Paraíso turístico na Flórida vira alvo de operações migratórias: "Nunca vimos nada assim"

Estrada que liga as ilhas ao continente se transforma em armadilha, com bloqueios, revistas e prisões de imigrantes

Por Lara Barth

ICE realiza operações na Flórida

A única rodovia que conecta o arquipélago de Florida Keys ao restante dos Estados Unidos se transformou em um verdadeiro cerco migratório. Ao longo da A1A Overseas Highway — via que recebe cerca de 3 milhões de viajantes por ano — autoridades instalaram bloqueios e pontos de checagem para identificar e deter pessoas com pendências imigratórias. Em Key West, a cidade mais ao sul do país, a onda de prisões nas últimas semanas gerou pânico entre famílias de imigrantes e mobilizou organizações locais.

Com pouco mais de 4,2 milhas quadradas, Key West sempre cultivou um espírito boêmio e irreverente, que atraiu escritores como Ernest Hemingway e Tennessee Williams. Mas, com apenas uma estrada de acesso, o que já foi um refúgio turístico agora funciona, na prática, como uma armadilha.

Ativistas do Key West Immigrant Support Network (KWISN) já registraram mais de 300 prisões, em grande parte durante abordagens de trânsito. A maioria dos detidos eram chefes de família. O grupo ajuda com alimentos, assistência jurídica e alertas sobre operações policiais.

Em bairros como Stock Island, trabalhadores passaram a evitar sair de casa — até mesmo de bicicleta — com medo de serem parados. O clima se agravou após a prisão e deportação de Elvis García, estudante do ensino médio, poucos dias depois de completar 18 anos. O caso gerou indignação entre pais, professores e colegas.

Voluntários relatam abordagens prolongadas quando os motoristas falam com sotaque espanhol e descrevem condições duras em centros de detenção. Nas redes sociais, o KWISN publica avisos: “Evitem circular. Não dirijam.”

Autoridades também têm realizado ações no mar, abordando barcos de pesca. Após um acordo de cooperação assinado em julho, conhecido como 287(g), moradores acusam a polícia local de permitir que agentes federais avancem sobre a comunidade. Enquanto agências federais evitam comentar, cresce a sensação de “traição institucional”: imigrantes afirmam que dados fornecidos para obter trabalho e documentos agora estão sendo usados contra eles.

Fonte: El País