Iraque, em choque, enterra os mortos no tumulto em Bagdá

Por Gazeta Admininstrator

Parentes desconsolados dos cerca de mil iraquianos mortos no tumulto de quarta-feira em Bagdá ainda vasculhavam hospitais e necrotérios, um dia após a tragédia. O país está enlutado pelo episódio, que chegou a desviar a atenção da violência diária da guerra. Houve enterros na capital durante todo o dia e carros levando caixões formam caravanas nas estradas para fora de Bagdá.

O Ministério do Interior situa a contagem oficial de mortos em 965; os feridos são 320. O número de mortos ainda pode passar de mil, porque nem todos os corpos espalhados em vários hospitais e necrotérios da cidade foram contados.

- As vítimas estão divididas em seis hospitais, que estão abarrotados, e é muito difícil fixar uma cifra. Além disso, o estado de alguns feridos é muito grave - disse um porta-voz do ministério; segundo ele, os mortos já são 1.033.

As vítimas era xiitas que se encaminhavam em massa para uma mesquita de Bagdá, durante um festival religioso, de que 200 mil participavam. No meio da procissão, numa ponte sobre o Rio Tigre, irromperam rumores de um ataque iminente. Um homem-bomba estaria entre os peregrinos. A confusão alastrou-se. Os mortos e feridos foram pisoteados, esmagados e asfixiados. Muitos dos que se jogaram da ponte ou caíram no Rio Tigre morreram afogados. Nenhum outro incidente isolado deixou tantos mortos no Iraque desde a invasão das tropas lideradas pelos EUA.

No Cetro Médico da Cidade de Bagdá, famílias levantam uma série de cobertores coloridos, esperando e temendo, ao mesmo tempo, achar sob eles um parente desaparecido. O mau cheiro é intenso.

Tendas para cerimônias funerais foram erguidas na cidade de Sadr, um bairro xiita muito pobre de Bagdá. Muitos corpos, então, seguiram viagem para Najaf, a cidade sagrada dos xiitas, para o sepultamento. A estrada para Najaf estava engarrafada de minivans e carroças. A segurança foi reforçada, com dezenas de policiais e postos de controle instalados na cidade.

Os três dias de luto oficial iniciados nesta quinta-feira aquietaram o país, tristemente habituado à violência diária da guerra, mas que entrou em choque com a tragédia dos peregrinos. O sentimento atravessa divisões étnicas e políticas, apesar dos temores de que o tumulto tivesse sido fruto de um estranho tipo de atentado: matar causando pânico.

O primeiro-ministro Ibrahim Jaafari ordenou o pagamento de 3 milhões de dinares (US$ 2 mil) para cada família que perdeu um membro no incidente.

Até agora, não se tem certeza de que o boato foi disseminado para causar pânico ou se o próprio rumor foi resultante do pânico de alguém, resultado da tensão diária no país. Mais cedo, sete pessoas haviam morrido em ataques de morteiros lançados perto da mesquita que recebia o festival religioso, e insurgentes assumiram o ataque.