Com mais green cards para trabalho nos EUA, brasileiros apostam na imigração legal

Os Estados Unidos normalmente oferecem pelo menos 140.000 green cards por ano para pessoas que se mudam para o país permanentemente para determinados empregos profissionais, incluindo enfermagem. A maioria é emitida para pessoas que já vivem nos EUA com vistos temporários, embora alguns vão para trabalhadores no exterior.

Com escassez de pessoal na área da saúde por causa da pandemia, este ano, 280.000 desses green cards estão disponíveis, o dobro da média normal, os recrutadores esperam que alguns dos extras possam ser adquiridos por enfermeiros que procuram trabalhar em hospitais mais impactados pela pandemia no país.

De acordo com a lista dos 100 melhores empregos de 2022 da U.S. News, que também avaliou salário e equilíbrio entre vida profissional e pessoal, entre outros critérios, quase 4 em cada 10 ocupações são funções de assistência médica ou de apoio à assistência médica.

"A 'Grande Demissão' combinada com o crescimento econômico generalizado no ano passado levou a um ponto de inflexão em que há muito mais vagas de emprego do que candidatos", disse Antonio Barbera, editor sênior de consultoria ao consumidor da U.S. News & World Report.

Estima-se que 18.000 empregos na área de saúde foram adicionados em janeiro, acima do total de 14.300 em dezembro, mesmo com o aumento das hospitalizações por covid impulsionadas pela ômicron, de acordo com um relatório do Bureau of Labor Statistics divulgado no dia 4.

O forte desempenho do setor contribuiu para 467.000 novos empregos registrados em toda a economia, muito mais do que os economistas projetaram. Separadamente, os hospitais dizem que o recrutamento e a retenção de pessoal são suas principais prioridades, segundo a organização Kaiser Health News.

Na área de enfermagem, o salário médio de $ 111.680 anual de um enfermeiro é convidativo. Para trabalhar na área, é preciso ter um diploma de bacharel em enfermagem e uma licença (como o registro no COREN no Brasil). Os enfermeiros adquirem cerca de 10 anos de experiência profissional antes de ir para a pós-graduação para o mestrado exigido, de acordo com a Associação Americana de Profissionais de Enfermagem.

O emprego de enfermeiros deve crescer 52% de 2020 a 2030, de acordo com o Bureau of Labor Statistics. Isso se traduz em cerca de 114.900 vagas de emprego. Com mais green cards para trabalho, brasileiros estão vendo maior chance de imigrar legalmente. 

Ser enfermeiro nos EUA

Enfermeiro há 13 anos, Marlon Miranda se formou em 2009 em Vitória, no Espírito Santo. Ele vai começar a trabalhar em março na Califórnia e contou ao Gazeta News como foi o processo, que, ao todo, levou pouco mais de três anos.

Primeiro, iniciou o processo de validação do diploma em julho de 2018. Em agosto de 2019 fez o NCLEX (prova da enfermagem) em Orlando. Em 2020, por conta da pandemia, o processo parou um pouco.

“Passei no IELTS em abril de 2021, a entrevista consular foi em 12 de novembro de 2021, visto de imigrante recebido 28 de dezembro de 2021 e chegada nos Estados Unidos no dia 02 de fevereiro de 2022. Meu processo não teve problemas, só atrasou por conta da pandemia. Do início a chegada nos estados foram três anos e meio. O processo tem burocracias a serem resolvidas, mas foi tranquilo”, relata.

Prestes a iniciar o trabalho, ele aguarda o Social Security e o Green Card. “Vou trabalhar em San Bernardino, no Southwest Medical Center em ICU (UTI). Acho muito importante esse movimento do governo. Nós vemos um aumento gigante de enfermeiros brasileiros e do resto do mundo aplicando para imigrar para os EUA. Tendo mais green cards, mais profissionais da saúde podem ser beneficiados, acelerando o processo consular também. De todos meus amigos e conhecidos que já imigraram e estão trabalhando só ouço coisas boas. Aqui o enfermeiro é valorizado em relação ao Brasil. Somente isso já é um ponto positivo a se buscar. Além do mais, a qualidade de vida nem se compara”, destaca.

Para ajudar mais brasileiros a conseguirem vir legalmente para os EUA, Miranda abriu a Brazilian Nurse Abroad, uma empresa que auxilia enfermeiros brasileiros tanto no Brasil quando os que já estão nos EUA a validarem seus diplomas.

Mas o processo não é assim tão fácil, nem rápido, ressaltam brasileiros que fizeram ou estão se regularizando para trabalhar na área nos EUA.

Processo imigratório

A advogada Liz Dell'Ome, membro da Associação Americana de Advogados de Imigração (AILA), salienta que os enfermeiros, especificamente, devem atender a uma série de requisitos, incluindo passar em exames de enfermagem e testes de inglês. “Especificamente, para se qualificar para a residência permanente, os enfermeiros devem passar no exame TOEFL ou IELTS, que avalia as habilidades de inglês do profissional em questão”, destaca.

Liz Dell'Ome explica também sobre o processo de visto. “Existem categorias de Green Cards baseados em emprego, como por exemplo EB-1e EB-2, que podem ser indicados para esses profissionais, após uma rigorosa análise de conquistas e realizações na carreira profissional, além de cerificações e nível acadêmico. De acordo com a lei de imigração dos EUA, existe a opção pelo chamado Schedule A, que é especificamente para profissionais de saúde, como enfermeiros e fisioterapeutas”, afirma.

A advogada ressalta ainda que essa é uma das classificações de trabalho que o Departamento do Trabalho dos EUA designou devido ao fato de que não há número suficiente de trabalhadores americanos qualificados e dispostos a preencher essas funções. “O Departamento também zela para que a contratação de profissionais estrangeiros não afete negativamente os salários dos trabalhadores americanos nessas ocupações”.

Para se qualificar para o processo de Green Card pelo Schedule A, segundo a advogada, um profissional estrangeiro de enfermagem deve possuir um certificado pela Commission on Graduates of Foreign Nursing Schools (CGFNS) ou licença irrestrita para praticar enfermagem profissional no Estado americano onde planeja trabalhar.

“Os prazos podem variar muito, dependendo de cada profissional e sua formação, os comprovantes e certificados, experiência profissional, prazos de processamentos em todos os órgãos oficiais, etc”, analisa.

Para saber mais sobre o processo, acesse site do Departamento de Imigração.