Mãe e filho, e grandes amigos

Por Simone Raguzo

raimara e ryan

Além de todo o amor existente na relação entre mãe e filho, Valerie e Edgar Cavalcante, 25, cultivam outro sentimento que está entre os mais grandiosos: a amizade.

Amigos confidentes, mesmo ela vivendo em São Paulo, e ele em Miami, ambos recorrem à tecnologia para conversarem diariamente. “Nem que seja por 10 minutos, nós nos falamos todos os dias”, conta Edgar.

Valerie lembra da emoção de ser mãe desde o dia que descobriu sua gravidez, aos 18 anos. “Eu tinha certeza que estava realizando a minha obra mais preciosa. Quando meu filho nasceu, minha felicidade era tamanha que passei dois dias e duas noites acordada, só olhando para ele”, lembra. Apesar da pouca maturidade, ela afirma que tinha uma certeza. “Força para enfrentar o que fosse para ver o meu filho feliz”.

A mãe coruja foi sempre presente e dedicada ao extremo. “Tão dedicada que esqueci de ter outro filho”, brinca. “Dei o máximo de mim para que ele sentisse segurança de que eu estaria ao lado dele, em todos os momentos, de tristezas e alegrias. Amadurecemos em idades diferentes, mas crescemos juntos, unidos com muito amor, lealdade e cumplicidade. Sempre me coloquei na posição de porto seguro para o Edgar, mas mal sabe ele que, por diversas vezes, ele que foi meu porto seguro. Em momentos que o mundo parecia desabar sobre a minha cabeça, graças a ele eu tive força para levantar e seguir adiante”, ressalta.

Ligação A forte ligação entre mãe e filho, engana muita gente, que pensa que eles são apenas bons amigos. “Damos opinião na vida um do outro. Sempre gostamos de nos divertir juntos, o que acabou criando gostos similares. Somos ciumentos um com o outro, mas nos respeitamos muito”, conta Valerie.

Como diz o ditado, “cria-se os filhos para o mundo”, e como grande parte das mães, Valerie sofreu com a separação do filho, quando ele optou por morar fora do Brasil. No início, com seu jeito protetor, ela bem que tentou mantê-lo “debaixo das suas asas”.

Em 2007, Edgar foi morar na Nova Zelândia. Valerie e o marido James decidiram ir junto, para não deixá-lo sozinho. Entretanto, devido a vida profissional, precisavam viajar constantemente ao Brasil. Depois de alguns meses, Edgar optou por abandonar definitivamente a faculdade que havia trancado em São Paulo, para estudar em Miami. Mais uma vez, a mãe o acompanhou. E, novamente, se viu obrigada a retornar definitivamente ao Brasil para os compromissos profissionais. Desde então, eles aprendem a conviver com a distância e a saudade.

“A parte mais difícil foi, sem dúvida, quando ele decidiu estudar em outro país. Acompanhando ele nesses lugares, eu achava que estava ensinando-o a andar, como no primeiro ano de vida. E ele me mostrou que já sabia correr, que eu não precisava me preocupar. Mesmo com a distância, nossa ligação é tão forte que, por mais que estejamos longe um do outro, eu nunca passei um dia sequer sem ouvir a palavra mágica ‘mãe’”, ressalta Valerie. “É muito difícil viver longe do meu único filho, mas sei que estou realizando um sonho dele que nunca foi possível para mim. Então temos que vencer a saudade para ter a recompensa”, acrescenta.

Apoio Para Edgar, não foi diferente. “No começo, foi muito difícil a adaptação. Nesses anos todos, o que mais me ajudou foi o apoio dos meus pais. Em especial, da minha mãe, minha melhor amiga, que esteve presente nos momentos mais importantes, fazendo tudo da melhor maneira possível”, conta Edgar, que se formou em dezembro de 2011, um dos dias mais inesquecíveis para ambos. “Ver meu filho se formando em uma universidade de ponta na Flórida, com um sorriso cheio de felicidade, mostrou que tanta saudade e lágrimas em cada despedida, nos últimos seis anos, valeram a pena”, conclui ela.

“Quero que meu filho saiba que ele tem uma mãe que o ama infinitamente e que todos os dias pede a Deus para cuidar e olhar por ele”, diz a mãe.

“Nesse Dia das Mães, eu só tenho a agradecer todo amor que minha mãe me deu. Sou muito feliz e sortudo por ter a melhor mãe do mundo. Nao sei onde estaria, se não fosse por essa pessoa tão maravilhosa”, completa Edgar.

Uma relação muito especial

A baiana Raimara Pereira Costa, 51 anos, era cantora profissional, com quatro CDs gravados, quando resolveu apostar na carreira em Miami, na Flórida.

A gravidez não estava nos planos, mas aconteceu. Os nove meses saudáveis não indicavam o que estava por vir. O bebê Ryan estava com 52 centímetros e pesando 10 libras, o que dificultou a realização do parto normal. “Os médicos insistiam em fazer o parto normal. Quando resolveram fazer cesárea, era tarde, e faltou oxigênio”, conta.

Ryan passou 35 dias na UTI, quando foi mandado para casa. “Ele estava com meningite, e outros problemas seríssimos, que resultaram em dano cerebral e hidrocefalia. Depois de três meses tomando antibióticos para ver se dissolviam um abcesso, sem resultado, fizeram a primeira cirurgia. Com cinco meses, ainda no Miami Childrens Hospital, fizeram outra para colocar um aparelhinho na cabeça, para drenar o líquido, e que ele carrega até hoje. Agradeço a Deus e aos profisionais desse hospital pela vida do meu filho”.

Desde o nascimento de Ryan, Raimara renunciou a sua vida, pela vida do filho. Grande parte do ano, ela passa no hospital, devido a crises que Ryan tem. “Abri mão de tudo, da vida profissional, social, sentimental. Hoje, tenho uma vida completamente diferente, mas ainda sim sou muito feliz”.

“No início foi muito difícil. Eu perguntava a Deus, ‘por que comigo?’. Mas, com o tempo, fui entendendo que Deus me escolheu porque tinha um propósito para minha vida. Foi aí que entendi que não tinha vindo para os EUA por nada, e sim porque daqui eu iria ter um encontro verdadeiro com Deus, que aconteceu quando meu filho nasceu. Aprendi a exercitar a minha fé, a ver e sentir o quanto eu era especial. Se no início achava que era um castigo de Deus, hoje me sinto privilegiada. Deus não leva qualquer um ao deserto”, acredita Raimara.

O pequeno Ryan, hoje com 10 anos, devido a sua condição, não pode andar, nem falar, mas tem seu ‘jeitinho’ de se comunicar com a mãe coruja. “Simplesmente, para mim, desde o início, ele não tem nenhuma deficiência. Ele é normal aos olhos de Deus e aos meus, e eu o amo mais que a minha vida. Ryan é muito inteligente, lindo e, sobretudo, feliz. Ele passa isso com seu sorriso”, ressalta.