Magnífica e terrível adolescência - Pais e Filhos

Por Gazeta News

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Nascer de novo, desta vez já grandes e, na verdade, grandes demais, com corpos que extrapolam a coordenação que por anos conseguiu-se conquistar. Pernas longas demais, braços remando pelo espaço, cabeças cheias de idéias, conhecimentos precoces, dúvidas, excitação, insegurança, perguntas sem respostas e respostas sem perguntas. Gigantescos pontos de interrogação pairam no ar. E o coração transbordando incompreensível quantidade de revolta, amor, ódio, medo, timidez, raiva, ansia e impulso. Vontade de viver, fazer, ser, chegar lá. Um “lá” que não se sabe bem onde fica...

A adolescência é um dos tempos mais delicados e complicados da vida humana. Por baixo da superfície despreocupada daquela criança crescida há galaxias sendo formadas e destruídas, vulcões arrotando paixões e altos pensamentos filosóficos sobrevoando o mundo desconhecido. Perguntas existenciais jamais verbalizadas e desejos infantis dos quais se tem vergonha ou orgulho.

Nesses anos alquímicos que substituem o tempo docemente irresponsável da infância, muitas coisas ocorrem e estas vão se arrastando ou evoluindo, até chegar aos pés daquela montanha que representa o início da idade adulta. A adolescência é a preparação para a escalada. É nesse momento que os pais, que já tiveram muita paciência, precisam ter mais. Mais flexibilidade, mais inteligência, mais disposição e mais autocrítica. Há de se fazer acrobacias mentais e sentimentais com filhos adolescentes para compreendê-los e acompanhá-los, para não empacar confusos diante daquela nova pessoa, lastimando a perda da linda criancinha (que não dava todos esses problemas. Onde ela foi parar?).

Adolescentes são pérolas humanas que podem se perder cedo demais, como aqueles brotos que despontam no campo a qualquer aparição do sol, sem esperar pelo tempo certo da primavera, e se queimam e morrem. Os estímulos de um mundo conturbado e complexo invadem suas vidas e os adolescentes já vêm embebidos de valores globalizados que absorveram por anos na infância. Enquanto isso, seus pais estão muitas vezes ocupados e cansados demais para entender “o que é que está acontecendo”. É na adolescência que o descarrilamento  do trem tem consequências de longo termo porque ao chegar aos pés daquela montanh,a que é o início da vida e responsabilidades adultas, é preciso começar a subida com o pé certo para que lá na frente dê certo.

Tenho observado que quando há descarrilamento  entre os 15 e os, mais ou menos, 20 anos, a confusão já reinava por muitos anos a fio, naquele começo da vida que haveria de servir para construir aquela personalidade e aquele espaço no mundo para o ser social e realizado que almejamos ser. E entra aqui outra função parental: além da paciência e flexibilidade há de se usar o punho de ferro, com amor, inteligência e pontualidade.

Toda dureza há de ser pontual sem se arrastar no tempo e no sentimento. Ela é precisa e clara, nunca um “clima” de cobrança, ressentimento e insanidade. Dependendo da história e personalidade de cada um, pai ou mãe hão de segurar as rédeas com maior ou menor firmeza em um momento ou no outro (ou em vários!).

É importante não perder, porém, o sentido desse momento existencial, ele é também frágil. Adolescência é energia sutil e grosseira ao mesmo tempo, por isso deixa muitos pais desesperados. Entretanto, é preciso constantemente lembrar de que está ocorrendo uma metamorfose interior no adolescente e mesmo que ele pareça estar se divertindo e curtindo a vida, pais devem saber enxergar mais profundamente esse tempo complicado. Dele há de nascer um homem e uma mulher e é esta identidade que está sendo sofrida e deliciosamente gestada. Sejamos parteiras e parteiros.