Lesados por Falcão não sabem como recuperar o dinheiro

Por Gazeta Admininstrator

Por: Letícia Kfuri
Os brasileiros que denunciaram terem sido lesados pelo suposto investidor Antônio Falcão, afirmam ter poucas espe-ranças de recuperar o dinheiro entregue a ele em troca, na maioria das vezes, de cheques que, mais tarde, os bancos informaram não terem fundos.

Falcão era conhecido na comunidade brasileira como um promissor empresário dos ramos de transportes, real state e de investimentos. Eloqüente, simpático e habilidoso para fazer amizades, Falcão oferecia a seus “amigos” serviços de remessas de dinheiro para o Brasil e de investimentos, com remuneração em torno de 6% ao mês. Em alguns casos, os juros, de fato, eram pagos, mas o valor principal investido, não era devolvido.

No dia 4 de julho, Falcão saiu dos Estados Unidos deixando um prejuízo estimado em $2,5 milhões. Wanderlei Oliveira, proprietário do Oba Oba, afirmou ter apresentado denúncia à polícia de Broward pelo empresário Wanderlei Oliveira, proprietário do restaurante Oba-Oba, em Deerfield Beach, que afirma ter sido lesado em $50 mil.

Diversos leitores escreveram para o Gazeta afirmando que Falcão seria co-nhecido na comunidade como sócio de Oliveira e que, por isso, estão certos do envolvimento de Oliveira nos “negócios” de investimento de Falcão.

Segundo Oliveira, Falcão lhe foi apresentado por uma pessoa amiga, e logo tornou-se também seu amigo, passando a participar das atividades do restaurante. Por causa da proximidade surgida entre os dois, Oliveira diz ter passado a recomendar clientes de investimentos a Falcão. “Quando percebi, ele já estava usando o meu nome. Agora, as pessoas querem receber de mim o dinheiro que ele recolheu para investimentos”, disse Oliveira que, embora considere não ter obrigação, afirma estar tentando conseguir $106 mil para restituir a 12 investidores.

Ele afirma já ter ressarcido três pessoas, cujos nomes não quis revelar, num total de $5 mil. “Estive também no FBI e eles me orientaram a não divulgar nomes”, disse. Oliveira encaminhou à redação do Gazeta cópia de documento contendo o número da queixa apresentada ao Broward Sheriff, no início de julho, e afirma ter procurado também o FBI no final da semana passada para apresentar queixa.

Ao deixar o País com a companheira, Maria José Rosa, conhecida como Zeza, Falcão foi levado ao aeroporto pelo cu-nhado Eduardo Lucas, que afirma que não tinha conhecimento que Falcão estava deixando dezenas de clientes no prejuízo. “Ele não disse o que iria fazer no Brasil...Eu sou uma vítima igual a qualquer uma que passou por isso. Na minha família teve muita gente que foi lesada. Acredito que a minha família foi a mais lesada de todas. Ele conseguiu tirar de nossa família em torno $500 mil, considerando minha irmã, dois sobrinhos, três irmãos e minha noiva”, disse Lucas, que trabalha por conta própria como handyman.

Lucas afirma ainda que as cartas dei-xadas por Falcão, confirmando a fraude e afirmando que sua companheira Zeza não tinha nem envolvimento nem conhecimento de seus negócios, só foram encontradas depois que Falcão viajou e que, portanto quando o levou ao aeroporto, Lucas não tinha conhecimento de que o cunhado estaria fugindo. Ele afirma acreditar que sua irmã Zeza, embora tenha viajado com ele, também não sabia dos negócios do companheiro. “Acho que ela é vítima como todos nós. Creio que ela não sabia de nada... Ela acreditou demais nele...Ela fez um se-cond mortgage, e deu todo o dinheiro para ele. A promissória dela é no valor de $90 mil”, disse Lucas.

