A intolerância com os intolerantes - a violência causada pelo extremismo

Por Arlaine Castro

charlottesville-FA
A tolerância nas relações sociais está cada vez mais difícil de ser alcançada em um mundo com tamanha diferença de pensamento, credo e interesses. Recentemente, a marcha que reuniu pregadores do ódio racial e matou uma pessoa e deixou 30 feridas na cidade de Charlottesville, na Virgínia, na sexta-feira, 11, e no sábado, 12, levantou o debate sobre o respeito ao próximo e os limites da liberdade de expressão em sociedade. Na marcha, na cidade de apenas 47 mil habitantes supremacistas brancos gritaram livremente slogans contra judeus, negros, muçulmanos e latinos. Eles também exibiram bandeiras nazistas e dos Estados Confederados, que no século 19 se negavam a abolir a escravidão nos EUA, conforme explicado pelo João Paulo Charleaux, na revista Nexo. Na sexta, manifestantes caminhavam pelas ruas da cidade carregando tochas e usando túnicas e chapéus pontudos , lembrando a ação da Ku Klux Klan - grupo formado por ex-militares confederados que, por anos, perseguiu, linchou, enforcou e queimou pessoas negras no sul dos EUA. Outras pessoas portavam armas, incluindo fuzis, e usavam uniformes militares, fazendo uma proteção miliciana da marcha, mas o grupo entrou em choque com manifestantes contrários e também com a polícia. O que aconteceu em Charlottesville pode indicar uma volta aos tempos onde não havia liberdade de expressão e tudo era motivo para mortes. Resgatar pensamentos e atitudes como dos grupos extremistas, coloca a questão da convivência e intolerância muito mais importante e temerosa do que se imagina para o futuro da humanidade. Sobre o ódio e a intolerância, Voltaire, filósofo francês nascido em 1694, discursou desde sua época que a intolerância já acontecia muito e principalmente entre as denominações religiosas, como os cristãos, que segundo ele deveriam dar exemplo de tolerância ensinando o perdão. Com a afirmação de Voltaire na obra Dicionário filosófico, percebe-se que, desde que o mundo é mundo, o homem insiste em promover a discórdia e a guerra, e só a tolerância pode fazer do homem um ser mais compreensivo. Segundo o filófoso, o conhecimento humano é limitado e por isso está sujeito ao erro; nisso consiste a razão da tolerância, que é privilégio assegurado e reservado à humanidade. Voltaire evidencia ainda que “a tolerância não é aceitar tudo que se encontra pelo mundo, mas sim o ato de respeitar”. Outro antigo pensador que realçou o debate em relação à tolerância a discursos de ódio é o filósofo austríaco Karl Raimund Popper, que em 1945 escreveu o estudo sobre a teoria Paradoxo da Tolerância – desenvolvido quando os judeus, como ele, estavam sendo perseguidos e mortos pelo regime nazista na Europa, nos anos 1930 e 1940. Seu estudo foi nomeado “paradoxo” justamente porque, para Popper, a tolerância só pode seguir existindo numa sociedade se seus defensores se dispuserem a também ser intolerantes com os intolerantes.