeiros de faculdades e universidades dos EUA obtiveram autorização para permanecer e trabalhar nos EUA por meio do Programa de Treinamento Prático Opcional (OPT) do governo federal. Mais da metade (53%) dos graduados estrangeiros foram aprovados para empregos especializados nas áreas de ciência, tecnologia, engenharia e matemática (programa STEM), de acordo com uma análise do Pew Research Center dos dados de Imigração e Fiscalização Aduaneira dos EUA.

Nos últimos anos, o programa OPT superou o programa de vistos H-1B como a maior fonte de novos trabalhadores temporários imigrantes altamente qualificados do país. Em 2017, um recorde de 276.500 graduados estrangeiros recebeu permissão de trabalho no âmbito do programa OPT, acima de 257.100 em 2016, de acordo com dados obtidos na Imigração e Alfândega dos EUA pelo Pew Research Center.

F1 x H-1B

Geralmente, os estudantes estrangeiros começam usando a autorização temporária de trabalho por meio do seu visto de estudante até serem transferidos para um H-1B. Mas as regras para mudança de "status" como de um visto de estudante (F-1) para um visto de trabalho (H1-B) vêm tornando o processo mais complicado. Em muitos casos, os programas Optional Practical Training (OPT) e o STEM (cursos voltados para a área da ciência, tecnologia, engenharia e matemática) ainda são considerados um trampolim melhor para um H-1B ou 'green card'.

A advogada de imigração Leonelba Martinez explica a diferença entre poder trabalhar pelo visto F-1 e o H1-B. "Embora o OPT seja um benefício do status F-1 que permite que os alunos trabalhem por um ano (possivelmente mais se o aluno for elegível para uma extensão), o H-1B é uma classificação não-imigrante separada especificamente para o emprego onde o portador do visto pode ficar até 6 anos nos EUA", ressalta.

Pelo tempo maior de permanência legal no país, Martinez ressalta que o H-1B é um "visto atrativo para muitos estudantes que estão concluindo seus estudos no EUA, estão em status legal no país e por estarem estudando nos EUA tiveram contato com futuro empregadores e ofertas de trabalho".

Porém, a advogada reforça que o atual governo tem dificultado para aqueles que buscam o visto H-1B. As metas de emprego para trabalhadores especializados em ocupações procuradas eram o alvo favorito de Trump durante os debates republicanos nas primárias presidenciais de 2016. Depois de ascender à Casa Branca, a ordem executiva de "Compre americano e contrate americano" de Trump colocou o visto ainda mais minucioso. Atualmente, o número de vistos H1-B aceitos diminuiu, enquanto os contestados pelo governo triplicaram, de acordo com a data dos Serviços de Cidadania e Imigração dos EUA (USCIS)", enfatiza Martinez.

Formado em Engenharia de Controle e Automação pela Universidade Federal de Minas Gerais há menos de dois anos, João Paulo Miranda conseguiu um estágio sob o visto J1 na empresa de computação gráfica REscan, na Califórnia. Como seria mais difícil e demorado os outros vistos, João optou mesmo sabendo que o período de permanência nos EUA será menor e ele não poderá tentar migrar para um visto mais profissional, como o H-1B. "Gostaria de poder estender o visto, mas tenho que ver se há alguma outra possibilidade que não afete o meu intercâmbio no momento. Deixaram claro que se eu tentasse outro visto durante minha estadia aqui, poderia influenciar no meu atual, correndo risco de término do programa", explica, ressaltando que pensa em tentar um visto de trabalho futuramente.