Mães desrespeitadas pelos filhos

Por Adriana Tanese Nogueira

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Há mães que sofrem abuso e bullying por parte dos filhos. Filhos que desconsideram tudo o que a mãe fala (mesmo após passada a adolescência), filhos que se aproveitam da disponibilidade dela, do amor que elas têm por eles. Filhos presos em comportamentos neuróticos e agressivos que não querem enxergar e que prejudicam as relações familiares, e seus próprios filhos se por (des)ventura os tiverem. Filhos, enfim, que tratam a mãe como uma serva e uma idiota. É importante entender o pano de fundo do problema. As crianças aprendem a se relacionar com os pais (portanto com a mãe também) a partir de duas experiências: 1) de como os pais as tratam; 2) de como o pai trata a mãe (e de como esta trata o pai). Não se escapa. Portanto, uma mãe que não é respeitada pelo filho é uma mulher que não foi respeitada pelo marido. E, consequência/causa disso é uma mulher com baixa autoestima, que por falta de recursos sociais ou psicológicos foi colocada para baixo. Nada disso justifica um filho maltratar a mãe, mas certamente endossa um potencial nocivo que estava presente. O que fazer? Como primeira coisa, se deve implementar aquele respeito que faltou – e fazê-lo com a firmeza e lucidez proporcional ao tamanho do desrespeito. E, nesse sentido, aprender a calar e se distanciar. Calar serve para que, quando formos emitir algum som, o outro preste atenção. Distanciar-se cria o vazio que valoriza quem faz falta. É também importante não se deixar usar, porque servos, por definição, não valem nada. Não se valoriza quem está sempre à disposição, mesmo quando é maltratado. Se, mesmo assim queremos ajudar, porque há netos ou porque o filho precisa muito, o façamos, mas com dignidade e gravidade, mostrando que não somos estúpidos, e aí voltamos à nossa vida. A maternidade vira veneno quando o coração de mãe endossa comportamentos prejudiciais tanto para o filho quanto para os outros em volta do filho. Uma mãe precisa ter consciência disso e aprender a tocar a música que quer que o filho aprenda. Agora, o que fazer quando o filho já é adulto e tem por sua vez filhos que sofrem as consequências de sua irresponsabilidade? Uma mãe desrespeitada é impotente diante disso porque pela falta de respeito do filho, ela não tem credibilidade. Tudo o que falar será desconsiderado. A essa mãe resta tentar semear nas cabeças e corações de seus netos valores que possam um dia vir a desabrochar trazendo-lhes novas visões, que possam lhes ser úteis. Mais do que isso é geralmente impossível; brigar não adianta, só fortalece a muralha neurótica do filho. Como mãe, enfim, precisamos entender algumas coisas: 1) que não somos onipotentes; 2) que nem todos os problemas de nossos filhos existem por nossa causa, mesmo com os defeitos que temos; 3) que os filhos têm pelo menos metade da carga genética e problemática do pai; e enfim 4) que essas criaturas não nascem “tabula rasa”; que eles têm seu próprio percurso de alma e que “crescer torto” é também uma escolha deles (mesmo que inconsciente) – e o mesmo vale para os filhos desses filhos. As almas se atraem. Fazemos o nosso melhor, mas não podemos salvar ninguém. O que, porém, podemos e devemos fazer é nos respeitar. Somente assim teremos talvez a chance de transmitir às pessoas que nos são mais queridas as pérolas de sabedoria que anos de vida e tribulações nos ensinaram.