Marcelo Mello: Buraco sem fim

Por Marcelo Mello

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Semana passada foi anunciado que mais uma grande rede de lojas estrangeira encerrará suas operações no Brasil. Chegou a ter 32 lojas, agora está com 20 e, em breve, chegará a zero.

Dívidas impagáveis, ações trabalhistas inegociáveis, aluguéis atrasados e mais uma porção de problemas inviabilizam a continuidade da operação, segundo seus diretores.

É triste ver isso acontecer. Infelizmente, é o que mais se vê por lá. O Brasil está se tornando terra de ninguém. Não há respeito entre as pessoas, entre as empresas, entre as instituições, enfim, o país está num buraco e não para de cair.

Como costumo dizer, no Brasil o fundo do poço tem um ralo.

Até quando? Tecnicamente, o país quebrou. Mas um país não quebra, afinal, não é uma empresa. Entretanto, a população está perdendo o emprego, as taxas não param de subir, os políticos perderam a credibilidade que mal e porcamente um dia tiveram e esse cenário não tende a se alterar nos próximos meses, quiçá anos.

Esse modelo que o Brasil inventou, o modelo de legislar em causa própria é o pior sistema que existe, é óbvio, mas parece que não há ninguém preocupado com isso. Pelo contrário, essa política pública passou para o setor privado e por essa razão as pessoas, os gestores, não estão muito preocupados com o todo, com a coletividade, pelo contrário, estão preocupados apenas consigo mesmos.

Por falar em coletividade, o brasileiro jamais se preocupou com isso. Sempre foi assim e, pior, parece que sempre será. Sério, não dá para viver desse jeito. Uma hora a coisa vai apertar para todos. Hoje pode até ter gente se dando bem, mas a médio e longo prazo, isso tende a desmoronar. Pergunto novamente, até quando?

Adoraria ter uma resposta. A amigos que me procuram para conversar sobre seus negócios, tenho dito que alguma coisa precisa ser feita com urgência, mas seria preciso fazer uma análise profunda de cada caso. Não há uma resposta pronta que sirva a todos. Não há uma fórmula secreta que possa ser aplicada de modo generalizado. Infelizmente.

Aqui nos Estados Unidos, também ando vendo grandes redes desaparecerem, o que parecia sólido, na verdade, não passa de uma gelatina malfeita. Mas, aqui a coisa é diferente, não há interferência do Estado na economia como há no Brasil. Aqui a coisa é de gestão privada mesmo.

Andaram colocando no comando das empresas pessoas vindas do mercado financeiro, afinal, pensam os acionistas, quem sabe lidar com números, que sabem e cuidar de uma rede de varejo. Não, não sabe. Falo taxativamente sem medo de errar, não sabe e nem vão aprender. Gestores financeiros pensam em números e nada além. E, para administrar uma empresa, seja ela grande ou pequena, o mesmo vale para um país como o Brasil, é preciso muito mais.

O dinheiro é apenas um braço da coisa. Não o cérebro. Sinceramente, acho que o que falta é isso: massa encefálica. Sensibilidade. Falta uma visão ampla, falta olhar o “Big Picture” como se diz por aqui. Chega de olhar só para o próprio umbigo.