Denúncias de abusos e superlotação permeiam centros de detenção de imigrantes nos EUA
Relatórios revelam maus-tratos, negligência médica e repressão
Uma avalanche de denúncias sobre violações de direitos humanos em centros de detenção de imigrantes nos Estados Unidos tem levantado sérias preocupações entre especialistas, parlamentares e organizações civis. Relatórios recentes divulgados por entidades como Human Rights Watch, Americans for Immigrant Justice e Sanctuary of the South expõem um cenário alarmante, marcado por maus-tratos, negligência médica e superlotação nas prisões do ICE (Serviço de Imigração e Controle de Alfândegas dos EUA).
Entre os casos mais chocantes, estão relatos de imigrantes obrigados a comer algemados, de joelhos, com pratos de isopor no chão — prática descrita como "alimentação igual à de cães". As denúncias incluem ainda celas superlotadas, falta de comida, longas horas sem alimentação e confinamento em ambientes frios e insalubres. Em algumas unidades, como o centro Krome North e instalações em Pompano Beach e Miami, ex-detentos relataram até 24 horas confinados em ônibus sem acesso a banheiros.
A nova instalação nos Everglades, apelidada de "Alcatraz dos Jacarés", inaugurada em julho, já acumula dezenas de chamadas ao serviço de emergência 911. Apesar de o governo estadual alegar que o local abriga apenas imigrantes perigosos, investigações revelam que apenas um terço dos mais de 700 detidos tem antecedentes criminais. O centro enfrenta ainda um processo movido por entidades como a ACLU, que questionam a falta de acesso a advogados e o risco de deportações sumárias.
Em nível nacional, a situação é igualmente grave. Mais de 57 mil pessoas estão atualmente presas por questões migratórias, número 45% acima do limite autorizado pelo Congresso. Casos de intoxicação alimentar foram registrados em centros como o de Tacoma, e denúncias de fome, perda de peso e racionamento de comida se multiplicam. Advogados e organizações como La Resistencia alertam para a redução de equipes de fiscalização e o colapso iminente do sistema.
A crise se intensifica sob a nova gestão do presidente Donald Trump, que retomou uma política agressiva de repressão à imigração. O diretor interino do ICE, Todd Lyons, confirmou que qualquer pessoa em situação irregular está sujeita à prisão, mesmo sem histórico criminal. Prisões colaterais em comunidades, repressão em locais de trabalho e promessas de alcançar 1 milhão de deportações por ano já resultaram em cerca de 150 mil deportações apenas nos primeiros seis meses de governo.
"Estamos diante de uma política caótica e cruel que está gerando uma crise humanitária com efeitos devastadores", alerta Katie Blankenship, cofundadora do Sanctuary of the South. "Essa situação exige uma resposta urgente e humanitária por parte das autoridades e da sociedade civil."