650 imigrantes morreram cruzando a fronteira EUA-México em 2021, diz OIM

Por Arlaine Castro

A Alfândega e a Proteção de Fronteiras dos EUA afirma que a maioria das mortes de imigrantes na fronteira é relacionada à exposição ao calor.

Pelo menos 650 imigrantes morreram tentando cruzar a fronteira EUA-México este ano, mais do que qualquer outro ano desde que uma agência internacional começou a documentar mortes em 2014.

A Organização Internacional para as Migrações - a agência que documenta as mortes - não especificou o motivo das mortes, mas cruzar a fronteira sul dos Estados Unidos costuma ser uma jornada perigosa que ao longo dos anos resultou em mortes e resgates.

"O número crescente de mortes de migrantes na região é altamente alarmante", disse Michele Klein Solomon, Diretora Regional da OIM para a América Central e do Norte e Caribe, em um comunicado.

As detenções de imigrantes ao longo da fronteira sul dos Estados Unidos neste ano permaneceram altas, mesmo durante os meses em que os números costumam cair, o que significa que milhares foram expostos a elementos ainda mais difíceis.

A Alfândega e a Proteção de Fronteiras dos EUA já haviam afirmado que a maioria das mortes de migrantes na fronteira estava relacionada à exposição ao calor. A agência registrou 557 mortes na fronteira sudoeste durante o ano fiscal de 2021. Isso é mais do que 254 mortes no ano fiscal de 2020 e 300 mortes em 2019, marcando um aumento significativo em meio a um ano recorde de 30 anos para travessias de fronteira.

Também houve 12.854 resgates da Patrulha de Fronteira no último ano fiscal, superando em muito os quatro anos anteriores, que é desde quando a agência rastreou esses dados. A alta anterior havia sido em 2019, com 5.335 resgates.

Em junho, quando os resgates já estavam aumentando, CBP disse que organizações de contrabando estavam abandonando imigrantes em áreas remotas e perigosas, levando a um aumento dramático no número de resgates.

Desde 2014, 5.755 pessoas morreram durante a migração na América Central, América do Norte e Caribe, descobriu a OIM, informou a CNN. 

Brasileiros na travessia

No dia 15 de setembro, Lenilda dos Santos, 49, foi encontrada morta em um deserto do Novo México, ao atravessar a fronteira para os Estados Unidos. A auxiliar de enfermagem de Vale do Paraíso, município de 6 mil habitantes em Rondônia, cruzara a pé a fronteira, mas não conseguiu acompanhar o ritmo do restante do grupo, liderado por um coiote, e foi largada para trás sozinha. Segundo dados dos familiares, ela teria morrido de sede ao tentar percorrer cerca de 50 km no deserto.

De acordo com dados da Agência de Alfândega e Proteção de Fronteiras dos EUA (CBP), 47 mil brasileiros tentaram cruzar a fronteira dos Estados Unidos de outubro de 2020 até agosto deste ano. É um número sem precedentes na história e cinco vezes maior que no ano fiscal anterior.

Segundo Cesar Rossatto, professor da Universidade de Texas de El Paso e cônsul honorário do Brasil em entrevista à BBC Brasil, calcula-se que para cada brasileiro pego na fronteira, outros três passaram sem serem identificados. Ou seja: 200 mil brasileiros teriam entrado irregularmente nos EUA.

Ainda segundo Rossatto, 2 mil estão presos aguardando a decisão judicial que concederá a esses brasileiros a possibilidade legal de viver nos EUA ou, na maior parte dos casos, a deportação.

Os brasileiros estão em sexto lugar entre as nacionalidades mais registradas na fronteira, segundo números da CBP, atrás de México, Honduras, Guatemala, Equador e El Salvador.

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