Líder Mudanças é acusada de quebra de contrato

Por Gazeta Admininstrator

O empresário Rubens Amaral, há cerca de oito anos conhecido entre a comunidade brasileira na Flórida, proprietário da empresa Líder Mudanças, Encomendas e Exportação Inc., com sede em Deerfield Beach, está sendo alvo de denúncias de inúmeros clientes que afirmam ter enviado para o Brasil, por intermédio da Líder, caixas com objetos pessoais e até mudanças inteiras, que nunca chegaram aos endereços de destino, de acordo com as denúncias.

Além disso, a empresa norte-americana Central Agency of Florida que atua como NVOCC (Non Vessel Operating Common Carrier), afirma ter recebido da Líder dois cheques sem fundos para operação de sete contêineres em navios para o Brasil, no valor de $10 mil, ao todo. O executivo de contas da Central Agency of Florida, Javier Madrid, conta ter contactado o empresário Rubens Amaral por quatro meses consecutivos cobrando o valor dos cheques, e ouvido sempre a explicação de que havia ocorrido um engano, e que os cheques seriam cobertos o que, segundo Madrid, nunca ocorreu.
Segundo ele, os sete contêineres de 20 e 40 pés foram enviados a partir de agosto de 2005 e têm atraso, no mínimo, de dois meses. A empresa está agora recebendo ligações dos clientes da Líder que buscam de algum tipo de informação sobre suas remessas. “Já recebi ligações de pessoas chorando. Há gente que foi para o Brasil e está acampada dentro de casa. Essas pessoas vão terminar pagando o triplo do valor que deveriam pagar para conseguir liberar suas cargas”, diz Madrid.
O executivo refere-se ao valor da taxa de demurrage, que consiste no “aluguel” do espaço para a guarda dos volumes no porto. A taxa faz parte das leis brasileiras e é calculada diariamente, em dólar. Os volumes foram encaminhados diretamente ao porto de Santos, e permanecerão retidos até que o pagamento da demurrage seja feito. Caso o prazo se estenda muito há risco de que as cargas sejam levadas a leilão. Além da taxa de demurrage, existe ainda uma outra a ser paga, que é a handling fee, que está relacionada ao número de movimentos que os guindastes têm que fazer para retirar um contêiner da área de armazenagem. Quanto mais tempo a carga fica armazenada, outros são colocados na frente, e mais movimentos o guindaste tem que fazer para retirá-lo do local.
A empresa de NVOCC, de acordo com o executivo, assumiu o prejuízo de $10 mil. A atividade dos NVOCCs consiste apenas em agenciar cargas em navios de terceiros e, caso não pagasse pelos serviços prestados pela empresa de navegação, teria inviabilizada a remessa de cargas de todos os demais clientes. “Esse é um país em que tudo é baseado no crédito. Se eu não pagar à empresa de navegação pelos erros do Sr. Rubens, eles retêm todos os contêineres de todos os meus demais clientes”, explica Madrid.

Dívida - Amaral nega ter passado, desde agosto, dois cheques sem fundos para a Central Agency of Florida, mas confirma dever há um mês, o valor de $8.280, refe-rente “ao acordo final do pagamento dos contêineres”. “É mentira a denúncia de cheque sem fundos. Os pagamentos não são feitos com cheques, são feitos com ordens de pagamento. Tivemos um desacordo comercial em relação a preços. Tínhamos preço fixado e quase dobraram. Ficamos 15 dias em negociação. E a transferência que pediram já foi feita. Entre hoje e ama-nhã estarão recebendo”.

Promessa - O empresário assegurou que pagará todas as taxas de demurrage e demais taxas portuárias, e que os clientes não terão custos adicionais. “O meu prejuízo já está em mais de R$ 150 mil. Mas vou continuar no mercado. Posso perder a batalha, mas não a guerra. Creio que ainda tenho a confiança dos clientes”, disse Amaral. Segundo ele, sua empresa teria retidos no porto de Santos, ao todo, apenas três contêineres, sendo que um teria sido liberado na segunda-feira(23).

Em seu escritório, Márcia Eneida Castilho, presidente da empresa Brasil Correios Encomendas e Serviços, que funciona no mesmo endereço e, segundo ela, trabalha com remessas de pequenos volumes para o Brasil, informou receber por dia reclamações de 15 e 20 pessoas contra a Líder Mudanças. Segundo ela, 11 contêineres enviados pela Líder teriam sido “barrados” no porto de Santos.

Denúncias - Galdina Campos, que mora há 17 anos na Flórida conta que o irmão Trajano Campos precisou retornar ao Brasil por problemas de saúde e pagou em torno de $5 mil para que a Líder enviasse toda sua mudança para Governador Valadares, em Minas Gerais. O envio, segundo ela, foi feito no dia 5 de agosto do ano passado e a mudança ficou retida no porto de Santos. “Meu irmão tem ligado 3 vezes por semana para o despachante. Antes do ano novo a dívida estava chegando a R$ 8 mil por causa da estadia do contêiner no porto”. Segundo ela, o irmão está disposto a pagar o valor para liberar a mudança e, quando retornar aos EUA processar a empresa Líder.

