EUA aumentarão voos de deportação de brasileiros

Por Arlaine Castro

Segundo o Itamaraty, o governo brasileiro consentiu, "em caráter temporário e condicional", com o aumento para dois voos semanais.

O governo americano solicitou ao Brasil autorização para ampliar a frequência de voos de deportação ao País. A partir de outubro serão dois voos semanais com brasileiros deportados dos EUA. Atualmente, há autorização para um por semana.

Os EUA pediram que o governo brasileiro concorde com três voos semanais de deportados - por enquanto, o Itamaraty concordou com dois voos semanais.

A nova periodicidade está prevista para entrar em vigor em outubro. A informação foi revelada pelo jornal Folha de S. Paulo e confirmada pelo O Globo, que recebeu do Itamaraty a confirmação da solicitação feita pelos EUA em agosto.

Segundo o Itamaraty, o governo brasileiro consentiu, "em caráter temporário e condicional", com o aumento para dois voos semanais.

No fim de maio, os EUA enviaram ao Brasil o primeiro voo fretado para deportar imigrantes brasileiros desde o início do governo de Joe Biden. A prática tornou-se frequente durante o mandato de Donald Trump, que adotou política e retórica anti-imigração - que passou a ser usada também por Biden, quando um número recorde de imigrantes começou a chegar na fronteira dos EUA com o México.

Questionado sobre o tema, o Itamaraty afirmou que recebeu, em agosto, um pedido para ampliar a frequência de voos semanais, o que ocorrerá em outubro. A chancelaria acrescentou que o governo "consentiu, em caráter temporário e condicional", com o aumento da frequência para dois voos por semana e que o objetivo do MRE é reduzir o tempo de permanência dos brasileiros em centros de detenção americanos, especialmente durante a pandemia de covid-19.

O governo brasileiro confirmou também a informação de que pediu aos EUA que os deportados não sejam algemados no voo - o que foi relatado por algumas pessoas enviadas de volta pelo governo americano nessa situação.

O total de brasileiros que chegaram aos EUA ilegalmente começou a crescer em 2015, mas se mantinha em patamares baixos. O grande pico nas apreensões pela Patrulha da Fronteira aconteceu em 2019, quando passou de 1,6 mil casos no ano anterior para 18 mil, segundo os registros dos EUA.

Desde outubro de 2019, quando a medida começou a ser realizada no mandato de Donald Trump, 2.388 brasileiros foram deportados após tentar entrar ilegalmente no país. Um levantamento da Polícia Federal aponta que 90% dos deportados são homens com idades entre 20 e 40 anos.

Aumento de travessia ilegal de brasileiros

No ano passado, as travessias caíram em razão dos bloqueios de viagem durante a pandemia e à política estabelecida por Trump. Neste ano, o número explodiu. Só em agosto, mais de 9 mil brasileiros tentaram atravessar a fronteira americana sem visto. De outubro do ano passado até agosto deste ano, a estimativa é a de que mais de 46 mil brasileiros tenham feito esse caminho.

A autorização para ampliar os voos de deportação ao Brasil acontece no momento em que o governo Biden pede para que o País receba haitianos que entraram de maneira irregular nos EUA. Na semana passada, a situação foi tratada em conversa entre o secretário de Estado, Antony Blinken, e o chanceler brasileiro, Carlos França. Os dois se reuniram em Nova York, após a abertura da Assembleia-Geral da ONU.

No encontro, segundo fontes, Blinken pediu que o Brasil acolha haitianos que estão sendo deportados. O governo brasileiro indicou que seria preciso avaliar a situação específica de cada imigrante. Crianças haitianas que nasceram no Brasil, portanto, cidadãos brasileiros, e estrangeiros com permissão de residência podem entrar no País. Já os que têm visto humanitário e deixaram o Brasil não podem pedir novamente o status temporário.