Depois de sete anos nos Estados Unidos e sem seguro de saúde, a gaúcha Bianca Azevedo, que vive em Fort Lauderdale, descobriu que estava grávida. A descoberta coincidiu com a abertura dos mercados para a inscrição nos planos de saúde com o subsídio do governo, o Affordable Care Act.
“Com todas as consultas, os exames de sangue, as ultrassonografias e vitaminas, eu teria que gastar uma pequena fortuna pra fazer o acompanhamento pré-natal e decidi que era a hora de finalmente ter um seguro. Sempre achei necessário, mas o custo era ainda muito alto”, relata Bianca. “O plano de saúde ao qual apliquei cobre quase todos os custos e está me dando a oportunidade de ter uma gravidez saudável e tranquila”.
Assim como Bianca, muitos brasileiros vivem, pela primeira vez, o alívio e a tranquilidade de ter um plano de saúde. “O sonho de muitos sem possibilidade financeira ou com doenças que impossibilitavam a compra de um plano de saúde foi conquistada”, reflete Marcia da Silva, que trabalha na A Security Insurance, em Boca Raton.
A mineira Maria Penha Terada, que vive com a família em Boca Raton, conseguiu um seguro para ela, seu marido e os dois filhos. Em junho, ela sentiu fortes dores no joelho e precisou passar por uma cirurgia do menisco.
“Eu pago $428 para nós quatro. Preferimos pagar por um plano melhor, o Cigna, que
cobre vários estados. Ainda não sei onde meus filhos farão faculdade”, avalia Maria.
Em outubro, completará um ano que a nova lei de saúde do governo federal entrou em vigor. O lançamento do site do governo federal para inscrições em planos de saúde foi classificado por muitos como catastrófico, o que fez com que milhares de pessoas não se inscrevessem. No final, aproximadamente 8 milhões de pessoas conseguiram selecionar planos através dos mercados do governo.
Em Weston, Sonia Lima, por exemplo, que vive há 27 anos nos EUA, preferiu esperar até a reabertura do período de inscrição, em novembro, para entrar em um seguro. “Eu nunca tive seguro de saúde e não quis me inscrever, pois tudo parecia muito confuso. Preferi esperar para ver se iria funcionar”, explica a paulista, que tem Diabetes do tipo 2, mas controla com metaformin, que é grátis no Publix.
Novo período de inscrições
Quem não se inscreveu em um plano de saúde entre outubro e abril, agora terá uma nova chance durante três meses, quando os “marketplaces” serão reabertos, entre 15 de novembro e 15 de fevereiro de 2015, para coberturas começando em 2015.Seguradoras de saúde estão se preparando e esperam que o novo período de inscrição tenha menos obstáculos que o primeiro. Nesse próximo período, espera-se um influxo de pessoas saudáveis e mais jovens se inscrevendo. O Congressional Budget Office projetou que 13 milhões de pessoas estarão inscritas em 2015.
Marcia da Silva relata que a A Security Insurance enfrentou uma grande demanda e entrou em um tipo de serviço “seasonal”, com mais trabalho na época da abertura dos mercados do governo.
Os clientes que se inscreveram também tiveram frustração ao tentar agendar consultas médicas em consultórios que também enfrentavam grande demanda, devido à expansão no número de assegurados, explica Marcia.
Desinformação
Marcia explica que ainda existe muita desinformação em relação ao “Obamacare”.“Durante a primeira fase, o maior mito que vimos é que as pessoas achavam que para se classificar para o subsídio tinham que ter uma renda bem baixa, o que não é verdade”, explica. “São aproximadamente 130 tipos de planos de saúde com diversas companhias e diferentes valores e qualidades”.
“Muitas pessoas da nossa comunidade que não sabiam que poderiam se dirigir a uma agência de seguros, foram aos hospitais para as inscrições, porém encontraram várias dificuldades, como a do idioma, e tiveram que esperar por várias horas”, disse Márcia. “A nossa agência reserva horário para a ajuda do preenchimento da aplicação do governo e escolha destes planos”.
Outro mito, segundo Márcia, é quando pessoas ligam dizendo que querem “comprar plano de saúde, mas de antemão dizem que não querem que seja o plano do governo (ou o ‘Obamacare’)”, relata. “Então nós explicamos que os planos de saúde não são do governo, e os serviços serão prestados por companhias de seguro de saúde particulares como a Humana, Cigna, Aetna, Blue Cross, entre outras”.
Disponível não somente para residentes e cidadãos
Segundo Márcia, o plano ainda permite que alguns imigrantes com certos tipos de vistos ou documentos, como a permissão de trabalho, se classifiquem, e não somente quem tem o green card ou cidadania.Para quem não está no país legalmente, Márcia explica também que há outros tipos de planos de saúde à disposição de qualquer pessoa.
Entre outros benefícios do “Obamacare”, Márcia diz que um dos principais é a eliminação da condição de saúde preexistente. Agora as seguradoras são obrigadas a receber pessoas doentes ou não, além dos exames de rotina sem custo.
“Infelizmente, nós ainda escutamos muitas pessoas que dizem que preferem pagar a multa por ter optado a não comprar plano de saúde”, disse Marcia. “Mesmo assim, creio que muitos serão inscritos neste segundo ano e estaremos à disposição”.