ICE detém quase 75 mil imigrantes sem antecedentes criminais, mostram novos dados

Informações obtidas por meio de processo judicial revelam que mais de um terço das prisões feitas nos primeiros nove meses do governo Trump envolveu pessoas sem histórico criminal — contrariando o discurso oficial de foco em criminosos violentos.

Por Lara Barth

Segundo o FBI, o aumento recente das operações tem sido explorado por criminosos que usam o clima de medo e confusão para agir

Quase 75 mil imigrantes sem qualquer histórico criminal foram presos por agentes do Immigration and Customs Enforcement (ICE) entre 20 de janeiro e 15 de outubro, segundo novos dados divulgados pelo Deportation Data Project, da Universidade da Califórnia, em Berkeley. O total representa mais de um terço dos cerca de 220 mil detidos pela agência nos primeiros nove meses do governo Trump, apesar de o presidente e seus auxiliares afirmarem que as operações miram criminosos perigosos, como assassinos, estupradores e membros de gangues.

Para especialistas, os números contradizem a narrativa oficial. “Isso não condiz com o que o governo vem dizendo sobre priorizar condenados por crimes graves”, afirmou Ariel Ruiz Soto, do Migration Policy Institute. Os dados foram obtidos por meio de um processo contra o ICE, que deixou de publicar informações detalhadas sobre prisões desde janeiro.

O levantamento também não distingue tipos de delitos cometidos pelos detidos com antecedentes — podendo incluir desde infrações leves até crimes graves. Além disso, ele não contabiliza prisões feitas pela Patrulha de Fronteira, que tem conduzido operações agressivas em grandes cidades como Chicago, Los Angeles e Charlotte. Centenas de agentes foram enviados ao interior do país para localizar imigrantes sem documentos, prática que especialistas classificam como opaca. “Não sabemos quantas prisões estão sendo feitas, nem quantas resultam em deportação”, disse Ruiz Soto.

Sob forte pressão política, os escritórios regionais do ICE foram instados a aumentar drasticamente as detenções. Em maio, o assessor da Casa Branca Stephen Miller ameaçou demitir altos funcionários caso não atingissem 3.000 prisões diárias. Os números, porém, seguem distantes dessa meta: desde janeiro, a média tem sido de 824 detenções por dia — ainda assim, mais que o dobro da registrada no governo Biden em 2024.

O perfil dos detidos segue um padrão: cerca de 90% são homens, majoritariamente mexicanos (85 mil), seguidos por guatemaltecos (31 mil) e hondurenhos (24 mil). Mais de 60% têm entre 25 e 45 anos. Para setores que dependem de mão de obra imigrante, o impacto já é evidente. “Estamos sentindo isso na força de trabalho”, disse George Carrillo, CEO do Hispanic Construction Council, que apoia o reforço da segurança de fronteira, mas alerta para consequências econômicas das operações.

Ainda não está claro quantos detidos foram deportados, mas 22.959 optaram por “saída voluntária”, deixando o país por conta própria. Atualmente, 65 mil migrantes seguem detidos em centros administrados pelo governo federal.

Fonte: NBC