Lula reeleito? Não duvide nem um pouco

Por Gazeta Admininstrator

Para não perder o “bonde”, já conside-ravelmente atrasado, o PSDB finalmente oficializou na semana passada a candidatura do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin para concorrer à Presidência da República. Imediatamente as pesquisas revelaram uma polarização – mais que esperada – entre Lula e Alckmin, dominando cerca de 70% das intenções de voto. Evidente que essa pesquisa-relâmpago ainda não reflete a escolha de Anthony Garotinho como candidato do PMDB, mas nesse momento não acreditamos que isso faria grande diferença.

Certamente que pesquisa é pesquisa, eleição é eleição. Mas analisando o esfacelado tecido político-partidário brasileiro - numa das temporadas em que o manto negro da corrupção cobre a todos os partidos - e encarando que o índice de confiabilidade da sociedade brasileira na classe política é o mais baixo da História, não há muito o que esperar de mudança nesse quadro “bi-partidário”.

Muitos leitores, especialmente os que acompanham mais atentamente os rumos da política brasileira, poderiam acreditar que Lula teria poucas chances de se reeleger.

Os embaraçosos episódios que vem sistematicamente “castigando” a administração do PT desde o final de 2004, com sucessivos escândalos e contundentes provas de que a atual administração estaria muito distante da “probidade” que o brasileiro sempre sonhou, teriam um grande impacto nas urnas.

Arrisco dizer que, ao contrário do que o alarde da mídia pressupõe, a massa popular eleitora brasileira não irá - necessariamente – refletir o desencanto com o PT que impera nas classes média e média baixa. Sim, porque apesar da massa popular (classes D e E) ter sido o “caminhão de votos” que derrubou José Serra e colocou Lula no Planalto, foram as estratégicas “caçambas desencantadas” das classes B e C que definiram a eleição em 2002.

Essas “caçambas” das classes B e C estão, de fato, perplexas com o fato de que o PT no poder é – quase – radicalmente diferente do PT no palanque. Mais ainda, que o PT no Planalto é irritantemente cada vez mais parecido e até menos competente do que o PFL do baiano ACM, o PMDB que segue sendo do maranhense Sarney mas que parece está agora a serviço do esquema político de Anthony Garotinho, que saiu consagrado da convenção do partido no domingo passado.

Me parece que se as “caçambas” das clas-ses média e média baixa irão realmente refletir sobre o que fazer este ano, tenho uma séria desconfiança que as massas trabalhadoras e desempregadas das classes D e E vão, mais do que nunca, seguir a ilusão de que, ainda que suas vidas possam não ter melhorado em nada nos últimos 4 anos, estarão se mantendo “no poder” com Lula sendo reeleito.

As razões do marketing e do coração, da ilusão e da vaidade estão sempre muito ligadas à ignorância e a desinformação. A falta de consciência e senso de cidadania que é, na minha opinião, uma das maiores tragédias sociais do Brasil, faz de nosso país o “paraíso do marketing político” e o PT aprendeu muito bem essa lição.

Quem não lembra de que os primeiros passos do Partido dos Trabalhadores a partir do primeiro segundo que assumiu o poder foi por em prática o meticuloso e já antigo plano de “solidificação” do Partido em todo o país. Esse processo vem sendo feito sem praticamente nenhuma interrupção e com uma obstinação férrea.

Passou-se por cima de todas as dissidências internas – aquelas mais radicais à esquerda e que questionavam a excessiva “marketização” do processo petista – e sobreviveu-se a todas as marés de acusações. O PT é hoje possivelmente o maior e mais organizado partido do Brasil, deixando longe estruturas semi-amadoras e altamente verticalizadas que atendem pelas siglas de PSDB, PFL e PMDB. As demais siglas são meras logomarcas a serviço de “caciques” regionais.

Por isso eu creio que há chances de Lula ser reeleito, para desespero de uma elite política e empresarial que não acredita que o PT tenha realmente “cacife” para colocar o Brasil nos trilhos do progresso, do resgate social e da eficácia global.

Embora não queiramos estabelecer nenhum paralelo, porque já dissemos num editorial anterior que “Lula não é Chávez”, não há como negar que há, no cerne ideológico do atual governo brasileiro, pinceladas do “chavismo” que nada é mais do que uma representação nem-tanto-moderna-assim do velho estilo caudilho-esquerdista, pseudo-romântico e hiper-populista, tornado célebre por Fidel Castro.

Podem abrir a boca e guardar as jóias no cofre. Em pleno 2006, Fidel Castro segue sendo um herói absoluto para boa parte (a maioria mesmo) das populações de países do terceiro mundo, especialmente latinos. Por uma razão simples. O famoso capitalismo e a social-democracia não resolveram as questões básicas para sua própria sobrevivência nesses países: pão na mesa, emprego e saúde pública.
A única resposta para sua vida miserável, nas mentes simples das populações carentes dos países pobres, é um regime que conside-rem “forte” e que defenda os interesses dos pobres (muitos) contra os ricos (poucos).

Essa dicotomia segue presente no Brasil. Não mudou uma vírgula com o PT no poder e se por um lado erodiu a “simpatia” manifestada pelas “caçambas” das classes B e C em 2002, não perdeu muitos votos nas massas famintas das classes D e E, que são o grande alvo do clientelismo-populista do “novo” PT.

Posso estar errado e a eleição de 2006 representar um importante “passo à frente” para a sociedade brasileira, mas vou ficar de olhos bem abertos nessas eleições e, é claro, vou votar. Ficar de fora não vai fazer nenhum bem ao país.