Justiça vai investigar denúncias de tráfico de crianças em caso de João de Deus

Por Gazeta News

Sabrina Bittencourt video facebook 2
O médium João de Deus, preso sob acusações de abuso sexual, pode estar envolvido também com tráfico de crianças do Brasil para EUA, Europa e Austrália. As denúncias foram feitas por ativistas aos Ministérios Públicos de Goiás e São Paulo. Nesta quarta-feira, 9, a ativista Sabrina Bittencourt continua a prestar depoimento para a força-tarefa do Ministério Público de Goiás, que investiga crimes cometidos pelo médium João Teixeira de Faria, conhecido como João de Deus. Além de Goiás, o Ministério Público de São Paulo também recebeu denúncias e encaminhou na última segunda-feira, 7, um pedido de investigação sobre uma suposta ligação de João de Deus com o crime de tráfico internacional de bebês e escravização de mulheres. Após graves denúncias das ativistas de Direitos Humanos Sabrina Bittencourt e Maria do Carmo postadas em vídeos na internet e também feitas diretamente à justiça de Goiás e São Paulo, os órgãos pedem ao Ministério Público Federal para abrir investigação. Ao Gazeta News, as ativistas confirmaram o teor das denúncias e disseram ainda que o apoio na divulgação é primordial para se fazer justiça. Em depoimento, João de Deus volta a negar abusos O depoimento de Sabrina Bittencourt teve início na tarde de terça-feira, 8, e terá continuidade na quarta-feira (9/1), segundo informações do Ministério Público de Goiás. Assim que concluídos, os depoimentos serão analisados e receberão os encaminhamentos cabíveis, inclusive com possível remessa ao MPF na parte afeta à sua atribuição. “Os fatos narrados serão tratados com a mesma seriedade e celeridade dispensadas aos demais casos já denunciados e em apuração pelo Ministério Público de Goiás”, afirmou a promotora Patrícia Otoni. Em um vídeo divulgado nas suas redes sociais, Bittencourt afirma que João de Deus faria parte de uma quadrilha de vendas de bebês e de escravização sexual de mulheres há pelo menos 20 anos. [caption id="attachment_177873" align="alignright" width="373"] O médium João de Deus chega à Casa Dom Inpacio Loyola, em Abadiânia.Foto Marcelo Camargo/Agência Brasil[/caption] Segundo ela, as crianças, muitas vezes geradas para esse fim por mulheres pobres do norte de Minas e da região de Goiás, seriam comercializadas por famílias nos Estados Unidos, Austrália e Europa por valores entre US$ 20 mil e US$ 50 mil. Sabrina ainda afirma ter depoimentos de mãesadotivas, ex-funcionárias e moradores de Abadiânia que eram coagidos pelo médium a participar do esquema. “Nós temos mulheres que são utilizadas como escravas sexuais. Em geral, mulheres negras e de baixa renda tanto em Abadiânia como em Anápolis. Mulheres do norte de Minas [Gerais] que viviam próximo aos garimpos ilegais de João de Deus”. No vídeo, a ativista também diz que João de Deus estaria envolvido com muitas ilegalidades. “Agente tem mapeado uma série de outros crimes”. De acordo com Bittencourt, mulheres seriam mantidas em cárcere privado como escravas sexuais. Forçadas a engravidar em troca de comida para seus filhos. Isso por 5, 10, 20 anos. Supostos abusos de João de Deus chocam pacientes que viajaram da Flórida até Abadiânia O advogado de defesa de João de Deus,Alberto Toron, disse que desconsidera a fala da ativista, segundo ela mesma descreve em sua rede social. “Continue ‘desconsiderando minha fala’ Alberto Toron. Que todas as pessoas que foram assassinadas por ele e sua quadrilha possam ter descanso, pois a justiça chegará”, escreveu. Nesta quarta-feira, 9, João de Deus passou a ser réu pelos crimes de estupro de vulnerável e violação sexual. Ele foi acusado por dezenas de mulheres de cometer os abusos durante tratamento espiritual na Casa Dom Inácio de Loyola, em Abadiânia, onde fazia atendimentos. O médium sempre negou os crimes. Após as denúncias de abuso sexual em dezembro, a força-tarefa do MP-GO foi instituída pelo procurador-geral de Justiça de Goiás, Benedito Torres Neto, no dia 10 daquele mês e é responsável pelo atendimento às vítimas de abuso sexual e investigação dos crimes cometidos por João Teixeira, conforme informando pela Assessoria de Comunicação do MP-GO. Quem é Sabrina Bittencourt Sabrina Bittencourt é uma ativista de direitos humanos e uma das criadoras do “movimento” Coame, sigla para Combate ao Abuso no Meio Espiritual, plataforma que concentra denúncias de violações sexuais cometidas por padres, pastores, gurus e outros pessoas que prestam serviço religioso ou espiritual e usam da função para abusar de outras pessoas. Por causa das denúncias, a ativista conta que sempre recebe ameaças de morte, e que por isso vive em áreas remotas do mundo sob proteção de organismos internacionais.