Medo de deportação diminui denúncia de violência doméstica nos EUA

Por Gazeta News

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Autoridades policiais, advogados e ativistas que trabalham com vítimas de violência doméstica nos Estados Unidos afirmam que o número de denúncias diminuiu entre as mulheres imigrantes. Muitas delas, por não estarem legalmente no país e com medo de serem deportadas, preferem conviver com os abusos.

Desde a eleição presidencial, houve uma redução acentuada nos relatos de agressão sexual e violência doméstica entre os latinos nos EUA em geral, e muitos especialistas atribuem o declínio ao medo da deportação.

Autoridades policiais de várias cidades grandes, como Los Angeles, Houston e Denver, dizem que a mais perigosa consequência das mudanças nas políticas e das duras declarações sobre imigração é que menos imigrantes estão procurando a polícia.

O medo entre imigrantes aumentou depois de um caso em El Paso (Texas), em fevereiro, quando agentes do Departamento de Imigração e Alfândega (ICE) prenderam uma mulher momentos depois de ela receber uma ordem de proteção contra o homem que teria abusado dela. A Comissão de Direitos Civis dos EUA, uma agência independente bipartidária, pediu na semana passada que as autoridades federais reconsiderem suas táticas de detenção no tribunal. A agência disse que o caso do Texas e outras detenções judiciais estão tendo um efeito assustador nos imigrantes de todo o país.

O número de latinas que relataram casos de estupro em Houston caiu mais de 40% neste ano, em relação ao mesmo período do ano passado, segundo disse neste mês Art Acevedo, chefe do Departamento de Polícia de Houston (Texas). A queda "parece mostrar que as pessoas começam a não relatar crimes", acrescentou ele.

Em Los Angeles neste ano, os relatos de violência doméstica entre latinos caíram 10%, e os de agressão sexual, 25%, em relação a um ano atrás. Segundo o chefe do Departamento de Polícia, Charlie Beck, o declínio provavelmente se deve ao medo do governo federal. Dezenas de provedores de serviços e advogados entrevistados disseram que as mulheres imigrantes estão decidindo não denunciar abusos ou prestar queixa.

Segundo a diretora-executiva da Sociedade de Ajuda Jurídica do Condado de Orange, na Califórnia, Kate Marr, onível do medo hoje, porém, é diferente de tudo o que a diretora já viu em quase duas décadas de trabalho com sobreviventes de violência doméstica."Sempre dissemos às nossas clientes que mesmo que não tenham documentos não precisam se preocupar, pois a polícia irá protegê-las", mencionou.

O capitão James Humphries, que supervisiona a Divisão de Investigações de Vítimas Especiais em Montgomery, no estado de Maryland, percebeu a drástica diminuição no condado, onde os imigrantes formam uma grande porcentagem da população. Sua unidade recebeu aproximadamente a metade das ligações de ataque sexual e violência doméstica neste ano, em relação ao mesmo período do ano passado, segundo ele.

O Conselho de Violência Doméstica do Condado de Los Angeles costumava receber meia dúzia de telefonemas por semana, com pelo menos a metade de falantes de espanhol. Mas desde janeiro só recebeu duas ligações, segundo Olivia Rodrigues, diretora-executiva. "Isso não é normal", disse Rodriguez. "Elas pensam que se chamarem um órgão do governo está tudo conectado, que elas serão denunciadas ao ICE e mandadas embora. Então elas simplesmente aguentam a violência”, ressalta.

Caso brasileiro

[caption id="attachment_143247" align="alignleft" width="277"] Kariza teve dentes e maxilar quebrado depois da agressão do ex-marido em outubro do ano passado. Foto: arquivo pessoal.[/caption]

Embora seja uma imigrante legalizada nos Estados Unidos, a fashion designer brasileira Kariza Fernandes, 35 anos, natural de Goiânia, que mora em Bay Harbor (FL), foi agredida por seu ex-marido em outubro do ano passado e decidiu denunciá-lo. Ele foi preso e ela hoje trabalha em prol de ajudar outras mulheres que sofrem com qualquer tipo de violência.

“Acredito que, primeiramente, essas mulheres têm que perder o medo e lembrar que elas têm o suporte de vários órgãos do governo, inclusive do consulado brasileiro e associações. É nisso que é pretendo focar meu trabalho porque, com minha experiência, percebi que muitas não sabem a quem e como elas podem recorrer. Por exemplo, aqui nos Estados Unidos existem abrigos específicos que recebem mulheres, inclusive com filhos, que estão sob ameaça e não têm pra onde ir. E não importa se elas estão aqui legalmente ou não, o objetivo é protegê-las e não acredito que dali ou por denunciarem serão deportadas”, declarou.

Com informações do The New York Times.