Marcelo Mello: Crescimento

Por Marcelo Mello

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Parece uma afirmação meio paradoxal, meio esquisita, mas é o que penso: Há que se ter muito cuidado ao planejar o crescimento de sua empresa.

Digo isso porque já vi muita gente quebrar a cara. Amigos, inclusive, e podem ter certeza, mais de um caso. Sem falar dos inúmeros que acompanhei à distância. Não é fácil crescer, e muitos o fazem sem planejamento algum. O fazem meio que no embalo, empolgados com números que mostram ser possível. Mas, números são frios e, por essa razão, podem ser traiçoeiros.

Numa análise simplista, o faturamento demostrado por números positivos de uma loja não quer dizer muita coisa a não ser que aquela loja vai bem. Claro que sinalizam que a empresa como um todo, ou marca, tem espaço para crescer; no entanto, há que se ter muito cuidado.

Lembro bem quando um amigo, lá no litoral norte do estado de São Paulo, abriu uma lanchonete que vendia comida árabe. Na pequena cidade de São Sebastião, não havia nada parecido e o sucesso estava pavimentado. E de fato aconteceu. Ele estourou em vendas e a população fazia fila na porta para consumir seus produtos, que eram muito, mas muito bons.

Só que cidade pequena tem teto. E esse teto não é muito alto. Há muitas variáveis que devem ser levadas em consideração, e esse meu amigo não levou. Menos de seis meses depois de abrir as portas, ele simplesmente fechou a loja para reformas.

Alugou o imóvel vizinho e ampliou, ou melhor, dobrou seu tamanho. Não levou em consideração que a novidade daria lugar à rotina e que, portanto, o teto de seu faturamento seria rapidamente atingido. Resultado? Menos de um ano depois, estava ele sem empresa, sem dinheiro, sem crédito e com dívidas até não poder mais. Triste, mas previsível.

Ele não precisava crescer naquele momento. Tinha que esperar, ter paciência. A novidade de seu business teria passado de qualquer jeito, mas se ele tivesse se mantido pequeno, estaria muito bem obrigado, tenho certeza.

Uma marca de roupas muito famosa de São Paulo teve em 2012 o ápice de seu faturamento. Ela possuía muitas lojas em todo o Brasil. O que fizeram suas donas? Simplesmente, em 2013, abriam 18 lojas. Um número absurdo para o Brasil, até mesmo para grandes franquias. O país é pequeno. Sim, o Brasil é pequeno em se tratando de consumo. Não há renda, não há população economicamente ativa. As pessoas basicamente trabalham para pagar contas, impostos, sobreviver. Não dá para crescer tanto assim com uma marca de luxo, não há espaço.

A estratégia – em minha opinião, a presunção de suas donas – deu no que deu. No final de 2014, a empresa estava endividada e elas venderam tudo para um fundo de investimentos a preço de banana. Banana podre, diga-se de passagem. O que era sólido como uma rocha se transformou em água.

Quando você, empreendedor, estiver pensando em crescimento, pense sim, mas pense com todos os cuidados do mundo. Seu sucesso até aqui não pode ser jogado no lixo. Você não merece isso.