Lucas afirma ainda que, na verdade, no dia 3 de julho, recebeu uma ligação de Falcão convidando-o para ir até a sua casa. “Quando estava na casa dele, uma pessoa do Oba Oba ligou para a casa dele dizendo que tinha uma remessa para ele apanhar. O Falcão me pediu para pegar esse dinheiro, como já pediu a outras pessoas. Quando cheguei lá, o Wanderlei me entregou duas remessas... Ele (Wanderlei Oliveira) falou em $18 mil, mas acho que ele se enganou no valor. O correto seria pouco mais de $15 mil”, disse Lucas.

Diversos outros investidores confirmaram ter entregue dinheiro a Falcão. O ins-talador hidráulico Aroldo Oliveira Souza afirma ter “investido” $31 mil, e se diz arrasado. Na avaliação dele, Falcão não trabalhava sozinho. “Havia pessoas que tinham dinheiro com ele, mas que também se beneficiaram. Eu perdi $31 mil e estou arrasado. Vejo gente que diz ter perdido muito mais dinheiro e que não fez nada. Por isso acho que até possa ter mais gente envolvida”, acredita Souza.

Luiz Eduardo Lucas, sobrinho de Zeza, afirma ter entregue a Falcão um total de $198 mil para que fossem investidos. “Faço investimentos com ele de dois anos para cá. Hoje, eu teria esse valor, sem contar os juros. Durante esse tempo retirei em torno de $8 mil”, conta Luiz Lucas, que chegou a depositar cheques deixados por Falcão como garantia, no valor total de seus “investimentos”, mas não conseguiu receber o dinheiro porque os cheques não foram compensados por falta de fundos.

Segundo Luiz Lucas, há alguns anos, Falcão era motorista de caminhão, e quando parou de ser motorista, passou a “mexer com invoices do caminhão”, e emprestava dinheiro a juros para caminhoneiros. “Ele falava que um caminhoneiro precisa de dinheiro antecipado para viagem, e emprestava a juros de 10% ao mês... Ele falava que o dinheiro que ele emprestava era entre 7% e 10%, mas para nós que investíamos com ele, era 3% a 6%”, conta Luiz Lucas. Ele diz ter descoberto que algo estava errado quando não havia mais como recuperar o dinheiro. “Descobri na quarta-feira, quando cheguei ao Brasil, entrei na internet e descobri”, contou.

James Dantas, proprietário de uma empresa de instalações hidráulicas para pis-cinas afirma ter “investido”com Falcão”, há cerca de três meses, $10 mil com a promessa de receber 5% de juros ao mês. “Me tornei amigo dele. No restaurante ele nunca me deixava pagar nada. Quer dizer, ele estava pagando contas com o meu dinheiro. O grande problema dos estelionatá-rios é que eles parecem as melhores pessoas do mundo. Têm aquele jeitão tranqüilo, muito inteligente, conhecem um pouco da lei, tudo que se precisa deles, ele têm conhecimento para te ajudar, para informar, e você acaba tendo essa pessoa como ponto de apoio”, ilustra Dantas.

Ele acrescenta ter levantado informações junto à Polícia Federal no Brasil de que Falcão já atuou em Fortaleza como doleiro, e que teria causado prejuízos também por lá. “Ele era doleiro antigamente, e pessoas bem sucedidas no estado, como ex-governador e deputados, tinham algum dinheiro não declarado, e ele fazia esse dinheiro ficar legal. Ele fez isso durante dois ou três meses, direitinho, e depois se mandou”, conta Dantas.

Giovani Silva encaminhou e-mail à redação do Gazeta afirmando ter sido lesado por Falcão no valor de $104 mil. Ele afirma não acreditar que Wanderlei Oliveira, proprietário do restaurante Oba Oba não tenha envolvimento com os “investimentos” de Falcão. “Tenho papéis assinados por ele próprio”, disse Silva referindo-se a Wanderlei Oliveira.

Oliveira já havia afirmado, anteriormente, ter sido “envolvido” por Falcão, e confirmado existirem recibos de valores recebidos para “investimentos” passados por sua esposa, a pedido de Falcão.