Investigação desmantela quadrilha de tortura e extorsão de imigrantes em Miami

Por Arlaine Castro

Barco com imigrantes cubanos.

Uma ampla investigação desmantelou um esquema de tráfico, sequestro, tortura e extorsão de imigrantes de Cuba para o México e Estados Unidos, com membros detidos em Miami. 

Um dos membros da quadrilha, José Miguel González, conhecido como “El Chupa", foi acusado formalmente de sequestro e tráfico de pessoas no tribunal federal no Distrito Sul da Flórida na sexta-feira, 4. A investigação descobriu que sua mãe, que mora em Miami, ajudou a recolher o dinheiro do resgate de famílias cubanas, de acordo com documentos do tribunal federal.

A investigação começou em 2018, quando um imigrante cubano, cujo nome não é mencionado no documento do tribunal, revelou às autoridades federais os detalhes angustiantes de sua viagem de quase morte para o EUA.

De acordo com uma declaração juramentada obtida pelo Sun-Sentinel, o cubano disse aos federais em outubro que pagou US $ 3.000 aos contrabandistas ligados a González para ser levado em uma balsa com outros 16 indivíduos de Cuba para o México. De lá, eles viriam por terra para os Estados Unidos.

Willy Allen, advogado de imigração, disse ao canal Telemundo que se trata de “grupos organizados dentro de Cuba, ao longo da fronteira e trabalhando com criminosos. O negócio de tirar pessoas de Cuba é incrível”. Para o advogado, nos últimos dois anos aumentaram as denúncias de extorsão contra migrantes cubanos.

Sonho que virou pesadelo

Contudo, a perspectiva de alcançar o sonho americano tornou-se um pesadelo para os imigrantes quando chegaram ao México. Lá, eles foram recebidos e torturados por Reynaldo Márquez, 41, e Jancer Ramos, 33, que foram respectivamente detidos no Texas e Connecticut, e estão sendo julgados na Flórida.

No México, os imigrantes foram mantidos reféns em uma casa e obrigados a dar informações de contato de um membro da família que poderia pagar um resgate de $ 10.000. Caso as famílias pagassem, os imigrantes eram então transportados de ônibus para a fronteira do México com os Estados Unidos e instruídos sobre como solicitar asilo.

Caso não pagassem, eles continuavam sendo torturados. Foi o que aconteceu com o cubano que denunciou o esquema. No depoimento, ele disse que foi espancado com um remo até seu corpo ficar coberto de hematomas. Os sequestradores então tiraram fotos e as enviaram a parentes em Cuba como forma de ameaça pedindo mais dinheiro. Ele ficou detido por 2 meses e depois jogado nas ruas de uma cidade mexicana sem dinheiro ou documentos de identidade. Não está claro se sua família pagou o resgate e como ele conseguiu entrar nos EUA.

Enquanto estava em cativeiro, o cubano disse à polícia que testemunhou El Chupa e seus comparsas estuprarem e torturarem outros imigrantes e também que ouviu El Chupa dizer que sua mãe estava disponível para receber o resgate em Miami. Agentes das Investigações de Segurança Interna confirmaram os pagamentos de resgate transmitidos via Western Union para El Chupa por sua mãe, segundo documentos do tribunal.

Organização criminosa

Fontes próximas à investigação disseram ao Sun-Sentinel que González está ligado à Organização El Jabao, uma organização criminosa que em outubro de 2012 realizou o maior roubo de ouro da história da Flórida, roubando US $ 2,8 milhões em ouro boliviano.

O grupo criminoso, que opera em Cuba, México e Estados Unidos, teve dois de seus líderes presos por roubarem os jogadores de beisebol cubanos Yasier Puig e Raisel Iglesias aos EUA em troca de dinheiro.

González pode ser condenado a uma pena máxima de 20 anos de prisão por sequestro e 15 anos por contrabando de pessoas. Os documentos do tribunal federal não mencionam sua mãe. Não se sabe se ela será processada. Com informações do Sun Sentinel.