Até mesmo as favelas brasileiras tem servido de inspiração para outro país. Um grupo de arquitetos da Índia quer levar algumas lições aprendidas nas favelas do Brasil para Mumbai, com a intenção de melhorar as condições de moradia em regiões pobres da cidade indiana.
Arquitetos e urbanistas do Institute of Urbanology - uma fundação dedicada à pesquisa e difusão de ideias de urbanismo - acreditam que várias iniciativas do governo indiano de reconstruir conjuntos habitacionais acabaram produzindo apenas corrupção, prédios decrépitos e vizinhanças miseráveis.
De acordo com o “Terra”, em alguns casos, as condições de vida dos moradores nos novos blocos até mesmo piorou, quando eles trocaram seus casebres nas favelas por esses novos apartamentos. Os arquitetos indianos visitaram a favela de Paraisópolis, em São Paulo, este ano, e ficaram empolgados com o que viram. Em vez de destruir casebres e construir conjuntos habitacionais novos, a maioria dos moradores da favela deu um “jeitinho” na sua própria casa.
Segundo os profissionais do Institute of Urbanology, isso é muito mais eficaz para melhorar as condições de moradia do que simplesmente destruir favelas inteiras.
“Casas-ferramentas”
Matias Echanove, que participa do coletivo acadêmico de urbanismo Urbz, envolvido na viagem a Paraisópolis, aponta quatro problemas na construção de novos conjuntos habitacionais para substituição de favelas. Primeiro, para que os apartamentos tenham preços acessíveis, os construtores precisam reduzir muito o custo da obra, o que compromete a qualidade do material usado.
Outro problema é que os conjuntos habitacionais acabam com o que Echanove chama de “casas-ferramentas” - moradias que são usadas também como estabelecimentos comerciais. “Quando as pessoas perdem as suas casas nas comunidades, elas também perdem os seus negócios. Para a economia local, isso pode ser uma coisa ruim”, disse Echanove à BBC Brasil.
O terceiro fator é o convívio social, que fica comprometido, pois as pessoas em prédios habitacionais interagem menos do que em comunidades como favelas.
“Uma coisa que nos chamou a atenção em Paraisópolis é que em partes da favela nós tínhamos uma sensação maior de segurança do que em outros pontos de São Paulo, como no Centro da cidade, onde havia vários traficantes e usuários de drogas. Nas favelas, há mais famílias e trabalhadores circulando, o que torna o ambiente bem mais agradável”. Por fim, o urbanista acredita que a construção de prédios leva à corrupção. “O setor de construção é sempre um dos mais corruptos da economia. Em geral, são sempre os mesmos agentes que ganham os contratos públicos.”