Indocumentado não é terrorista

Por Gazeta Admininstrator

Desde já, sabemos que, mesmo usando toda a tecnologia existente e por existir nas próximas décadas, seria possível ao aparelho do Estado norte-americano, monitorar as conversas e o dia a dia de 14 a 16 milhões de imigrantes indocumentados que, estima-se, vivem, atualmente no País.

Portanto, do ponto de vista literalmente prático, o projeto de lei que acaba de ser aprovado por apenas 30 votos na Câmara de Representantes (Deputados Federais) é apenas somente uma peça tristemente preconceituosa no jogo entre Democratas e Republicanos em torno da questão dos ilegais.

Foi enviado ao Senado norte-americano o projeto de lei que regulamenta as escutas eletrônicas e que dá à Agência Nacional de Segurança (NSA) o poder de espionar imigrantes ilegais dentro dos Estados Unidos, sem necessidade de ordem judicial.

O “jogo-do-faz-de-conta” que reflete bem o incrível nervosismo pré-sucessório do Presidente Bush, coloca de um lado os “Republicanos” atrelados à direita radical que, se pudesse, expulsaria do país, a rodo, os milhões de imigrantes sem documentos; e do outro, com um ar pouco convicente, os “Democratas” defendendo uma solução para as vidas dessas pessoas.

Sou muito cético quanto ao “radicalismo” de uns e outros. Afinal, como mestres do pragmatismo que ambos os partidos norte-americanos são, mudar de posição se tornou tão frugal quanto trocar de cueca (ou de calcinha, se desejarem um tom igualitário-feminista).

Nessa “dança do mambolê”, quem dança mesmo são os imigrantes que só querem trabalhar, sustentar as famílias e educar os filhos.

Mas, se formos levar realmente a sério esse “catatau” de demagogia que assola os Estados Unidos num momento de evidente declínio moral e ético, saem os indocumentados com mais uma pequena derrota em sua luta por reconhecimento e solução.

Mesmo que uma lei mais “protecionista” vingasse na Câmara e no Senado, Bush já tinha avisado que vetaria. Aliás, sabendo como bem sabe que já é o presidente mais impopular da História dos Estados Unidos, Bush resolveu assumir de vez o fisiologismo republicano e não vai dar nenhum espaço. Até porque, ainda tem-se esperança que, na briga entre Hilary-Obama-Edwards, os democratas acabem destruindo a vitória que lhes parece certa em 2008.

E os indocumentados com isso?

Republicanos e Democratas estão na verdade fazendo as contas para ver se “realmente” a questão dos indocumentados será o tal “fator decisivo” nas eleições do próximo ano.

A depender do que concluírem, tere-mos mais ou menos chances de uma solução rápida para este que é um dos problemas cruciais da Nação norte-americana.

Não haverá paz, serenidade e muito menos construtivismo enquanto os mi-lhões de trabalhadores e pessoas de bem, casualmente indocumentados, sejam tratados como criminosos.

Muito pelo contrário. É como armazenar um barril de pólvora bem ao lado de uma fábrica de fogos de artifício. Apertar o torniquete em que já vive sob estresse, nunca foi e nem nunca será uma alternativa inteligente.

Indocumentado é apenas alguém que não possui certos documentos e não conquistou (ainda) o direito de viver e trabalhar legalmente neste país.

Indocumentado não é terrorista.