Irã restringe visual dos jogadores de futebol do país

Por Gazeta Admininstrator

Uma recente decisão da Federação de Futebol do Irã de proibir jogadores de adotar um visual "incomum" ou "estrangeiro" está gerando um acirrado debate entre os fãs do esporte no país.
No mês passado, a Federação pediu às equipes iranianas que advertissem seus jogadores a adotar uma "aparência apropriada" não apenas dentro do campo, mas também quando eles estivessem participando de excursões.

A federação estipulou que jogadores profissionais não devem fazer permanentes, usar rabos-de-cavalo ou colares, anéis ou brincos.

O órgão máximo do futebol iraniano também determinou que os atletas não devem usar roupas apertadas, deixar crescer barbas "estranhas" ou copiar estilos "estrangeiros".

Descontentamento

A restrição causou o descontentamento de jogadores como Ali Mansourian, do time Esteqlal. Ele tem por hábito raspar sua cabeça e alguns de seus companheiros de equipe têm cabelos longos.

Mansourian argumenta que a aparência de um jogador é algo que só diz respeito a ele mesmo.

"Eu sou contra dizer ao senhor fulano ou ao senhor sicrano: 'Corte seu cabelo' ou 'Não use certo tipo de roupas'. Vejam o Islã, por exemplo, o cabelo do Profeta Maomé era comprido. Ele era um homem bonito", defende.

Mas houve também atletas que defenderam a medida, como é o caso de Mojtaba Jabari, que integrante da Seleção do país. O Irã se prepara para disputar a Copa do Mundo de 2006.

"O que quer que ele faça, um jogador de futebol deve sempre ter boa aparência. Como estamos disputando uma Copa do Mundo, é melhor que os jogadores procurem se aprimorar em vez de ficar se preocupando com seus cortes de cabelo", afirma Jabari.

Exemplo

A federação argumenta que os jogadores devem respeitar os valores islâmicos do país e dar um bom exemplo para a juventude iraniana.

"Todo país possui um certo tipo de conduta em relação a comportamento, vestimentas e modo de falar", afirma Iraj Nadimi, que integra o Comitê Parlamentar de Esportes do Irã, órgão ao qual a Federação de Futebol do país é obrigada a responder.

"Aqui é a mesma coisa. Acredito que a maior parte de nossos atletas sabem disso. A liberdade não é baseada em gostos individuais. Por exemplo, se você quer andar pela rua nu, isso não representa liberdade. E não aceitamos que um atleta se comporte dessa forma", acrescenta o parlamentar.

"Nossos atletas servem de modelos comportamentais e usam bens públicos, como nossos estádios. Por isso, precisam seguir estes princípios", diz Nadimi.

Torcedores

Alguns dos torcedores iranianos prendem seus cabelos compridos com bandanas. Muitos usam rabos-de-cavalo, brincos e anéis de ouro.

Alguns dizem não se inspirar no estilo dos atletas. É o caso do jovem Mohammad, de 20 anos, que conta que se baseia mais no estilo de músicos como o rapper americano Eminem.

"A maneira como os jogadores cortam seu cabelo não é, em minha opinião, um problema. Mas se eles começam a fazer suas sobrancelhas, passa a ser um problema", comenta Mohammad.

Outro torcedor, Mehdi, de 27 anos, afirma que a medida restringe a liberdade dos jogadores de futebol. "É algo muito ruim. Acredito que todas as pessoas são livres, e não devemos misturar esporte e política. Não é algo bom."

Ainda não está claro de que forma aqueles que desrespeitarem essas restrições serão punidos.

Alguns membros da federação dizem que jogadores que infringirem as regras serão multados e impedidos de jogar, mas a declaração oficial da entidade afirma apenas que os atletas serão "observados" e "estimulados" a adotar as normas.

Dois jogadores do país já receberam advertências sobre seus cortes de cabelo.