Uma outra cliente da Líder, que preferiu não se identificar por temer que a denúncia possa prejudicar a liberação de sua mudança, conta que em novembro fez a remessa de todos os móveis, eletrodomésticos e objetos pessoais, interrompeu os estudos, largou o emprego e não conseguiu voltar para o Brasil porque a mudança não chegou. “O meu marido foi na frente para receber a mudança. Como não chegou, resolvi ficar mais um pouco para resolver o problema, mas já estamos em janeiro e nada foi resolvido”, conta a jovem brasileira. Segundo ela, a informação obtida pelo marido em Santos é que a taxa de demurrage a ser paga por eles para liberação da mudança é de R$ 10 mil. “Estou desesperada. Não tenho como pagar esse valor, e não posso perder toda a minha mudança”, diz a brasileira.

A curitibana Wilma Pinto, que trabalha como doméstica na Flórida, conta ter enviado há oito meses para o Paraná, duas caixas contendo roupas usadas e objetos pessoais. “Paguei $450 pelo envio e só percebi que havia alguma coisa errada quando depois de quatro meses as caixas não haviam chegado e uma amiga que também fez envio, mas por outra empresa, e muito depois de mim, já tinha a confirmação da chegada das caixas em casa”, conta Wilma. Ela diz ainda que as notas fiscais emitidas pela Líder são assinadas por Renata Brandão, e não pelo proprietário da empresa, Rubens Amaral. “Eu pretendo tomar providências, mas não sabemos por onde começar, não se encontra ele em lugar nenhum”, lamenta ela.

Neiva Rocha há oito meses aguarda receber em casa duas caixas contendo roupas, brinquedos, calçados e outros objetos pessoais. Ela afirma ter pago $380 pelo envio e tentado inúmeras vezes receber uma informação sobre a data de recebimento, sem sucesso. “Eu tentei muitas vezes pessoalmente falar com eles e prometiam resposta na próxima semana. Depois tentei ligar e o telefone estava cortado. Semana retrasada ela disse que estaria sendo liberado na semana passada. Não sei o que fazer. Estou aguardando, aguardando”, lamentou Neiva.

Ingrid Wilson, que morou durante dois anos e meio nos EUA, conta ter enviado pela Líder toda sua mudança para o Brasil, sem grandes problemas. Diante disso, ela conta que em março de 2005, o marido que mantém escritório da Flórida, teria enviado pela Líder uma máquina de cortar grama no valor de $ 5 mil, sem que fosse acompanhada da respectiva nota fiscal, o que não é permitido por lei.

A máquina, até hoje, segundo ela, não chegou ao endereço de destino. “Meu marido nem fez contrato com ele, deu o endereço para ele buscar máquina. Ele disse que teria uma espécie de máfia para entrar no Brasil que conseguiria rápido, em 3 ou 4 meses porque tinha contatos que facilitavam entrada lá. Eu achei que não estava fazendo nada errado porque tenho a nota fiscal”, disse Ingrid Wilson, que é advogada no Brasil.

Mais acusações - A Líder Mudanças é também acusada de apresentar-se indevidamente como representante da empresa brasileira Itapemirim Cargas nos Estados Unidos. O gerente Comercial da Itapemirim Cargas no Brasil, José de Souza, informou por telefone ao Gazeta News que o assunto está sendo analisado pelo departamento jurídico da Itapemirim. “Esse camarada registrou o nome Itapemirim Cargas na internet e usa nossa logomarca. Ele colocou na página dele até um avião da Itapemirim, e nossa empresa não utiliza aviões há mais de dez anos”, disse o executivo.

Juridicamente a empresa brasileira Itapemirim Cargas não existe nos Estados Unidos, o que abriu a brecha jurídica para que qualquer pessoa comprasse o domínio de internet (nome) Itapemirim Cargas, e passasse a utilizá-lo. Foi o que fez a empresa Líder Mudanças. O gerente Comercial da Itapemirim no Brasil, no entanto, observa que a utilização da logomarca e da imagem da Itapemirim Cargas são uma iniciativa irregular. “O mundo inteiro pode entrar no nosso site e ver que nunca o-peramos mudança”.

O executivo explicou que a empresa opera exclusivamente cargas com nota fiscal. Ele confirmou ter realizado serviços de redespacho para a Líder (que consiste na entrega na porta do cliente), mas apenas de mercadorias com nota e não de mudanças. “Há mais de um ano que isso não acontece”, afirmou José de Souza, esclarecendo ainda que, por transportar, entre outros, produtos farmacêuticos, a empresa brasileira é proibida pela Vigilância Sanitária de transportar mudanças.

“Esse é mais ou menos o problema da rapadura na Alemanha. Todo mundo sabe que a rapadura é brasileira, mas empresários alemães regis-traram o nome lá e agora querem que o mundo inteiro pague royalties para eles”, ironizou o gerente da Itapemirim.

Em entrevista ao Gazeta, Amaral afirmou ter um e-mail da presidência da Itapemirim Cargas, datado de 27 de fevereiro de 2002, autorizando-o a utilizar a logomarca da empresa. Até o fechamento desta edição, no entanto, a cópia do e-mail não havia sido repassada para a redação. Outros e-mails repassados à redação não esclareciam a natureza do mencionado acordo entre Líder Mudanças e Itapamirim Cargas.