Imigrantes do sul da Flórida temem deportação em nova onda de repressão

Por Gazeta News

Em uma tarde de quarta-feira, chuvosa, uma menina guatemalteca de 16 anos entrou no escritório de uma agência de assistência jurídica da igreja em Miramar para uma consulta sobre seu futuro.

Ela carregava em seus braços seu filho de 7 meses, envolto em um cobertor colorido e peludo, e em seu coração levava uma fatia de esperança. Quatro meses antes, ela atravessou a fronteira mexicana para o Texas.

Indocumentada, ela disse que foi detida por 12 semanas antes de receber uma data para uma audiência de imigração no Texas e ser liberada. Em vez de esperar pela audiência, viajou para a Flórida para se juntar a um primo em Hollywood. Agora seu sonho é ficar nos EUA.

"Saí por causa da pobreza", disse a jovem mãe, que pediu para não ser identificada pelo nome porque teme ser deportada. "Não posso voltar para a Guatemala. Mas eu vejo o que está acontecendo no noticiário. Estou assustada".

Em todas as comunidades de imigrantes do sul da Flórida, "há um grande medo", disse o veterano advogado de imigração de Fort Lauderdale, Michael Shane. "As pessoas estão extremamente preocupadas, incluindo cidadãos naturalizados que não têm motivo para se preocuparem. Eles sentem que este não é mais o seu país".

Por trás dos temores crescentes está a repressão anunciada pela administração Donald Trump sobre imigrantes indocumentados e que coloca em risco de deportação 11 milhões de pessoas nos Estados Unidos. Deste total, cerca de 450 mil são moradores dos municípios de Broward, Palm Beach e Miami-Dade, a quinta maior concentração do país, de acordo com as últimas estimativas do Pew Research Center.

Em um fórum de negócios em Washington na última quinta-feira, 23, o presidente Trump defendeu sua política expandida de deportação alegando que a administração estava colocando para fora "os caras maus deste país".

Nas últimas semanas, Shane disse que conversou com muitos clientes que não conseguem conter suas emoções quando percebem que suas famílias podem ser destruídas por deportações."Em meu escritório passam muitos casos como estes", disse Shane, na prática desde 1978, acrescentando: "Eu nunca vi nada parecido".

Os memorandos emitidos esta semana pelo Departamento de Segurança Interno, assinados pelo secretário John Kelly, todo o imigrante que vive ilegalmente nos EUA que foi condenado ou mesmo suspeito de algum crime - mesmo que seja uma infração de trânsito - está sujeito a remoção rápida.

Isso representa uma expansão do número de pessoas-alvo de deportação em comparação com a política seguida pelo governo Obama, que se concentrou apenas nos condenados por crimes graves.

A política de Trump chamou a atenção de Sid Dinerstein, ex-presidente do Partido Republicano de Palm Beach County."Ele vai atrás de criminosos. Quem poderia estar contra isso? Mas, os imigrantes indocumentados estão temerosos e preocupados porque temos um presidente que pode, de uma só vez, aplicar leis que as pessoas votaram ao longo dos anos".

Os defensores de imigrantes do sul da Flórida dizem que muitas pessoas estão apreensivas com a possibilidade de serem deportadas sob as novas políticas.

"As pessoas estão chegando e pedindo ajuda, mas para fazer arranjos para seus filhos quando forem deportados", disse Randy McGrorty, diretor executivo da Catholic Charities Legal Services, um braço da Arquidiocese de Miami que administra a clínica de direito de Miramar .

Muitos especialistas legais e defensores de imigrantes afirmam que a logística de deportações em massa num futuro próximo torna a ameaça impossível de ser realizada.

"Levará de cinco a dez anos para as agências de execução e os tribunais fazerem o que Trump está falando", enfatizou o advogado de direitos de imigrantes do sul da Flórida, Ira Kurzban.

Apesar disso, imigrantes, incluindo alguns que têm residência legal - o chamado green card - ou cidadania, estejam imunes à ansiedade sobre as incertezas do futuro.

Com informações do Sun Sentinel