Maioria dos detidos em grandes operações migratórias não tinha antecedentes criminais, revelam novos dados nos EUA

Levantamento mostra que recentes operações federais em cidades como Chicago, Los Angeles e Washington, D.C., prenderam majoritariamente imigrantes sem histórico criminal, apesar do discurso oficial de focar em criminosos.

Por Lara Barth

A agência não possui acordo formal com a empresa

Novos dados divulgados pela Agência de Imigração e Alfândega (ICE) e publicados pelo Deportation Data Project mostram que a maioria das pessoas presas nas mais recentes operações migratórias de grande porte nos Estados Unidos não tinha qualquer registro criminal — contrariando declarações do governo Trump de que as ações miravam prioritariamente imigrantes com histórico de crimes.

Em Chicago, onde a operação teve início no começo de setembro, as detenções diárias de pessoas sem antecedentes dispararam: de cerca de três por dia para mais de 45 em meados de outubro, um salto superior a 1.400%. No mesmo período, menos de 25 prisões diárias envolveram pessoas com acusações ou condenações criminais.

Em Washington, D.C., o padrão se repetiu. No fim de agosto, as detenções diárias de imigrantes sem registros criminais chegaram a 37, enquanto menos de dez pessoas por dia com acusações ou condenações foram detidas — nível semelhante ao período anterior à operação.

Apesar de uma queda no total de prisões desde o verão, Los Angeles também registrou alto percentual de detidos sem histórico criminal: em junho e julho, 63% dos inicialmente detidos não tinham condenações ou acusações. Em Memphis, Tennessee, mais da metade das detenções nas duas primeiras semanas de outubro também envolvia apenas violações civis de imigração.

Portland, Oregon, teve um cenário mais equilibrado entre prisões por motivos criminais e civis.

As operações, que contaram com participação da Patrulha de Fronteira em cidades como Chicago e Los Angeles, vêm sendo justificadas pelo Departamento de Segurança Interna (DHS) como ações focadas nos “piores criminosos”, incluindo gangues, sequestradores e traficantes. Porém, líderes como o “czar da fronteira” Tom Homan e o diretor interino do ICE, Todd Lyons, afirmaram publicamente que qualquer pessoa em situação irregular pode ser presa.

Em resposta às críticas, o DHS afirma que 70% das prisões desde o início do segundo governo Trump envolvem indivíduos com acusações ou condenações. Os novos dados mostram que esse número é de 66% no período entre 20 de janeiro e 15 de outubro — porém em queda constante desde abril, enquanto cresce rapidamente o número de detidos apenas por violações civis.

Apenas 7% dos detidos têm condenações por crimes violentos, como homicídio, estupro, agressão ou roubo. O levantamento não detalha a gravidade das acusações pendentes dos demais casos.

Em declaração publicada no X, a porta-voz do DHS, Trisha McLaughlin, reiterou que todos os detidos “quebraram as leis do país” ao estarem nos EUA sem status legal. No entanto, especialistas observam que a presença irregular é tipicamente tratada como violação civil — não crime — nos tribunais de imigração.

Fonte: CBS