Luxo, mordomias e muito estilo em quatro patas

Por Gazeta Admininstrator

Por Letícia Kfuri.

Os animais têm se mostrado grandes companheiros desde os primórdios da humanidade. A primeira evidência de animais domesticados foi encontrada na cidade bíblica de Jericó, na Palestina, aproximadamente 12 mil A.C. Atualmente, com o desenvolvimento da ciência, há inúmeros estudos demonstrando que os animais domésticos contribuem para a saúde emocional e física de seus donos, reduzem o risco de doenças do coração, abaixam a pressão arterial e, não raro, são motivo de aproximação entre as pessoas. Além disso, dizem os cientistas, ajudam a desenvolver o Quoeficiente de Inteligência (QI) das crianças e sentimentos como a compaixão e a auto-estima.

Não é à toa que o número de animais de estimação tem crescido vertiginosamente nos Estados Unidos. O país tem hoje o maior número de pets do mundo. Nos EUA há mais animais de estimação do que humanos. De acordo com a Associação Americana dos Fabricantes de Produtos para Pets (APPMA), em 2004 havia nos EUA 377.8 milhões de pets e 290 milhões de pessoas.

Para aqueles animaizinhos que têm a felicidade de ter um lar nos EUA as mordomias disponíveis tornam a vida quase um paraíso. De cortes de “cabelo”a $180 até jóias de cristal, “colares”de couro italiano, roupas de grife, resorts de luxo e spas, há de tudo um pouco. Uma vida de cão de fazer inveja a qualquer um.

A indústria de produtos para animais de estimação tem se revelado uma das mais bem sucedidas nos EUA, com vendas anuais estimadas para esse ano em $35.9 bilhões. Em 2003 esse número era de $ 32.4 bi-lhões, superando, por exemplo, a indústria de brinquedos, que faturou no mesmo ano $20 bilhões em vendas, ou a indústria de doces, que somou vendas de $ 24 bi-lhões.

De olho nesse mercado, a veterinária Mônica Corrêa da Silva, rapidamente descobriu nos EUA, onde vive há seis anos, o filão de atendimento a animais de pequeno porte.

Depois de fazer sua pesquisa de mercado, Mônica decidiu dar início ao projeto do Country Inn Pet Resort, um hotel com o que existe de mais sofisticado para cachorros, que será inaugurado em fevereiro de 2006 em Davie, na Flórida, oferecendo 32 suítes, sendo uma superior com cama, TV e decoração ambiente, além de outras acomodações tipo standard. O resort concilia também atendimento a gatos, banho e tosa, serviço hoteleiro, boutique e recreação.

Mordomia
Segundo ela, os serviços prestados no Pet Resort ajudam o animal a melhorar a sociabilidade e a sentir-se mais feliz. “No day care o animal brinca no parque específico para cachorros, tem atividades na piscina e após o almoço tem horário exclusivo para descansar. Apagamos a luz, colocamos uma música tranqüila, e assim o cachorro relaxa. Quando vai uma visita na sua casa ele se comporta muito melhor porque está acostumado à socialização”, explica Mônica.
Além dos serviços de hotel, Mônica ofe-recerá também treinamento, e cuidados veterinários nas seguintes especialidades: clínica geral, otorrino, oftalmologia, ortopedia, além de serviços de ultrasonografia e endoscopia.

Vaidade

Grooming por vocação e por convicção, Jarbas Godoy fundou em 1986 o Dog from Ipanema em uma analogia, é claro, à garota de Ipanema. Hoje ele calcula faturar $800 mil anuais apenas com cortes, e orgulha-se do título de grooming mais bem pago do país. Ao ano, sua loja faz 15,5 mil atendimentos, com uma equipe de 12 profissionais. “Todos os corredores brasileiros trazem os seus pets aqui”, diz o grooming. Os cortes variam de $65 a $180. Caro? Sim, responde Jarbas, é caro. “Por isso eu só tenho vira-latas”, brinca.

Jarbas só atende com hora marcada e costuma recomendar aos clientes que liguem, em média, três horas mais tarde para verificar se o cão já foi liberado. “Dizem que o segredo do meu sucesso é que não ligo a mínima para os donos e sim para os cachorros”, diz o especialista.

Formado em psicologia pela Universidade de Miami e com mestrado em terapia infantil, Jarbas aproveitou os conhecimentos adquiridos no meio acadêmico para aplicá-los no mundo animal. “Muitos aspectos e princípios que se aplicam às crianças também são aplicáveis aos animais, como o positive reinforcement, por exemplo”, explica Jarbas. O método consiste em elogiar ou premiar o animal a cada vez que ele se comporta de maneira adequada, em contraposição aos antigos métodos de punição pelo erro.

