Imigrantes fortalecem a economia da Flórida

Por Marisa Arruda Barbosa

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O medo gerado na população imigrante desde que Donald Trump assumiu a presidência - começou a colocar em prática a deportação de milhões de imigrantes indocumentados - não parou de movimentar a economia local e nem os negócios que servem brasileiros.

“As precauções que eu tomava antigamente agora só estão redobradas”, disse o brasileiro L. A., que preferiu não ter seu nome divulgado por ser indocumentado. “Evito sair à noite, sempre me certifico que o seguro do meu carro está em dia, checo se os faróis estão funcionando para evitar de ser parado pela polícia, etc, mas não estamos gastando menos que antes”.

L.A. vive há pouco mais de um ano em Deerfield Beach com sua esposa grávida e mais dois filhos. Ele relata que o medo da deportação não faz com que eles deixem de frequentar supermercados, restaurantes, parques, etc. “A única coisa, por exemplo, é que falo para minha esposa não ir a supermercados como Walmart, Seabra ou perto do Home Depot logo cedo, quando muitos trabalhadores de mão de obra estão em busca de trabalho. Também evitamos ir a Miami. Minha sogra veio nos visitar e na hora de levar ao aeroporto preferimos chamar um Uber”.

O Supermercado Seabra, em Pompano Beach, conta com aproximadamente 12 mil clientes imigrantes e diz que está expandindo o espaço para uma loja de bebidas e uma filial em Boca Raton. A gerente, Caroliny Delgado, afirma que a onda de medo após Trump tomar posse não provocou perda no movimento. “Esses imigrantes que fazem a economia girar. Trabalhamos para imigrantes, importamos para os imigrantes”.

O mesmo acontece com o restaurante Viva Brasil, em Hollywood. Luciano Silva, dono do restaurante aberto há três anos, acabou de expandir o espaço e pretende realizar eventos e dobrar o quadro de funcionários, atualmente com 12 pessoas, até o segundo semestre.

“O nosso público aqui é bem variado. Atendemos muitos brasileiros que parecem bem estabelecidos nos Estados Unidos, além de várias outras nacionalidades”, disse Luciano. “Desde que abrimos, estamos crescendo sempre. Claro que temos altos e baixos no movimento, mas de um modo geral, estamos indo bem”.

A Flórida, estado que tem a quarta maior população de imigrantes do país, é o 13º estado americano que mais se beneficia da imigração, de acordo com análises feitas pelo WalletHub, um site de análise de finanças pessoais, mas está entre as Top 5 em alguns quesitos do estudo.

De acordo com o WalletHub, a Flórida está em quarto lugar na porcentagem de trabalhos gerados por negócios de imigrantes e está em quinto em relação à força de trabalho estrangeiro.

A prosperidade do negócio no Viva Brasil e Seabra tem influência direta na vida de trabalhadores locais. “Nós temos muitos funcionários que são brasileiros com dupla cidadania, mas também temos cubanos e muitos americanos atualmente em nosso quadro”, disse Luciano.

Empreendedorismo No sul da Flórida, imigrantes fundam seu próprio negócio em todas as indústrias, incluindo logística, bancos, tecnologia e mais. É mais provável que um imigrante seja um empreendedor do que não imigrantes. A probabilidade que imigrantes sejam donos de seu próprio negócio é 13% maior do que não imigrantes, de acordo com o US Small Business Administration.

“Em nenhum momento consideramos voltar para o Brasil. O que esperar de um país em que um trabalho seguro é ser funcionário público? Aqui nos EUA vemos que o sonho das pessoas é de ter o próprio negócio”, analisou L.A.

“EUA ainda é a melhor opção” Quando viu que Trump venceu as eleições, L.A. conta que virou para sua esposa e disse: “Vamos sair da Flórida”. Eles consideraram se mudar para Massachusetts ou a Califórnia, onde há cidades consideradas “santuário” para imigrantes, oferecendo assim mais proteção contra a deportação. “Mas, depois, resolvemos ficar para ver no que vai dar. Parece que essas cidades-santuário viraram o foco e é onde mais vemos nos noticiários que deportações estão acontecendo”, disse L.A.

Entretanto, segundo ele, o Brasil não é uma opção. “Nós vivíamos em Fortaleza, onde eu trabalhava como técnico de segurança. Lá não dá para se viver, mesmo com a vida corrida daqui e trabalhando com pintura, consigo ter mais momentos de lazer com minha família. Por exemplo, com $10 dólares eu posso fazer alguma coisa, mas com 10 reais não podíamos fazer nada. Aqui você não esbanja, mas vive bem melhor. Fizemos essa escolha pelos nossos filhos”.

Impostos Em pouco mais de um ano vivendo nos EUA, L.A. conta que já está trabalhando em seu imposto de renda referente a 2016. “O imigrante contribui muito para a economia local. Se pensarmos no brasileiro, ele gasta muito em restaurantes com carnes, por exemplo, nós compramos muitas coisas para nossos filhos também”, disse.

De acordo com um novo relatório divulgado pelo Instituto de Pesquisa da Florida International University, sobre Política Social e Econômica, imigrantes indocumentados contribuem $437 milhões de dólares para a economia do sul da Flórida, o que inclui o imposto de renda de L.A..

O instituto da FIU baseou seus cálculos a partir de novas estimativas sobre a população imigrante indocumentada feita pelo Pew Research Center, que levantou dados sobre taxas efetivas de imposto sobre vendas, propriedade e de renda pagos por famílias de baixa e média renda nos estados, como relatado pelo Institute on Taxation and Economic Policy.

O relatório da FIU foi feito com o objetivo de aumentar a consciência pública sobre as contribuições dos imigrantes indocumentados para as economias locais, segundo afirmou Ali Bustamante, autor do relatório e professor na FIU.

Ao mapear as principais áreas metropolitanas com maior população imigrante do país, o levantamento da Pew Research mostrou que, na Flórida, a área metropolitana de Miami-Fort Lauderdale-West Palm Beach tem 450 mil imigrantes indocumentados, com uma margem de erro de 30 mil. O relatório, de fevereiro, teve como base uma amostra de dados de censo de 2014.

Deportações podem afetar contribuição fiscal das cidades Com o risco de perder parte da população imigrante, a contribuição fiscal das cidades será afetada. Segundo Bustamante, “as receitas locais e estaduais são vulneráveis a mudanças econômicas, como a perda do turismo”.

De acordo com o relatório, imigrantes indocumentados têm gerado cerca de 7 a 8% das receitas fiscais do governo local. “Mas, considere a perda dessa contribuição. Esses impostos geralmente vão para apoiar serviços críticos na comunidade”, disse.

Em outras partes do estado, a perda de contribuições fiscais de imigrantes indocumentados também poderia ser significativa, como na área de Orlando, onde essa parcela da população contribui com $107 milhões de dólares, e a área de Tampa, que recebe $72,9 milhões de impostos de indocumentados. No total, os 11 milhões de imigrantes indocumentados que atualmente vivem nos Estados Unidos pagaram $11,64 bilhões em impostos estaduais e locais desde 2013, de acordo com o Institute on Taxation and Economic Policy.

Conceder status legal aos imigrantes indocumentados aumentaria as contribuições de impostos estaduais e locais em $2,1 bilhões de dólares por ano, diz o Instituto.

*Com informações do Sun Sentinel e South Florida Business Journal.