Imigrantes são tratados como "animais" em prisões da Flórida, denunciam entidades

Relatórios revelam abusos sistemáticos contra detentos em centros de imigração nos EUA, incluindo humilhações, negligência médica e superlotação extrema

Por Lara Barth

Duas mortes foram semana passada.

Relatórios divulgados por grupos de defesa dos direitos humanos denunciam uma série de abusos contra imigrantes detidos em centros de detenção na Flórida, Estados Unidos. Segundo a Human Rights Watch, Americans for Immigrant Justice e o Sanctuary of the South, os detentos são forçados a comer de joelhos com as mãos algemadas para trás, em pratos de isopor no chão — uma prática descrita como “alimentação igual à de cães”.

Os relatos, reunidos em entrevistas com ex-detentos, apontam para episódios de maus-tratos em pelo menos três instalações prisionais do estado: o centro Krome North, um centro de transição em Pompano Beach e outro em Miami. Dezenas de imigrantes relataram ficar horas sem comida, presos em celas superlotadas e submetidos a condições insalubres. “Tínhamos que comer como animais”, afirmou Pedro, um dos entrevistados.

Em Krome North, mulheres detidas relataram ser obrigadas a usar o banheiro sob o olhar de homens, além de não receberem cuidados adequados, roupas de cama ou acesso a chuveiros. Já no centro de transição de Broward, onde uma mulher haitiana morreu em abril, denúncias indicam negligência médica sistemática e repressão violenta a protestos internos. Em um episódio citado, câmeras foram desligadas antes de uma ação violenta de guardas contra detentos.

Outros detidos relataram passar mais de 24 horas em ônibus estacionados devido à superlotação das unidades. Os veículos não possuíam condições sanitárias e rapidamente se tornaram ambientes insuportáveis. Ao ingressarem nas unidades, muitos eram deixados em salas geladas, conhecidas como “caixa de gelo”, dormindo no chão de concreto por dias.

Com a crescente política de repressão imigratória implementada durante o governo Trump, a situação nas prisões se agravou. Segundo o relatório, cerca de 72% dos mais de 56 mil imigrantes detidos diariamente em junho de 2025 não tinham antecedentes criminais. A resposta do governo incluiu a construção de uma nova prisão para 5 mil imigrantes nos Everglades, apelidada de “Alcatraz dos Jacarés”.

“A política caótica e cruel de prender e encarcerar migrantes está gerando uma crise humanitária”, alerta Katie Blankenship, cofundadora do Sanctuary of the South. “Isso terá consequências graves para a Flórida e para todo o país nos próximos anos.”

Fonte: Metrópoles