Lugar de criança dormir é na própria cama - Viver Bem

Por Karina Lapa

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Já que os filhos não nascem com um manual de instruções, temos que buscar ensinamento com quem sabe, e entende, ou com quem já passou pelo desafio de ensinar os filhos a dormirem nas suas próprias camas.

Assim como andar, comer, tomar banho, trocar-se, ou sentar para fazer as tarefas, o ritual do sono também é um hábito, que é extremamente necessário na vida de qualquer criança. Como qualquer outro hábito, precisa ser ensinado e reforçado desde que é estabelecido. Ou seja, quanto mais cedo, melhor. E essa é mais uma tarefa dos pais.

Muitas são as razões para que os pais levem os filhos às suas camas, mas já sabemos que isso não é um hábito saudável, nem para a criança, nem para os pais. Vou explicar algumas das razões. Primeiro, dormir na cama dos pais é também um hábito, e substituir um hábito por outro dá trabalho, é muito mais custoso, demora mais, causa dor e sofrimento em ambas as partes, e promove um cansaço e ansiedade desnecessários.

Outro fator tem a ver com o simbolismo da cama dos pais. A cama do casal não significa apenas “o leito do ato sexual”, mas sim a vida a dois, a união do casal, a cama da conversa, do conforto, da briga, dos planos e do descanso dos pais. Quanto mais cedo a criança for estimulada a dormir na própria cama, mais cedo desenvolverá a capacidade de autoregulação, ou seja, será mais capacitada e saudável psicologicamente. Deixe-me explicar, dormir na cama dos pais não vai causar necessariamente uma doença mental, no entanto, poderá provocar uma série de distúrbios na formação da personalidade e no caráter da criança. E alguns desses distúrbios surgem em forma de desvios, fixação, perversões e complexos que marcarão a vida do seu filho (a) na sua vida adulta.

Além do que, na maioria dos casos, inconscientemente, é uma forma dos pais lidarem com sentimentos de culpa, incapacidade de estabelecer limites, sabotar a propria relação com o cônjuge, e, por consequência, atrapalham o crescimento e o desenvolvimento da criança, além de manterem e perpetuarem a sua própria neurose. E mesmo para os pais que se justificam dizendo que colocaram uma cama extra no quarto do casal onde a criança dorme, o recado é o mesmo. Esse é um gesto tão nocivo quanto tê-los na sua própria cama. A vida do casal conta com algo que se chama intimidade, e nao é um show para ser visto ou presenciado por nenhuma criança.

Há pais que ainda se explicam dizendo, “Ah, ele é tão pequeno, que nem percebe nada”, ou mesmo “A gente fala baixinho, ou nem faz barulho”. Enganam-se, pois as crianças são extremamente perceptivas, e guardam as memórias, que muitas vezes são inapropriadas. E por assim serem, não podem processá-las , nem compreende-las. Daí desenvolvem fantasias que se tornarão as suas neuroses futuras.

O hábito saudável do sono da criança deve envolver um outro quarto, ou cômodo da casa para ela, numa cama própria, com hora certa para se deitar, e que possa dormir sem ajuda de outros. A criança desde cedo, quando bem educada, aprende a se ninar, a se consolar, e até mesmo a estar sozinha, e se sentir bem e confortável na hora de dormir. Lembrem-se que os medos não nasceram com a sua criança. Eles são passados de você a elas. Sejam o medo do escuro, de monstros, de lobo mau, etc. Dormir na própria cama é mais que um conselho, é uma orientação para que a criança possa vencer as fases de sua própria evolução com êxito e com saúde física e mental.

Encorajar a criança a dormir na própria cama gera sentimentos de segurança, de capacidade própria, e por consequência estimulam uma boa autoestima. Portanto, mãe, pai, vovó ou titia, se ainda não o fez, passe a criança para sua própria cama hoje à noite. E para os pais que têm bebês, acostume –o a dormir sozinho desde já. Se você não sabe como fazer essa transição, busque ajuda do pediatra, de um psicólogo, enfermeiro, ou alguém da família que tem sabedoria suficiente para te apoiar nessa transição. Caso você não consiga, busque ajuda profissional com um psicólogo qualificado que te ajudará a entender as razões pelas quais esse processo está sendo difícil para você, ou até mesmo ajudar a sua criança a fazer essa transição de forma tranquila.