Itamaraty investiga roubos milionários no Consulado de Nova York

Por Gazeta News

Além de denúncias de assédio moral e greves, o Ministério das Relações Exteriores está investigando roubos milionários no Consulado de Nova York.

Um roubo que vem sendo praticado há pelo menos seis anos e que já chega a $1 milhão de dólares no Consulado de Nova York foi incluído na lista de investigações do Ministério das Relações Exteriores em seus postos no exterior, denunciou a revista “IstoÉ”.

O crime é investigado sob sigilo há aproximadamente seis meses e já provocou a demissão por justa causa de três funcionários não concursados e contratados nos Estados Unidos, conhecidos como funcionários locais.

O esquema estava ligado à retirada do visto brasileiro por americanos. Para obter tal visto, os americanos precisam pagar duas taxas. Uma pelo visto propriamente dito e outra de reciprocidade, cobrada para equiparar os valores pagos pelos brasileiros que queiram obter o visto americano.

Desde 2009, essas taxas são pagas separadamente, enquanto no cadastro do turista aparecia apenas o valor desembolsado para a obtenção do visto e o sistema não acusava se a taxa de reciprocidade havia ou não sido quitada. De acordo com a revista, três funcionários antigos do Consulado em Nova York descobriram essa falha e passaram a desviar as taxas de reciprocidade. Um funcionário do Itamaraty com acesso à investigação disse que, no começo do golpe, esses funcionários devem ter arrecadado aproximadamente $5 mil dólares por mês, mas com o tempo esses desvios devem ter chegado a aproximadamente $1,8 mil por dia.

Esse golpe foi descoberto somente em fevereiro desse ano, quando servidores concursados chegaram ao Consulado e perceberam que a reciprocidade não estava sendo lançada. O caso foi levado ao Itamaraty, que escalou duas equipes para fazer a investigação.

Os acusados do esquema são Fernando Villa Paiva, Andréa Lanna e Rogério Anildo Jost. Eles foram demitidos por justa causa e devem responder judicialmente à polícia de Nova York, que foi acionada pelo Itamaraty.

Pessoas ligadas à investigação estimam que apenas com a taxa de reciprocidade, cerca de $600 mil dólares foram desviados. Por meio de sua assessoria de imprensa, o Ministério das Relações Exteriores confirma que a investigação está em andamento, mas se recusa a fornecer mais detalhes.

Mais denúncias

A revista disse ainda que, além desse esquema, teria sido descoberto outro no qual funcionários criaram empresas laranjas que ofereciam aos turistas americanos um processo mais rápido para a emissão de vistos em troca de uma terceira taxa.

Ainda de acordo com a revista, as investigações iniciais indicam uma possível participação da agência de turismo brasileira BACC Travel, cujo proprietário é o empresário brasileiro e idealizador do Brazilian Day, João de Matos.

Procurado pelo GAZETA, João de Matos nega qualquer envolvimento com o esquema dos ex-funcionários. “Estão querendo dizer que eu pago uma taxa para o Consulado para fazer o visto mais rápido. É mentira. Quando meus clientes da agência compram passagem comigo e querem contratar o serviço de vistos, que no Brasil é conhecido como despachante e aqui como ‘expediting service’, a minha agência cobra pelo serviço, que está dentro da lei. Ou seja, o cliente da agência que quer contratar o serviço de visto nos entrega o ‘money order’ no valor do visto e nos paga uma taxa pelo serviço, que é em torno de $70 dólares. Eles falam na reportagem de ‘empresas laranjas’ e a minha empresa não é laranja”.

João de Matos afirmou ainda que ficou sabendo das demissões que aconteceram nos últimos meses, mas até agora não entende como o desvio aconteceu. “As pessoas pagam o Consulado com ‘money order’, como eles teriam desviado? Enfim, também nem quero saber”.

Assim como na comunidade de Nova York, o nome do empresário também é conhecido entre funcionários do Consulado. “Eu já consegui passagens para brasileiros que chegam ao Consulado passando por dificuldades, quando funcionários do Consulado vão à minha feijoada  eu cedo camisas, enfim, algo que sempre fiz. Mas tudo que envolve o meu nome no Consulado está dentro da lei”, disse o empresário.

Funcionários locais

O caso do roubo nas taxas do visto evidencia a falta de servidores para atender a demanda em Nova York, um dos postos do Brasil no exterior que tem o maior volume de trabalho. O consulado de NY tem apenas um servidor concursado para trabalhar na emissão de vistos. Por isso, funcionários locais – que não possuem atribuições para o serviço – acabam fazendo o trabalho.

Desde a gestão do ex-presidente Lula, foram criadas mais de 800 vagas para oficiais de chancelaria e 400 para diplomatas, mas o Concurso não saiu do papel.

Greve

Além desse problema, o Itamaraty se deparou, na semana passada, com ao menos 70 dos 227 postos do Brasil no Exterior em greve. O Itamaraty afirma que a paralisação não afetou os serviços nos postos. A garantia do pagamento auxílio-moradia é a principal reivindicação dos servidores. Nos últimos meses, alguns postos chegaram a ficar sem luz e sem água por terem atrasado o pagamento das contas.