Lula, Marta e a imagem do Brasil

Por Gazeta Admininstrator

Como se não bastasse o embaraçoso episódio portagonizado pela Ministra do Turismo, Martha Suplicy, recomendando a todos os brasileiros atingidos pelo caos no sistema aeroviário e aeroportuário do país, a “relazer e gozar” diante da situação, o nosso presidente Lula escorregou fortemente ao acusar os brasileiros que vivem no exterior de
“falar mal do Brasil”. Segundo o presidente e alguns de seus assessores diretos, esses brasileiros e a imprensa brasileira n o exterior (nós, jornais, revistas, web sites, programas de rádio e tv comunitários) que estaríamos “falando mal” ou reforçando a “imagem negativa” do Brasil.
Com todo respeito, presidente. Se tem uma imprensa mais cuidadosa com a questão da imagem do Brasil no exterior, é justamente a nossa impresa comunitária.
Nem por isso os jornais, revistas e demais veículos de comunicação que servem à comunidade brasileira no exterior, poderiam ou deveriam deixar de publicar as notícias verdadeiras, reais, e muitas vezes bastante negativas, oriundas de nosso amado Brasil.
Ser patriota não é mentir e muito menos tentar tapar o sol com a peneira.
Ser patriota não é violar o compromisso fundamental entre imprensa e leitor, o compromisso de busca da verdade dos fatos.
Todos os países do mundo geram notícias boas e ruins.
Como já se sabe, em qualquer lugar do planeta, as notícias ruins sempre ocupam mais espaço nas manchetes de todas as mídias. Há maior interesse do público por elas.
Algo assim como se as notícias boas não passassem de uma “obrigação”, um “fato natural”e as ruins sim, por serem bombásticas, negativas, despertam intensa curiosidade.
Não é privilégio da imprensa brasileira destacar fatos mais negativos e sensacionalistas do que os fatos digamos “positivos”. Basta dar uma rápida conferida nas manchetes dos jornais de todo o mundo, falo dos países livres e democráticos – como ainda é o Brasil - onde o respeito à liberdade de imprensa existe de fato, para ver que as notícias “más” superam em larga escala as “boas”.
Com o Brasil ocorre um fenômeno específico. Há uma grande preocupação das lideranças políticas do país em “fabricar’ um estado de otimismo e positivismo que não correponde à realidade do pensamento público. Foi assim em diversas fases da Velha República, com Getúlio Vargas e o Estado Novo, com a Ditadura Militar que reinou por duas décadas entre 64 e 84 e, curiosamente, parece ser essa uma preocupação do atual governo.
Não há razão para que o nosso presidente, que tem obtido importantes conquistas sociais e econômicas em seus quase seis anos de mandato, deseje ver uma “mudança de imagem do Brasil” num piscar de olhos. Parafgraseando o roqueiro Lulu santos, a História caminha como caminha a humanidade: a passos de formiga e sem vontade.
A imagem positiva do Brasil existe e devidamente propagada por todos os que têm acesso aos fundamentos dessa imagem positiva.
O Brasil que há 30 anos era uma referência quase abstrata no planeta, resumido ao tripé café-pelé-samba, hoje é o país da economia portentosa, da Embraer, do espetacular sucesso do bio-combustível, da música, cinema e outras artes valorizadas em todo o mundo.
Segue sendo o Brasil de enormes desigualdades sociais, de inaceitável e incompreensível violência urbana e de indesculpável analfabetismo.
Não será, entretanto, “castrando” as notícias verdadeiras, mas circunstâncialmente negativas, que a imprensa brasileira e os cidadãos brasileiros que residem no exterior, que faremos com que a imagem do Brasil mude de negativa para positiva “overnight”.
O ataque à imprensa e aos brasileiros que vivem fora do Brasil nos pareceu puramente demagógico e superficial. Uma dessas saídas à lá “Caetano Veloso”, o grande mestre da MPB que se especialou em dizer bobagens com a grandiloquência de um iluminado, para deleite de seus adoradores incautos, ou simplesmente para fazer “fuzuê”.
Por outro lado, fazer esse tipo de acusação numa mesma semana onde sua ministra e futura pretende ao posto de Presidente (todo mundo sabe que Marta Suplicy quer mesmo é ser a Hillary do Brasil) mandou os brasileiros revoltados “relaxar e gozar” revela um lamentável tom de desimportância.
O que seguramente não deve ser, não pode ser verdade.
Talvez orientada pelo fato de que “apenas” 22% da população brasileira tem acesso a viagens de avião, contra 94% nos Estados Unidos, por exemplo, Marta tenha decidido que sua frase descalabrosa não repercutiria tão mal como repercutiu.
É que mesmo o brasileiros mais simples e pobre sabe distinguir uma ofensa, um desleixo, independente do fato de ter ou não acesso aos aviões.
A imagem negativa que o Brasil “exporta” não é “fabricada” pela imprensa brasileira do exterior e nem pela imprensa internacional. É sim, consequência dos problemas que temos e que certamente estamos enfrentando e serão resolvidos. Mas enquanto forem notícia, esses fatos e problemas devem necessariamente ser publicados pela imprensa. O governo ajudaria muito fazendo sua porte em não reforçar, por atitudes e declarações impensadas e inconsequentes, a idéia de que somos realmente uma república bananeira.
Por que não somos e todos nós sabemos disso.