Essa experiência no mundo da psicologia ajudou Jarbas a lidar também com os donos dos animais. “O que sei como especialista é que tenho que entender o cliente. Tenho que saber se o dono trabalha, tem filhos, o seu estilo de vida. O dono que tem um cachorro que distribui pêlos pela casa inteira, tem filhos, trabalha fora, já deve estar doido para se livrar do cachorro, então vamos salvá-lo e cortar o pelo curtinho!”, ilustra Jarbas lembrando que anualmente matam-se 3 milhões de cães abandonados nos EUA. Por esse motivo ele iniciou a campanha “Dê um cão para o seu cão”, na tentativa de reduzir este número.

Luxo

Funcionando desde julho em Miramar, o The Pet Club de Charliston Seixas, que trabalha há 18 anos no ramo, é um sonho de infância do proprietário que desde criança se interessava por enciclopédias sobre animais e durante oito anos trabalhou com Jarbas. A esposa Shirley, que é artista plástica, e deu seu toque pessoal à loja, decorando todos os ambientes com suas telas. Até os comedores para cachorro são pintados à mão. Na entrada os clientes, cães e gatos, encontram uma boutique com ítens que vão desde velas aromáticas feitas especialmente para os animais, até óleos com essênciais naturais.

O sistema de ar condicionado, observa Charliston, custou quase $28 mil. “O ar não é recirculado, vem de fora e é renovado o tempo todo. Cheiro não tem. Tem cheiro de spa. E essa não é nem a maior vantagem. A vantagem é evitar doenças que podem ser transmitidas pelo ar”, explica o proprietário.

Mas o que realmente faz qualquer um invejar a vida de cachorro é a Dog Bakery, uma padaria com uma vitrine de encher os olhos e dar água na boca. “Todos os alimentos utilizam materiais nobres para consumo humano, são suggar free e salt free e não levam nada artificial. Estamos agora estudando a implantação de um serviço de buffet para festas com bolos”, conta Charliston.
Quem acha que tudo isso é demais para um animalzinho de estimação, ainda não viu nada. O Spa de Charliston oferece um VIP Lounge a prova de som, com música e vídeos especiais para cachorros, iluminação controlada e fontes de água que produzem sons relaxantes. “Todo cachorro que vem aqui, quando está acabado, é encaminhado para o Vip Lounge e tem direito a um complimentary relaxation time”, explica o proprietário.
Entre os serviços oferecidos no spa estão ainda banho com shampoo e condicionador, aromaterapia com cinco essências diferentes, desodorização com produtos sem álcool, escovação de dentes e pintura de unha com direito a escolha entre 12 variedades de cores ou a mistura de até 3 cores diferentes, de acordo com a data comemorativa.

Para cuidar da vaidade do cão (se é que isso é possível) ou do dono - dependendo do ângulo que se analisa - Charliston oferece variedades de jóias que vão desde colares com nomes ou frases até ossinhos cravejados de cristais. As coleiras são de couro de novilho, importado da Itália, que segundo Charliston são o Versace da moda de cães, ou de couro brasileiro fabricadas nos EUA.
Os profissionais do setor são unânimes em afirmar que a escolha do animal é uma decisão fundamental e não deve ser tomada por impulso. “o animal não é um brinquedinho, é um compromisso de pelo menos dez anos, por isso é importante pensar exatamente no que está se metendo”, alerta Charliston.

A mesma opinião é compartilhada pela veterinária Mônica da Silva. “É necessário fazer uma pesquisa, verificar qual é a raça que se encaixa em sua família e estilo de vida. Não se deve comprar por entusiasmo, nem por impulso”, frisa Mônica lembrando que muita gente compra um animal por impulso e devolve como se fosse um objeto.
Charliston explica que as raças mais fáceis de cuidar são as de pelo curto e que as mais indicadas para apartamento são as de pequeno porte, independentemente do tamanho do pelo. “Raças pequenas normalmente se acomodam mais, ficam sozinhas sem problemas por algumas horas”, ensina Charliston.

Para quem tem crianças pequenas, raças orientais como Chao Chao, por exemplo, não são indicadas por terem um comportamento ranzinza. Já raças como o York e Maltês se dão muito bem com crianças e gostam de brincar. Para quem tem idosos em casa, explica ele, os gatos são o animal mais indicado por não precisarem sair para passear, serem independentes e não necessitarem de muita manutenção.