Intuição x Fantasia - Viver bem

Por Adriana Tanese Nogueira

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Intuição é uma percepção que parece com uma fantasia mas, diferentemente desta, traz um vislumbre do que vai ser. Para saber distinguir uma da outra, é preciso ter o próprio ego sob controle. E aqui é que está a dificuldade.

Ao desejar, tencionamos nossos pensamentos e sentimentos na direção do almejado e, desta forma, “poluimos” o olhar interior. Criamos verdadeiras fantasias baseadas no desejo e, pior, tudo isso já vem embutido de uma velada censura que bloqueia tudo o que não combina com o quadro que queremos enxergar.

Esta atitude é claramente visível nas relações sentimentais, pelo menos para quem olha de fora. A escolha de uma pessoa está imbuída por motivos e sonhos de várias natureza. A cegueira nasce, as fantasias são mais fortes do que os próprios sentimentos. São muitos os casamentos baseados em fantasias. Por que? Porque uma fantasia é um prato cheio de satisfações, preenche um vazio grande, pois apresenta um quadro completo de elementos. Quando fantasiamos, nós visualizamos como que um filme, uma história com começo, meio e fim. Isso nos alivia, dá um sentido ao que vivemos e, ainda por cima, é agradável. Por que precisamos de um sentido? Porque tudo na vida se faz suportável, decente, viável se estiver alinhavado dentro de uma história. Uma história é um conjunto de elementos interligados de forma lógica e sensata. Nós, humanos, precisamos de histórias para encontrar nosso lugar e um lugar para nossas dificuldades e sofrimentos. Por este motivo, a fantasia vence sobre a realidade, inclusive a sentimental. Quando, ainda por cima, estamos precisando de gratificação, a fantasia ganha domínio absoluto!

Agora, a intuição fala de realidades. Pode ser uma realidade presente ou um desenvolvimento futuro – mas fala do real. E este real nem sempre é o que queremos enxergar. Por este motivo, para ter intuições, precisamos segurar o ego e suas vontades. Diferentemente da fantasia, a intuição não tem dono e não responde a donos.

A intuição capta acontecimentos não visíveis “a olho nu”, ou seja, pelo pensamento corriqueiro do cotidiano. Para conseguir enxergá-los é preciso ter o horizonte livre dos desejos do ego, seja eles a favor ou contra. A intuição é um fenômeno livre. Da mesma forma que um raciocínio lógico não pode ser dobrado conforme interesses pessoais, assim a intuição precisa de ar puro para operar.

Quando não temos clareza do que de fato sentimos, se torna complicado distinguir fantasias de intuição. Com mais frequência do que se imagina, há pessoas que percebem algo por entre as névoas, mas evitam focar. Têm medo. Ao nos cegarmos intencionalmente, é claro que afastamos futuras intuições. Enfim, quando a intuição é usada no trabalho (desde cartomantes a psicólogos), é preciso prestar ainda mais atenção ao nosso ego, pois não só a personalidade de cada profissional como seus interesses profissionais podem atrapalhar o caminho. Para se ter boas intenções é preciso se desprender dos resultados (dinheiro, poder, medo, etc.).

Quem já teve uma intuição deve ter notado que ela chega num momento de “distração”. Na fronteira entre o que é e o que ainda não existe, no espaço livre das pegajosas exigências do ego, lá a intuição pode viver.

Concluindo: a fantasia é a representação de um desejo pessoal; a intuição, a ‘foto’ não-racional de uma realidade que precisa ser decifrada para que seja útil para a nossa vida.