Denúncias de abusos e superlotação permeiam centros de detenção de imigrantes nos EUA

Relatórios revelam maus-tratos, negligência médica e repressão

Por Lara Barth

Desde janeiro, dez pessoas morreram sob custódia do ICE nos EUA — cinco na Flórida, sendo três no centro Krome

Uma avalanche de denúncias sobre violações de direitos humanos em centros de detenção de imigrantes nos Estados Unidos tem levantado sérias preocupações entre especialistas, parlamentares e organizações civis. Relatórios recentes divulgados por entidades como Human Rights Watch, Americans for Immigrant Justice e Sanctuary of the South expõem um cenário alarmante, marcado por maus-tratos, negligência médica e superlotação nas prisões do ICE (Serviço de Imigração e Controle de Alfândegas dos EUA).

Entre os casos mais chocantes, estão relatos de imigrantes obrigados a comer algemados, de joelhos, com pratos de isopor no chão — prática descrita como "alimentação igual à de cães". As denúncias incluem ainda celas superlotadas, falta de comida, longas horas sem alimentação e confinamento em ambientes frios e insalubres. Em algumas unidades, como o centro Krome North e instalações em Pompano Beach e Miami, ex-detentos relataram até 24 horas confinados em ônibus sem acesso a banheiros.

A nova instalação nos Everglades, apelidada de "Alcatraz dos Jacarés", inaugurada em julho, já acumula dezenas de chamadas ao serviço de emergência 911. Apesar de o governo estadual alegar que o local abriga apenas imigrantes perigosos, investigações revelam que apenas um terço dos mais de 700 detidos tem antecedentes criminais. O centro enfrenta ainda um processo movido por entidades como a ACLU, que questionam a falta de acesso a advogados e o risco de deportações sumárias.

Em nível nacional, a situação é igualmente grave. Mais de 57 mil pessoas estão atualmente presas por questões migratórias, número 45% acima do limite autorizado pelo Congresso. Casos de intoxicação alimentar foram registrados em centros como o de Tacoma, e denúncias de fome, perda de peso e racionamento de comida se multiplicam. Advogados e organizações como La Resistencia alertam para a redução de equipes de fiscalização e o colapso iminente do sistema.

A crise se intensifica sob a nova gestão do presidente Donald Trump, que retomou uma política agressiva de repressão à imigração. O diretor interino do ICE, Todd Lyons, confirmou que qualquer pessoa em situação irregular está sujeita à prisão, mesmo sem histórico criminal. Prisões colaterais em comunidades, repressão em locais de trabalho e promessas de alcançar 1 milhão de deportações por ano já resultaram em cerca de 150 mil deportações apenas nos primeiros seis meses de governo.

"Estamos diante de uma política caótica e cruel que está gerando uma crise humanitária com efeitos devastadores", alerta Katie Blankenship, cofundadora do Sanctuary of the South. "Essa situação exige uma resposta urgente e humanitária por parte das autoridades e da sociedade civil."