Lula, Obama e o medo de mudar

Por Gazeta Admininstrator

Uma semana após a histórica eleição que colocou Barack Obama no posto mais poderoso do mundo, refletimos sobre aspectos curiosamente coincidentes – e igualmente históricos – entre Estados Unidos e Brasil.

O Brasil, quinto mais extenso e populoso país do mundo, oitava economia mundial e uma das três grandes potências emergentes do planeta, vivenciou, há seis anos , um sentimento nacional extremamente parecido com o que vivem os Estados Unidos agora.
Em novembro de 2001, Luiz Inácio Lula da Silva, um ex-operário do ABC paulista, um absolutamente legítimo representante da classe operária brasileira, vencia um histórico embate contra o poder estabelecido e chegava ao poder no que muitos consideraram um dos mais importantes acontecimentos da história de nosso país.

Em novembro de 2008, Barack Obama, um afro-americano filho de mãe havaiana e pai queniano - que da infância pobre emergiu como um dos mais brilhantes “filhos” de Harvard, uma das mais importantes instituições universitárias do mundo – vencia de forma inimaginável, o embate contra o poder estabelecido, no que já é descrito como um dos mais importantes acontecimentos da História norte-americana.

Lula e Obama têm, em suas trajetórias e em sua chegada ao poder máximo no comando de suas nações, muito mais coisas em comum do que se possa imaginar.
Independente da “tonalidade” socialista de cada um, Lula e Obama comungam de um forte credo na redistribuição de riqueza como instrumento de harmonia social, se alinham na idéia de que a “globalização” tem que ocorrer sem destruir a plataforma de segurança e oportunidades do mercado de trabalho em seus países e defendem claramente a igualdade de direitos civis de todas as minorias.
O que Lula e Obama também dividem em suas histórias de ascenção política, é a determinação de seus projetos políticos em derrotarem o medo pela mudança, o medo do novo, do desconhecido.
É próprio da raça humana, brasileiros, norte-americanos, chineses, árabes, etc, ter medo, mas muito medo mesmo, de tudo o que é novo, desconhecido. Esse medo faz com que, muitas vezes, as pessoas se mantenham atreladas ao passado, mesmo a experiências fracassadas, por achar que acaba sendo mais “seguro” lidar com o fracasso que já se co-nhece, do que arrriscar a possibilidade de novos caminhos, novas idéias.

Lula significou, como Obama hoje significa, uma aposta no novo, no diferente, na quebra de um sistema que se surpreendeu vítima de suas próprias armadilhas.

O medo do novo fez com que, mesmo antes de ser eleito, Lula fosse “delineado” por seus opositores como alguém que iria transformar o Brasil em país comunista. Da mesma forma como Obama, nas semanas finais da campanha, foi rotulado por seus opositores como “comunista”.

Como se vê, seis anos depois de governo Lula, o Brasil tem sua economia muito mais forte do que nunca, o país é respeitado internacionalmente como nunca foi antes. E Lula conseguiu isso administrando com enorme inteligência, preservando o que houve de bom nos governos anteriores. Lembram-se de como empresários “ameaçavam” sair do país se Lula ganhasse??? Pelo visto, nem o Brasil virou “comunista” nem empresário algum saiu do país, a nao ser os que roubavam impunemente e já não teriam “esquema” no Planalto.

O medo do novo e de mudanças é ainda maior numa sociedade rica, pseudo-moralista e racista ao extreno como a norte-americana. Mas essa mesma sociedade tem na Democracia um bastião de muita firmeza e o que se viu, após a avassaladora vitória de Obama, foi o respeito demonstrado pela maoria dos opositores e a celebração desse histórico momento que é a ascenção de um afro-americano à presidência da república.

Mesmo que quizessem, nem Lula poderia nem Obama poderá, transformar radicalmente, em curto prazo, as bases nem os fundamentos das sociedades que presidem. Mas há, tanto na ascenção de Lula quanto na de Obama, uma vitória humana da maior significação, e esta é a vitória da esperança sobre o medo do novo.

É claro que Obama pode desapontar. É perfeitamente possível que boa parte de suas promessas de campanha não possam ser realizadas até mesmo pela força inexorável da realidade. Mas uma vitória maiúscula já foi alcançada. A de que o novo pode vir sem representar o fim de nossa (ilusória) segurança. Que não há outro caminho viável para a humanidade que não seja o abraçar da diversidade, a compreensão e convivência com as diferenças e o combate radical a toda forma de preconceito.

Lula e Obama, com as qualidade e defeitos que todos os seres humanos têm (presidentes ou favelados), são afirmações desse caminho inexorável pelo progresso da humanidade rumo a uma sociedade menos infantil, menos estúpida e menos violenta.