Medo de instabilidade política e econômica faz mais brasileiros pensarem em morar na Flórida

Por Marisa Arruda Barbosa

miami brasileros 2 foto cc- emilio labrador

Já não é novidade que o sul da Flórida encanta os brasileiros, que estão entre os maiores investidores em imóveis na região. Mas segundo novos dados de diferentes fontes, revelados esta semana, o “êxodo” de brasileiros para os Estados Unidos está aumentando ainda mais de alguns meses para cá.

Uma reportagem publicada esta semana no “Wall Street Journal” citou que, além de problemas como a violência e corrupção, os brasileiros ricos estão investindo mais nos EUA desde a reeleição da presidente Dilma Rousseff, em outubro do ano passado.

Nos meses recentes, “muitos brasileiros reagiram à reeleição da presidente procurando fixar raízes de longo prazo na Grande Miami e, em menor grau, em Orlando, Nova York e Boston”, diz o texto do “WSJ”.

Flávio Macedo, dono da Omega Executive Services, que oferece serviços de transporte e de concierge – administração de propriedades – em Miami, serve como a “primeira parada” dos brasileiros interessados em investir, comprar imóveis e imigrar para a região. “Eles fazem perguntas como, onde é bom investir, pedem indicação de corretores e advogados, etc”, conta. “Creio que a procura tenha crescido 40% do ano passado para cá”.

Além do investimento em serviços e a transferência de empresas, brasileiros da classe alta estão em quarto lugar entre os estrangeiros que mais compram nos Estados Unidos, segundo dados de dezembro da National Association of Realtors, uma das maiores associações do mercado imobiliário norte-americano. Macedo diz que seus clientes geralmente buscam comprar nas áreas mais caras de Miami, que vai de Brickel a Aventura.

Além disso, Macedo administra propriedades de seus clientes brasileiros. No momento, ele cuida de duas casas luxuosas, em Key Biscayne, e 10 apartamentos, incluindo o do cantor Roberto Carlos, em Fort Lauderdale. “O Roberto Carlos já viajou o mundo todo, mas elegeu Fort Lauderdale como sua cidade preferida. Ele fica encantado quando vem para cá”, relata.

Tipos de clientes A corretora Lana Favero, da Riviera Real Estate Corp., em Aventura, e dona também da Riviera Brasil, que além da venda de imóveis oferece serviço de concierge, explica que existem dois tipos de clientes: aqueles que ficaram inseguros com a alta do dólar e estão tendo dificuldades em fazer o pagamento e manter as propriedades compradas em Miami. Esses clientes querem alugar ou vender suas propriedades. E há o segundo caso, daquele que quer comprar novas propriedades, só que com duas situações financeiras: os ricos e os que, com a alta do dólar, querem comprar algo mais modesto e não somente os apartamentos luxuosos de Brickel.

Nos casos mais modestos, esses brasileiros têm buscado propriedades em Weston, que mesmo longe da praia, tem boas escolas, disse a corretora.

Visto A advogada de imigração Ingrid Domingues McConville, de Fort Lauderdale, diz que recebe um número crescente de ligações e e-mails de pessoas querendo informações sobre formas como imigrar para os Estados Unidos.

As duas opções de vistos mais procuradas por brasileiros que querem viver nos Estados Unidos são: o EB5, para quem pode fazer um investimento alto de $500 mil ou mais, e o L1-A, que Ingrid indica como a opção que mais tem atraído brasileiros. “Em 2013, meu escritório fazia em média um L1A por mês; em 2014, fazíamos de dois a quatro por mês. Agora acredito que em 2015 teremos de dois a quatro por semana”, prevê a advogada.

A corretora Lana Favero diz que procura orientar seus clientes com todas as informações. “Há muitos que querem investir em imóveis para reformar e revender, sem a intenção de imigrar. Mas vejo que aquele que realmente quer imigrar tem o pé no chão antes de fazer qualquer decisão. Não vi nenhum caso, até hoje, de alguém que tenha comprado imóvel e vindo morar para ficar ilegalmente. Procuro orientar essas pessoas que a vida aqui não é tão fácil quanto parece”.

Lana disse que no Carnaval irá receber dois clientes interessados em ver de perto a realidade. “Eles têm a intenção de morar aqui por um ano, alugando uma casa e colocando os filhos para verem como será a adaptação”, disse. “Nesse caso, eles buscam um visto de estudante temporário”.

“Com o valor do dólar a quase R$ 3, vejo que as pessoas estão parando para ver onde as coisas irão chegar”, disse a corretora. “Ainda há muita especulação, mas acho que nos próximos meses veremos se realmente receberemos tantos brasileiros assim”.

Advogada vê aumento da procura pelo visto L1A

Com um aumento no interesse pelo visto L1A, a advogada Ingrid Domingues McConville explica o seu funcionamento.

“O L1A não exige um investimento específico, mas algo de acordo com o plano de negócio do empresário ligado à empresa-mãe no Brasil”, explica. “O investimento do L1A pode começar entre $60 e $70 mil dólares para pequenas empresas e deve seguir um plano de negócios da empresa, que é a base do visto”.

Segundo a advogada, o visto L1A é um “bom veículo para o brasileiro empresário que queira estabelecer-se nos EUA com uma filial da sua empresa matriz no Brasil”, explica.

Ingrid conta que tem recebido uma média de seis a 10 telefonemas ou e-mails por semana de famílias brasileiras interessadas em se mudar e abrir uma empresa nos EUA.

“As perguntas mais comuns que recebo são: o que realmente é o visto L1? Quem se qualifica? Pode resultar em residência permanente?”, explica.

O visto L1A é um visto de não-imigrante que permite que uma empresa estrangeira abra uma filial nos EUA e transfira um de seus executivos para a nova filial para levar em frente as operações nos EUA.

O visto proporciona ao empresário (ou funcionário) a capacidade de vir aos EUA para trabalhar na nova filial.

Uma vez aberta, a empresa deve preparar um plano de negócios, feito por um profissional, e que será a base do processo com a Imigração. A Imigração irá julgar cada passo da empresa e ver se está indo de acordo com o plano.