Mais de uma dúzia de brasileiros cometeu crimes nos EUA e estão livres no Brasil

Por Marisa Arruda Barbosa

tim ryan

Por causa de uma campanha pela extradição da brasileira Cláudia Hoerig, acusada de matar seu marido nos Estados Unidos em 2007, o deputado democrata, Tim Ryan, de Ohio, elaborou um projeto de lei a ser votado pelas duas casas do Congresso no mês de junho, que poderá afetar a vida de brasileiros que vivem nos Estados Unidos. Embora já tenha sido banido no passado, o projeto de lei que poderá impedir que green cards sejam emitidos para brasileiros preocupa autoridades.

Com o projeto de lei, o deputado pretende fazer uma represália para pressionar que o Brasil extradite a acusada. Acontece que entre as cláusulas pétreas da Constituição brasileira está uma que proíbe a extradição de seus cidadãos.

Em 2009, quando o governo americano pediu a extradição de Cláudia, o Itamaraty explicou essa situação da Constituição brasileira e ofereceu como alternativa a abertura de um processo judicial no Brasil contra a acusada.

Os EUA aceitaram. Mas, no ano seguinte, voltaram atrás sob o argumento de que Cláudia não era mais cidadã brasileira. Ela teria renunciado essa cidadania ao adotar a americana, em 1999. Segundo o Itamaraty, o Ministério da Justiça ainda não concluiu o processo de revogação da cidadania brasileira de Cláudia. Ela, portanto, continuará a ser tratada como nacional, protegida de pedidos de extradição. A opção do processo dela no Brasil continua válida, com base no Código Penal, mas teria de ser iniciado a pedido dos EUA.

Existe mais de uma dúzia de brasileiros que os Estados Unidos querem prender que estão na lista da Interpol, entre eles está a própria Cláudia, Elias Lourenço Batista, cujo caso especificamos abaixo e até famosos como Paulo e Flávio Maluf.

Veja alguns casos: 

Cláudia Hoerig Cláudia Hoerig é acusada de matar o seu marido, Karl Hoerig, oficial da reserva das Forças Armadas dos EUA que participou de 200 operações no Iraque e no Afeganistão. Segundo a acusação, Cláudia teria alvejado o marido no dia 15 de março de 2007, dentro de casa, na pequena vila de Newton Falls, no condado de Trumbull, em Ohio. Ela voltou ao Brasil no mesmo ano. Claudia foi casada com outro cidadão americano entre 1990 e 2000 e obteve a cidadania americana em 1999. Em 2005, casou-se com Hoerig. Em entrevista ao jornal carioca "Extra", em 2010, seu advogado, Antonio Andrade, disse que a cliente matou o então marido "em um momento de fúria, por maus-tratos e abuso sexual". Em seu site, o deputado democrata,Tim Ryan, tem como uma de suas maiores bandeiras a extradição de Cláudia para que ela seja julgada nos Estados Unidos.

Elias Lourenço Batista Elias Lourenço Batista é acusado de participar do crime que matou uma família de pastores brasileiros em Omaha, na Nebraska. José Carlos de Oliveira Coutinho foi recentemente julgado como o mandante do crime que tirou a vida de Jackeline, do marido Vanderlei e do filho de sete anos, Christopher Szczpanik, com a ajuda de Valdeir Gonçalves Santos e Elias Lourenço Batista. Eles teriam matado Vanderlei por espancamento e enforcado sua esposa e filho. Os corpos foram jogados no rio Missouri. Elias foi deportado para o Brasil antes que as investigações tivessem início, em 2010. Em entrevista ao jornal “Estado de Minas” em 2011, Elias disse da cidade onde mora em Minas Gerais, Ipaba, que não se apresentará voluntariamente a uma corte americana. “Não sei o que ocorreu com os meus patrões. A gente morava numa das casas deles na cidade de Omaha. Um dia, eles viajaram e não os vi mais. Não matei ninguém, mas não posso falar sobre os outros”, disse, fazendo referência à situação dos seus dois amigos que estão presos nos EUA. David Britto O ex-policial de Boynton Beach David Britto foi preso em junho de 2011 sob a acusação de posse e tráfico de 500 gramas de metanfetamina. Britto nasceu no Brasil, mas tornou-se tornou cidadão americano posteriormente. Quando estava em prisão domiciliar, Britto cortou a tornozeleira de monitoramento, conseguiu retirar uma autorização de retorno ao Brasil no Consulado Brasileiro de Miami sem que funcionários tivessem consciência de que ele estava sendo procurado e fugiu para o Brasil, que não extradita seus cidadãos. Britto já foi fuzileiro naval e policial do ano em Boynton, em 2010. Seu nome não está na lista da Interpol, mas na ocasião de sua fuga, a questão da não extradição de cidadãos brasileiros do Brasil veio à tona em noticiários locais.

Brasileiros na lista da Interpol

Oswaldo Rodrigues Lanna, 45 anos, de Minas Gerais, procurado por homicídio e posse de armas;

Sebastião Caixeta de Castro, 57 anos, de Goiás, procurado por agressão sexual;

Nilton Joel Rossini, 32 anos, procurado por fraude;

Luiz Antonio Ricardo, 45 anos, uso ou confecção de passaporte falso;

Samer Mehdi, 35 anos, de nacionalidade libanesa, paraguaia e brasileira, acusado de contrabando;

Davydson de Oliveira Soares, 35 anos, acusado de dirigir intoxicado;

Bernardo Katz, 53 anos, do Rio de Janeiro, acusado de fraude;

Walter Mangual Roberts, 64 anos, do Rio de Janeiro, acusado de abuso infantil e práticas sexuais perversas;

Milton Luiz Mecozzi Jr, 52 anos, de São Paulo, procurado por fraude de banco e tráfico ilegal de animais selvagens;

Milton Luiz Mecozzi Sr, 75 anos, de São Paulo, acusado por fraude de banco e tráfico ilegal de animais selvagens;

Emival Borges das Dores, 50 anos, procurado por conspiração de importar, fabricar e distribuir cocaína;

Flávio Maluf, entre outras acusações, procurado por possessão de propriedade roubada no valor maior que $1 milhão de dólares;

Francisco Luis Amaral, 60 anos, do Rio Grande do Norte, acusado de assassinato e sequestro;

Paulo Maluf, entre outras acusações, é procurado por possessão de propriedade roubada no valor maior que $1 milhão de dólares.

O que pensam brasileiros sobre o projeto de lei

Leitores dessa notícia no site do Gazeta News expressaram suas opiniões e de muitos brasileiros esperando pelo green card. “Na hora de se casar com o americano ela poderia ter dupla cidadania, mas rejeitou a brasileira. Agora quer se esconder no Brasil, o que está prejudicando milhões de brasileiros”, disse uma leitora, que se identificou como Leide. “Ridículo isso. Como pode fazer todos os brasileiros que têm a possibilidade de aplicar por um green card serem condenados por uma questão política?”, disse uma leitora, identificada como Alma. “Seria uma troca justa. Enviamos a assassina de um militar e eles nos enviam para Bangu um dos dois pilotos que mataram centenas de pessoas no avião da Gol que eles derrubaram”, disse o leitor identificado como Anderson Mendes, referindo-se ao choque entre um Legacy, pilotado por dois pilotos americanos e um Boeing da Gol, que em 2006 deixou 154 mortos na Serra do Cachimbo (MT), por um incidente no tráfego aéreo.