A maior verdade de todas: tudo é política - Editorial

Por Marisa Arruda Barbosa

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Muitos jornais de todo o país escreveram, esta semana, que menos jovens do que se esperava estão dando entrada nos pedidos para o Deferred Action for Childhood Arrivals, por medo. O medo maior é expor-se e expor familiares em situação irregular para a imigração e, depois, a incerteza sobre as eleições de novembro.

Enquanto milhares de jovens elegíveis esperam para ver “no que vai dar”, nos deparamos com a surpresa de que o governo já processou os primeiros 72 mil pedidos, sem informar, no entanto, quantos foram aprovados. Esse procedimento se deu muito mais rapidamente do que a própria imigração previa e, “coincidentemente”, menos de 60 dias antes das eleições. Por que será? Acho que isso dispensa explicações.

Como advogados dizem, não podemos garantir um resultado de nenhum caso de imigração, mas enquanto jornal, podemos refrescar a memória. Em 2000, a imigração aprovou a lei 245i. Sob essa lei, imigrantes indocumentados, que estavam no país em 21 de dezembro de 2000, podiam se beneficiar caso entrassem com uma petição de pedido de visto até o dia 30 de abril de 2001, protocolado por um irmão, filho, pai ou cônjuge americano. Outra opção era um pedido de certificação de trabalho, devidamente protocolada junto ao departamento de trabalho por um empregador devidamente qualificado até 30 de abril de 2001.

Nesse período, enquanto muitos imigrantes se beneficiaram, outros, confiantes de que uma nova lei parecida sairia, preferiram não dar entrada a esse caro processo, que custava, no mínimo, entre $1,5 mil e $3 mil dólares. Conclusão: muitos que poderiam ter se beneficiado até 30 de abril de 2001, permanecem em situação irregular até hoje, pois não viram lei similar. Muito pelo contrário, pois depois disso veio o 11 de setembro e mesmo o original DREAM Act, que tinha chances de aprovação no dia 12 de setembro de 2001, foi bloqueado depois dos ataques terroristas.

Ou seja, ninguém sabe realmente o que irá acontecer, assim como em 2001, que acabou iniciando um período trágico para os imigrantes.

Por mais que o candidato republicano Mitt Romney, caso eleito, possa ser um risco à reforma imigratória, pouco podemos prever, de fato. Barack Obama, que parecia uma promessa, teve o recorde de deportações durante sua administração, e, por mais que se sentisse bem disposto, a oposição não deixou que ele prosseguisse. No entanto, em ano eleitoral, tudo fica diferente, e ele acabou usando o poder executivo para passar o Deferred Action. Ou seja, no fim, tudo é política.

Nesta edição, chamo a atenção do leitor para uma matéria na página 16, “Governo Obama vê aumento de 775% em grupos extremistas”. A matéria fala sobre o aumento em grupos de ódio depois da eleição do primeiro presidente negro. Entre esses grupos, os mais violentos da atualidade, segundo dados do Southern Poverty Law Center (SPLC), são os anti-imigrantes. Isso porque as minorias estão em expansão no país, fazendo com que grupos conservadores do passado tentem a todo o custo manter a força.

Ou seja, independente dos resultados das eleições, os dois candidatos sabem da força política crescente que os imigrantes representam.