Mãe conta a aflição de ver o filho atravessar a fronteira dos EUA e voltar ao Brasil sem vida

Por Gazeta News

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O corpo do brasileiro Kleber Barbosa Peres, morto no dia 22 em um acidente de moto na I-95, chegou a Brasília no dia 28, sendo encaminhado para Paraíso do Tocantins, onde foi enterrado no final de semana do dia 29, segundo a amiga da família, Maria Simone Brady. A mãe de Kleber, Elza Oliveira Barbosa Peres, enviou ao GAZETA uma homenagem que escreveu para seu filho, que ela viu atravessar a fronteira com os Estados Unidos com a ajuda de coiotes em busca de seus sonhos, em 2003, e acabou não voltando vivo. Reescrevemos alguns trechos da homenagem.

Kleber, de 38 anos, começou cedo a trabalhar, passando por diversas empresas e funções em Paraíso do Tocantins. “Ambicioso, sempre queria mais. Começou a falar que ia para os Estados Unidos, porém ouvíamos e ficávamos calados. O tempo foi passando até que um dia ele disse: ‘Vou tirar o meu passaporte’, e foi a Palmas. O primeiro passo já tinha sido feito ele estava com o passaporte em mãos”.

Logo percebeu que dificilmente conseguiria o visto para os EUA. Ele ficou sabendo da história de amigos que foram com a ajuda de um coiote. “Não sabíamos o que era um coiote, até que descobrimos que era um moço que pagávamos para ir pelo México”, escreveu Elza. “Quando eu menos esperava, o coiote veio aqui em casa para combinar tudo. Deusdeni (pai de Kleber) e eu assistimos à reunião com o coração apertado de preocupação. Naquele dia, meu filho Rogério estava aqui e pedi a ele que fosse com seu irmão, pois os dois eram fortes e um protegeria o outro: ‘Rogério, cuida do Kleber, Kleber, cuida do Rogério’. E mais uma vez meu coração se entristeceu sabendo que dois filhos iam para longe”.

Kleber e Rogério foram de Paraíso do Tocantins para Goiânia e de Goiânia para o México, segundo relato de Elza. Atravessaram a fronteira, chegaram aos EUA e já conseguiram, juntos, um trabalho, no quinto dia vivendo no país. Depois de um mês, já ficaram independentes, conquistando novos trabalhos e objetivos. Kleber, que vivia em Pompano Beach até o dia do acidente que levou sua vida, batalhou para trazer seus dois filhos, Jullyana e Vitor Gabriel, hoje com 17 e 13 anos, para os EUA. “No último dia dos pais ele disse que era o dia mais feliz da vida dele. Pois seus dois filhos estavam com ele, o que era a melhor coisa do mundo”, conta Elza. Finalmente, Kleber abriu sua própria firma de construção de estruturas contra furacões.

Em 2011, Rogério, o irmão que o acompanhou na travessia, resolveu voltar para o Brasil. Kleber agora planejava voltar ao Brasil no final do ano. “Seu plano era de montar um negócio para ele e o pai trabalharem juntos”, conta a mãe.

“Orgulho dos meus filhos que competiram com os grandes dos Estados Unidos, onde deixaram seus trabalhos bonitos que vi quando fui visitá-los, de casas, prédios e bairros. Ele tinha a moto dos sonhos, sua paixão”, escreveu Elza na homenagem. “Dizem que cada um de nós vai de um jeito, uns vão de canoa e outros vão de navio; uns de cavalo e outros de avião, uns vão de carro e o Kleber foi com o que ele mais gostava, sua moto”. Sua mãe termina a homenagem com uma frase conhecida de seu filho: “ ‘Trabalho com meu chefe. Jesus é meu chefe eu sou ajudante dele’. E para completar, eu penso: Se Jesus era o chefe, ele deu ao Kleber uma promoção e o transferiu para outro trabalho. No plano celestial”.