Katrina e a reforma imigratória - Editorial

Por Marisa Arruda Barbosa

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Esta semana, a manchete do Gazeta relembra os oito anos que o furacão Katrina passou pela cidade de Nova Orleans. Vale a pena relembrar algumas lições desse furacão que aconteceu há tanto tempo, mas parece tão recente.

Primeiro, é claro, qualquer devastação causada por um furacão assusta, principalmente a comunidade brasileira na Flórida – mas não somente, vide Sandy, no ano passado, que atingiu o nordeste americano.

Segundo, algo que demonstra muito a força do imigrante. Ao longo desses oito anos, pouco se falou sobre a comunidade imigrante na cidade – digo, de novos imigrantes, já que Nova Orleans é marcada pela grande mistura cultural. A força do imigrante é como o trabalho de formigas. Eles acordam todos os dias cedo para trabalhar e estão pouco presente em noticiários, propagandas, etc. Mas estão trabalhando.

Oito anos mais tarde, o National Council of La Raza realizou, pela primeira vez em sua existência, a conferência anual em Nova Orleans, como uma forma de demonstrar o exemplo de Nova Orleans para o argumento da reforma imigratória.

Enquanto políticos dizem que os argumentos da administração Obama são relativos, quando se discute o aumento de vigilância das fronteiras e números recordes de deportação – o que deveria agradar os republicanos -, exemplos como o de Nova Orleans não podem ser ignorados.

Alicia Criado, assessora para assuntos de desenvolvimento econômico do NCLR, disse, em declaração durante a abertura do encontro do NCLR, que nacionalmente, os latinos contribuem para o fortalecimento da economia americana e “esta região viu um aumento porque muitos latinos foram contratados no setor da construção para reconstruir Nova Orleans”.

Entrevistados na matéria desta semana disseram que a região é a mais tranquila dos Estados Unidos para o trabalho de indocumentados. Isso, com certeza, não é porque agentes de imigração tão eficientes não viram e não sabem, mas porque sabem que precisam desses imigrantes.

Se houver vontade política, o exemplo de Nova Orleans é nítido do quanto os imigrantes têm a contribuir para este país. Em um mês marcado por militantes da reforma imigratória pressionando congressistas locais no recesso do Congresso, esse deve estar entre os tantos argumentos para convencer a opinião pública pela reforma.

Esta semana, com a aproximação dos oito anos de Nova Orleans ouviremos muito sobre vários aspectos da cidade. Em um programa de rádio, um chefe de cozinha falava sobre a culinária tão única da região e uma terceira lição que devemos ter sobre o legado do “Katrina”. Hoje em dia já se fala, além de gumbo, jambalaya e cajun, sobre outras influências na cidade, como tacos. Em breve, disse o chefe, estaremos falando em taco creole, ou alguma mistura desse tipo, que tornará a cidade ainda mais rica culturalmente. Eis mais uma contribuição dos imigrantes.