O tenor italiano Luciano Pavarotti, que por meio de sua poderosa voz e de sua cativante personalidade levou a ópera ao grande público, morreu na quinta-feira em virtude de um câncer de pâncreas, aos 71 anos de idade.
Apesar de seu estado de saúde ter piorado bastante no último ano, a morte do tenor, conhecido como o "Grande Luciano" por causa de seus 127 quilos, emocionou desde empresários e críticos a fãs que mal conseguiriam pagar por um ingresso para suas apresentações.
"Houve vários tenores, e então houve Pavarotti", afirmou o cineasta italiano Franco Zeffirelli.
No universo da ópera, os grandes nomes do passado costumavam isolar-se em um mundo elitista e sofisticado. Já Pavarotti costumava cantar ao lado de estrelas da música pop como Sting e Bono na TV, além de realizar eventos de caridade chamados "Pavarotti e Amigos".
"Algumas pessoas conseguem cantar ópera; Pavarotti ERA uma ópera", afirmou Bono em seu site. "Conversei com ele na semana passada. A voz que era mais alta do que qualquer banda de rock havia se transformado em um sussurro."
A Royal Opera House em Convent Garden, em Londres, afirmou: "Ele apresentou a extraordinária força da ópera para pessoas que, talvez, nunca haviam se deparado com óperas ou com o canto clássico. Ao fazer isso, enriqueceu a vida delas. Esse será seu legado."
A Staatsoper, em Viena, hasteou uma bandeira negra.
Quando já era bastante conhecido no mundo da ópera, Pavarotti transformou-se em um astro mundial ao cantar ao lado de dois outros tenores importantes, Plácido Domingo e José Carreras, durante a Copa do Mundo de 1990, nas Termas de Caracalla, em Roma.
"Ele foi, sem sombra de dúvida, um dos tenores mais importantes de todos os tempos", afirmou Carreras ao jornal sueco Expressen. "Ele era um homem maravilhoso, uma personalidade carismática -- e um excelente jogador de pôquer."
A venda de discos de ópera disparou depois daquela apresentação, que incluiu a ária "Nessun Dorma", da ópera "Turandot", de Puccini, da qual consta o famoso verso "Ao amanhecer, serei vitorioso".
Na quinta-feira, na cerimônia diária da troca da guarda no Palácio de Buckingham, em Londres, a banda militar tocou "Nessun Dorma".
VINDO DO INTERIOR
A população de Modena, uma cidade interiorana do nordeste da Itália, lamentou a morte de um homem que continuou ligado a sua cidade natal mesmo depois de ter se transformado em um superstar.
Venusta Nascetti, uma mulher de 71 anos de idade que costumava servir café a Pavarotti em um bar quando eles eram adolescentes, descreveu-o como uma pessoa "cheia de alegria". "Ele tinha um espírito feliz."
"Ele sempre nos amou da mesma forma que nós o amamos", afirmou a mulher, que usava óculos escuros para esconder os olhos inchados. Nascetti estava do lado de fora da casa de Pavarotti, onde disse ter comparecido para prestar sua homenagem ao cantor.
O funeral deve ser realizado em Modena, no sábado.
Pavarotti viu sua primeira chance como cantor aparecer devido a um outro grande nome da ópera italiana, Giuseppe di Stefano, que não pôde apresentar a "La Bohème", no Convent Garden, em 1963. A casa de ópera havia contratado "esse jovem de grandes dimensões" como substituto -- e assim nascia uma estrela.
Em 1972, ele ficou famoso por ter conseguido atingir nove dós em sequência na ópera "A Filha do Regimento", na Metropolitan Opera, em Nova York, local ao qual se referia como sendo "minha casa".
A última vez em que se apresentou foi em Turim, em fevereiro de 2006, na cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos.
ÚLTIMO ATO
Pavarotti submeteu-se a uma cirurgia em Nova York, em julho passado, devido a um câncer de pâncreas. Depois, retirou-se para sua vila em Modena.
No mês passado, o cantor ficou duas semanas em um hospital da cidade italiana e dirigiu-se para casa no dia 25 de agosto. Ele passou os últimos momentos de vida ao lado de familiares e amigos, afirmou seu empresário, Terri Robson.
"Ele continuou otimista e confiava na possibilidade de superar a doença. Ele estava determinado a regressar aos palcos a fim de completar sua Turnê Mundial de Despedida."
Segundo Robson, até poucas semanas antes de morrer, Pavarotti reservou várias horas por dia de seu tempo para ensinar alunos em sua vila de verão, em Pesaro, na costa adriática da Itália. O cantor abriu uma escola para cantores jovens em Modena, dois anos atrás.
Apesar de Pavarotti ter começado a cantar em um coral de igreja aos 9 anos de idade, acalentava uma profunda paixão pelo futebol e desejava ser um jogador profissional.
A mãe dele o convenceu a ser professor, cargo que desempenhou durante dois anos antes de render-se a sua vocação.
Em 2003, Pavarotti casou com Nicoletta Mantovani, uma assistente 34 anos mais jovem do que ele e mais nova do que as três filhas dele. O casamento aconteceu depois de o cantor ter se divorciado, em um processo conflituoso, de Adua, mulher dele por 37 anos.
Quando Nicoletta estava grávida de gêmeos, enfrentou complicações, e Riccardo, filho do casal, não resistiu. A filha Alice sobreviveu e hoje tem 4 anos de idade.

