Língua Portuguesa: A gente ou nós?

Por Rodrigo Maia

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Como a gente deve usar, ou como nós devemos usar, os termos “a gente” e “nós”?

Qual a referência correta à primeira pessoa do plural, na Língua Portuguesa? Vamos começar esse diálogo com os exemplos abaixo:

1. A gente gosta de estudar? 2. Nós gostamos de estudar? 3. A gente gostamos de estudar? 4. Nós gosta de estudar?

Em uma primeira leitura, não há dúvida de que, para falantes brasileiros, as construções 3 e 4 causam um certo incômodo. E esse “incômodo” não vem do nada. Essas formas não fazem parte do uso do registro idiomático brasileiro.

É verdade que alguns falantes dizem “a gente gostamos” e outros dizem “nós (nóis) gosta”. Porém, são registros classificados em variantes sociais e/ou regionais. Portanto, vamos entendê-los e aceitá-los dentro de um contexto; e não como regra de língua.

É preciso ter critérios em uma questão polêmica como essa. Alguns puristas querem simplesmente abolir a forma “a gente” na função pronominal. Por outro lado, os contemporâneos preferem deixar cada um falar como quiser, desde que haja entendimento.

Quando comecei a estudar ciências humanas, tive a plena convicção de que os extremos jamais resolvem as polêmicas, isto é, não adianta “forçar a barra”. Não adianta fingir que o “a gente” como pronome pessoal não existe. Assim como não adianta simplesmente “liberar” todas as formas de uso, como se as línguas fossem objetos de comunicação sem critérios, regras e determinações para uma prática social efetiva, tanto na fala como na escrita.

Muitos afirmam que o uso de “a gente” é um assassinato ao “bom português”. Se existe a forma “nós”, devemos usá-la em todos os contextos. A partir disso, criticam o uso com a justificativa de afirmar que isso estraga o “bom” idioma.

Ora, em francês, temos os pronomes “on” e “nous” para designar a primeira pessoa do plural. O “nous” é mais utilizado em um uso formal, como usamos aqui no Brasil o “nós”; enquanto o “on” é utilizado na linguagem coloquial, ou seja, da mesma forma que, no Brasil, usamos “a gente”. E lá em Portugal, como é?

Veja a foto acima. É de um site de Portugal. Repare no título: “O que a gente somos”. Então, os portugueses estão “assassinando” a Língua Portuguesa? Na oralidade, os portugueses usam o “a gente” e colocam os verbos no plural. Eles dizem, por exemplo: “a gente fizemos uma pesquisa”. E não há erro algum.

A realidade é uma só: temos, em terras brasileiras, um idioma que usa duas formas para designar a primeira pessoa do plural. Uma um pouco mais formal (nós) e outra mais informal (a gente). E acabou a discussão. Quando usamos o nós, conjugamos o verbo gostar, como no exemplo do início deste texto, na forma plural “nós gostamos”. Quando usamos o “a gente”, mantemos o verbo igual ao da terceira pessoa do singular, isto é, “a gente gosta”. Não se admite, por enquanto, dentro de padrões normativos da gramática, as formas “ a gente gostamos” e “nós gosta”.

Ensinar um idioma para um falante nativo precisa ser algo que envolva mais prazer, mais criatividade. Porém, também temos a missão de informar que, no mundo real, devemos seguir regras para almejar crescimento pessoal e profissional. É assim na sociedade. É assim na língua.

A gente pode melhorar o ensino de Português. A gente pode mudar a triste realidade do ensino brasileiro. Basta a gente querer, basta a gente se envolver. A gente “não somos inúteis”. A gente é brasileiro, a gente é útil e a gente tem uma língua rica que está em pleno processo de construção de uma brasilidade!