Italiano deve ser deportado por violência doméstica contra brasileira

Por Arlaine Castro

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Após o ocorrido, Marongiu foi preso em flagrante por agressão caracterizada como violência doméstica e possivelmente não terá direito à fiança por já ter duas passagens pela polícia por posse de drogas e, segundo Kariza, poderá ser deportado para Itália, uma vez que não está legalmente no país.

“Confirmei no depoimento do hospital que foi violência doméstica e a polícia emitiu então uma ordem de restrição. Ele tinha visto de turista quando casou comigo. Após o casamento ele saiu sem se importar como iria entrar novamente, preferiu arriscar e viajar comigo. Ele nunca fez questão de dar entrada nos papéis de imigração para se legalizar porque para ele era uma forma de mostrar que casou comigo por amor e não por interesse em se legalizar”, conta.

Relacionamentos abusivos

[caption id="attachment_127442" align="alignleft" width="246"] O casal estava junto há pouco mais de dois anos em um relacionamento conturbado. Foto: arquivo pessoal.[/caption]

Kariza e Michele se casaram em Miami no dia 15 de agosto de 2014. Com dois filhos de relacionamentos anteriores, uma filha de 13 anos e um filho de 9 anos, ela relata ter passado por outros relacionamentos abusivos antes desse último, mas aceitou o pedido de casamento de Michele Marongiu.

Nascido na Itália, Marongiu, chef de gastronomia, veio para os Estados Unidos em 2013. Pouco mais de um mês após o casamento, foram para a Sardegna, na Itália, depois para o Dubai e por fim o Brasil. Durante essas viagens aconteceram diversas brigas intensas onde sempre estiveram presentes pessoas para testemunhar os altos gritos de socorro de Kariza.

"Eu me sentia muito confusa, sem saber o que fazer, devido a intensidade das discussões, existia uma guerra de sentimentos dentro de mim. Eu comecei a acreditar que essas brigas eram normais, porém, com o passar do tempo elas só foram intensificando".

Após a última viagem saindo do Brasil para Miami, em fevereiro de 2015, Michele Marongiu foi barrado no aeroporto do Panamá, onde faziam escala, porque seu visto americano estava vencido. Sem muita opção, a brasileira seguiu até Miami como planejado e Marongiu foi para Nassau, nas Bahamas, para de lá seguir para a ilha de Bimini - o ponto mais próximo de Miami. Após um mês, ele conseguiu entrar ilegalmente nos Estados Unidos com um grupo de imigrantes em um barco a vela.

Ela conta ainda que, com sentimento de culpa o aceitou de volta, mas, mesmo com todo esforço para agradá-lo, as brigas foram se intensificando, até que, em uma delas, o italiano deu murros na parede abrindo vários buracos no gesso do apartamento e ameaçou Kariza de morte ao agarrar o seu pescoço.

"Aquela vez eu jurava que ele iria me matar! Eu senti que iria morrer se me separasse dele. Foi muito intenso! Michele acreditava no amor de Romeo e Julieta e sempre comentava isso comigo, que gostaria de reviver a mesma estória de amor!", conta.

Conforme relata a brasileira, o marido falava normalmente em suicídio e como era normal um homem matar a mulher que trai o marido lá na Sardegna, onde nasceu. “Sei que ele falava isso pra me assustar e nunca trair ele, mas eu nunca levei muito a sério”, conta.

A luta contra a violência doméstica

Após o relato da agressão em um video no facebook na última semana, Kariza vem recebendo apoio de várias mulheres e inclusive relatos de outras mulheres que também sofrem ou já sofreram agessão física eou verbal dos parceiros. “Inclusive muitas delas eu conheço e não sabia que já haviam passado por isso no passado. Muitas que não conheço também estão agradecendo pela coragem em me expor e dizem que estou servindo de inspiração para possíveis futuras vítimas”, diz.

“Recebi mais de 100 mensagens e relatos de mulheres de várias nacionalidades e estou planejando abrir a KARIZA.ORG, uma ONG para unir forças com mulheres do mundo inteiro. Estaremos aliadas a advogadas que ajudarão vítimas de violência doméstica a se legalizarem nos Estados Unidos - eu me legalizei dessa forma e já ajudei amigas em situações parecidas - os Estados Unidos oferece muitos recursos para vítimas de abuso. Seja psicológico ou físico”, explica.

Ela pretende abraçar a causa e lutar para ajudar outras mulheres na mesma situação. “Essa causa agora faz parte do meu dia a dia! Eu sempre quis participar e ajudar uma causa humanitária, mas nunca me identifiquei com nenhuma até tudo isso acontecer. Agora tenho 100 % de certeza da minha missão na Terra, e quero ajudar o máximo de mulheres possível. Que o mundo todo se conscientize e que essas vítimas passem por cima dos traumas, não se sintam envergonhadas e não se calem sobre um assunto tão importante”, menciona.

Na terça-feira, 3, Kariza passou por uma cirurgia pra reconstruir o maxilar, imobilização do maxilar, mas ainda faltam duas cirurgias e implantes dos dentes.

Foj aberta a campanha gofundme para ajudar a brasileira com os gastos com as cirurgias, remédios, gasolina, aluguel e comida, tendo em vista que ela ficará pelo menos dois meses sem poder trabalhar. Para contribuir, clique aqui.

Vídeo publicado pela brasileira sobre a agressão.

A violência doméstica em números

A OMS e a Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres descobriram que mais de 35% de todos os assassinatos de mulheres no mundo são cometidos por um parceiro íntimo. Em comparação, o mesmo estudo estima que apenas 5% dos assassinatos de homens são cometidos por uma parceira.

Os casos de feminicídio íntimo têm crescido nos últimos anos entre as grávidas, segundo relatos de polícia e registros médicos coletados pela OMS.

A ONU estima que, no mínimo, 5 mil mulheres são mortas por crimes de honra no mundo por ano. Os assassinatos ocorrem de diversas formas, como por armas de fogo, facadas e estrangulamentos; também sendo comuns que as mulheres sejam mortas queimadas, apedrejadas, obrigadas a tomar venenos e jogadas pela janela.

Algumas instituições calculam que 25 mil mulheres recém-casadas são mortas ou mutiladas a cada ano, como resultado da violência relacionada ao dote. Neste caso, grande parte das mulheres tem o corpo incendiado.